Imprensa

Coca Cola e Tubaína

DANIEL LIMA - 15/04/2009

É claro que Walter Santos não é o autor material, mas inconsequente “autor intelectual”, com perdão da expressão, do editorial da segunda edição da revista Livre Mercado sob o comando da Best Work Consultoria Tributária. Walter Santos não sabe nem tem obrigação de escrever razoavelmente, porque não é do ramo. Recuperador de tributos dos mais competentes, Walter Santos é principiante — para ser generoso, porque analfabeto lhe caberia sob medida — em comunicação. Infelizmente, não se dá conta disso.

Na edição deste abril, Walter Santos discorre sobre a repercussão do que chama de “nova” Livre Mercado. Nada mais justo que transmita aos leitores a versão institucional do produto. Pena que a estratégia não se dê no espaço adequado, em forma de anúncio, porque, ao menos nesse ponto, não ridicularizaria a linha editorial nem assinaria literalmente um atestado público de incompetência negocial.

O que pergunto a Walter Santos, e o faço publicamente, e o faço como um desafio a um debate em qualquer instância institucional, qualquer uma, é o que ele pretendeu dizer com a expressão “linha editorial carimbada”, ao se referir aos 19 anos de LivreMercado, marca que ele, avidamente, adquiriu numa operação realizada no final do ano passado.

O que significa linha editorial carimbada para quem não tem sequer noção da história de LivreMercado, alguém que simplesmente desconhece as conquistas editoriais, a ousadia, a contundência, a solidariedade, a responsabilidade social da publicação ao longo dos anos?

O que um recuperador de tributos entende de linha editorial para sair atirando publicamente contra o produto que ele adquiriu e, mais que isso, avalizou em campanha promocional de outdoor que adotou o slogan de “melhor revista regional do País”?

Pena que a “melhor revista regional do País” já não exista mais. O que está sendo distribuído na praça é outra coisa.

LivreMercado (assim, sem divisão) era uma coisa. Livre Mercado (com divisão) é outra coisa.

É claro que Walter Santos fugirá da raia. Seu estilo é de diplomacia marota, de suavidade programada, embora cometa deslizes imperdoáveis microfone à frente, como o fez durante os coquetéis de apresentação do novo produto. Nos bastidores, Walter Santos também é bem diferente do que se apresenta nos relacionamentos corporativos. Nada mais sintomático do perfil do empresário do que a identidade visual de um e outro articulistas convidados por Livre Mercado para ocupar as páginas editoriais. Reparem bem e vejam como as fotos preencheriam os requisitos de uma novela da TV Globo recentemente encerrada.

Walter Santos não reproduzirá as intenções recônditas com que procura desvalorizar o passado da publicação que inclusive o alçou à Reportagem de Capa em meados do ano passado. Aliás, a reportagem o fez constatar o grau de credibilidade e abrangência de LIvreMercado. Uma enxurrada de empresas interessadas em recuperação tributária invadiu os computadores da Best Work. Partiu daí, inclusive, o interesse por LivreMercado. Seria aquela reportagem, como tantas outras ao longo da história da publicação, dos bons tempos da publicação, resultado de uma linha editorial maliciosamente chamada de carimbada?

Que carimbo, nesse caso, mereceriam Walter Santos e a Best Work? Aliás, pensando bem, em matéria de carimbo, de carimbo sem metáfora, a Best Work e Walter Santos são receptadores contumazes num determinado mercado comercial. Exatamente num mercado comercial como o qual sempre tive relações estáveis e seguras, de carimbos inexistentes como pessoa física e também como pessoa jurídica, da Editora Livre Mercado, até a assinatura do termo de cessão da marca e de responsabilidades financeiras à Best Work.

Não pretendia tomar mais meu tempo e também o tempo dos leitores com uma revista com a qual não tenho mais sequer relação sentimental. Francamente, não tenho vocação a culto necrológico, exceto a gente muito querida. Entretanto, é impossível silenciar-me diante de evidente tentativa de um editorialista desastrado cantar de galo no Grande ABC. Por mais que entenda que seus interesses são exclusivamente mercantis, legítimos num regime democrático e capitalista, não posso quietar-me diante de uma ação desrespeitosa com óbvios objetivos de demarcação de terreno. Provavelmente Walter Santos não esperava tropeçar num mataburros.

Talvez a provocação de Walter Santos seja, portanto, uma forma de vitimizar-se para justificar complicações corporativas.

Por fim, fica um recado direto e reto a Walter Santos: toda vez que se meter a depreciar sem consistência e clareza os 19 anos de um produto pelo qual se encantou e fez de tudo e mais um pouco para obter o controle, receberá o devido troco. A recomendação não pode ser entendida como ameaça, mas como um conselho. É a melhor maneira de salvá-lo de exposição pública autodestrutiva. LivreMercado jamais foi blindada contra críticas de leitores. Muito pelo contrário. Mas jamais aceitou provocações rasas e maliciosas de quem não entende bulhufas de comunicação e de Grande ABC.

Walter Santos se proclama grande empreendedor e é provável que o seja mesmo em outras áreas, mas no jornalismo, que vai muito além do resultado dos balanços, precisa aprender muito.

Afinal, só Freud explica a tática de Walter Santos depreciar e substituir por algo completamente diferente uma publicação pela qual se apaixonou como adolescente no cio. O dono da Best Work simplesmente adquiriu uma fábrica da Coca Cola, repaginou a embalagem e, besteira das besteiras, engarrafou Tubaína.

Não seria mais inteligente ter construído a fábrica de Tubaína?


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