Quando produzi série de matérias condenando o distanciamento curricular e pedagógico da Universidade Federal do Grande ABC em relação à região em que está instalada, multiplicaram-se acusações de que estava aliado aos conservadores — tucanos e assemelhados.
Quando escrevi série de matérias dando conta do financiamento irregular da campanha que levou o prefeito Aidan Ravin ao Paço Municipal de Santo André, os conservadores se revoltaram. Disseram que estava a serviço do PT quando, de fato, a bateria de acusações que mais tarde acabaram ajustadas a acordos entre as partes partiu dos próprios aliados do candidato vencedor.
Quando decidi ouvir o Conselho Editorial de LivreMercado (então sob minha direção editorial) para definir se publicaria ou não a denúncia de suposto assédio sexual de um pré-candidato a uma das prefeituras do Grande ABC, acusaram-me de fazer um jogo da direita ou da esquerda, supondo-se que o pré-concorrente fosse da direita ou da esquerda.
Quando cansei de escrever sobre a mais que evidente desindustrialização do Grande ABC, acusaram-me de antirregionalismo, de derrotista, dessas coisas que procuram desclassificar o autor do texto e também desconsiderar os números e os fatos que o tempo, infelizmente, tratou de confirmar.
Quando alertei que os pequenos negócios do Grande ABC comeriam o pão que o diabo amassou com a chegada dos grandes conglomerados comerciais, disseram que era provinciano, embora o mundo civilizado em peso aplique medidas compensatórias para mitigar a repercussão do impacto de concorrência.
Quando defendi a atualização monetária do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) como rescaldo dos novos tempos de desindustrialização e de adequação dos valores à realidade geoeconômica dos moradores, os demagogos de plantão correram aos jornais para execrar o prefeito Celso Daniel, mas se omitiram deliberadamente em iniciativas análogas dos demais prefeitos.
Quando projetei que o comércio e os serviços de pequeno porte tipicamente familiares iriam ser sacudidos por conta do excesso de estabelecimentos dirigidos por novatos egressos das fábricas demissionárias de trabalhadores, na esteira da reestruturação produtiva, muitos deram de ombros, acreditando numa infindável capacidade de o Grande ABC criar riquezas, como se fosse a Terra Prometida. Deem uma espiada e vejam qual é o perfil dos pequenos negócios na região. Qualquer semelhança com o Terceiro Mundo não é mera coincidência.
Quando escrevi e mais tarde provei que não havia razão alguma para o Grande ABC chiar contra os valores dos seguros de veículos porque, relativamente a centenas de municípios do Interior, muito menos vulneráveis a furtos e roubos, além de acidentes, pagávamos bem menos, me espinafraram porque não estava aliado a uma causa supostamente regional, como se origem territorial devesse abrir as portas da insensatez.
Quando coloquei na Reportagem de Capa de LivreMercado, há mais de uma década, que era preciso mesmo civilizar o trânsito no Grande ABC, apoiando, portanto, a política de segurança adotada pelo governo de Celso Daniel, algo que o tempo tratou de mostrar que estávamos absolutamente certos, mais não disseram os detratores de sempre sobre minha suposta relação com o PT de Santo André porque provavelmente faltou saliva entre os dentes.
Quando coloquei o deputado estadual Orlando Morando na Reportagem de Capa de LivreMercado, ano passado, e, com substância informativa, justifiquei a medida com as ações do tucano à frente dos parlamentares da região no tratamento das obras do trecho sul do Rodoanel, alardearam os petistas e os sindicalistas que estava afinadíssimo com o concorrente ao Paço Municipal de São Bernardo.
Quando publiquei, também na Capa de LivreMercado, resultados de pesquisas eleitorais que colocavam Vanderlei Siraque, Luiz Marinho e Oswaldo Dias como favoritos do segundo turno das últimas eleições, com base em pesquisa de empresa especializada a 10 dias da disputa, procuraram desconstruir o trabalho por conta do resultado inesperado obtido por Aidan Ravin, fruto de uma escalada extraordinária nos últimos dias, surpreendendo inclusive o poderoso Ibope em pesquisa publicada às vésperas da eleição.
Quando publiquei, então como diretor de Redação do Diário do Grande ABC, uma informação exclusiva, de que a saúde do prefeito Luiz Tortorello estaria debilitada, só faltou me jogarem no fosso dos insensíveis, desprezando-se o conhecimento de bastidores de quem sabia de antemão que o comandante da Prefeitura de São Caetano não emplacaria o ano seguinte, vítima de insidioso câncer.
Quando escrevi, lá atrás, quando o Grande ABC produzia carroças automotivas, que a decantada qualidade da mão-de-obra manufatureira da região era um embuste, porque se confundia cultura industrial com qualificação técnica, só faltou a Igreja me excomungar e os sindicalistas armarem barracos em frente à minha residência. Estaria este jornalista a soldo dos empresários para enfraquecer a categoria dos metalúrgicos nas negociações trabalhistas.
Quando escrevi, também lá atrás, depois de rigorosa pesquisa, que o fator sindicalismo no Grande ABC não se diferenciou do fator sindicalismo na Capital na equação que constatou a perda de produção industrial nas duas áreas, os conservadores me viram como suspeitíssimo colaborador das lideranças metalúrgicas de São Bernardo.
Quando denunciei as terríveis perdas econômicas do Grande ABC durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, naquele que foi o período mais sofrido deste espaço geográfico, os direitistas viram naqueles números não um escândalo de omissão coletiva do Grande ABC, mas a ferramenta desarmonizadora de alguém que teria a obrigação de esconder as más notícias.
Quando escrevi o livro Complexo de Gata Borralheira para retratar, de forma inédita, entre outros vetores, o comportamento psicossocial do Grande ABC em relação à vizinha e pujante capital paulista, um coro seletivo mas ensurdecedor de triunfalistas improdutivos me jogou nas trevas de corporações interessadíssimas em tapar o sol com a peneira.
Quando disse, entre muitas ocasiões públicas em que me manifestei, que não passava de balela a chamada regionalidade do Grande ABC, porque de fato, de fato, somos sete pedaços municipais que se fingem de parceiros, os empedernidos municipalistas que tentam vender a mentira da integração regional fizeram até complô para tentar dificultar o prosseguimento da revista LivreMercado.
Quando resolvi ir adiante e, contrariando todas as informações superficiais carregadíssimas de interesses políticos e partidários, provei por todos os ângulos que a morte do prefeito Celso Daniel foi ocasional, sem qualquer relação com a suposta rede de propinas na Prefeitura de Santo André, os conservadores que acreditam piamente no jornalismo da grande imprensa, como se a grande imprensa não tivesse interesses escusos, organizaram em surdina uma campanha na tentativa de desmoralizar um trabalho que não era propriamente deste jornalista, mas das fontes seguras que ouviu, de fontes policiais diretamente ligadas à apuração do caso.
Quando escrevo que o Grande ABC tem craques individuais mas não consegue montar uma equipe que prime pela regionalidade nos mais diferentes ambientes, ressurgem das cinzas da enganação em que se meteram ao longo dos anos os detratores que insistem em tentar me derrubar.
Quando resolvi organizar o Prêmio Desempenho e, contra o ceticismo geral que dava o evento como furo nágua porque se cristalizaria, como nos assemelhados, a indiferença e a desconfiança de troféus encomendados, respondi com critérios de transparência, coletivismo e auditorias externas, calando a boca dos inúteis de sempre.
Quando em reiteradas ocasiões a situação econômica e social do Grande ABC pós-Plano Real foi levada à Reportagem de Capa de LivreMercado, sempre com abordagens diferenciadas, ouviu-se a estridência apaixonada do coro dos revoltosos que querem porque querem manter-se como privilegiados em meio ao caos.
Quando escrevi que o trecho sul do Rodoanel é uma faca de dois gumes, porque tanto pode trazer como levar riquezas de um Grande ABC de logística interna caótica, de novo não faltaram os opositores cegos de raiva e chulos de inteligência, muitos dos quais especuladores imobiliários que procuram uniformizar a linguagem de oba-oba da mídia mais permissiva e mais sem-vergonha.
Quando critiquei com insistência que o Fórum da Cidadania estava derivando demais e a multiplicação temática somada ao gigantismo assembleístico, entre outras enfermidades, o levaria à bancarrota, quase fui agredido por um dos coordenadores-chave. Mais tarde, com novo coordenador, acabei homenageado publicamente.
Quando, como agora, tudo isso, que é apenas uma pequena parte do muito que já mereceu minha atenção, me vem à cabeça, sinto forças suficientes para deixar a banda dos imprestáveis passar e agradecer a Deus pela oportunidade de honrar uma profissão tão desmoralizada e tão mesquinhamente ocupada por gente que a transforma em salvo-conduto para ambições desmesuradas e vassalagem vergonhosa em nome de interesses que estão completamente longe do jornalismo de verdade e, principalmente, dos anseios da sociedade silente que se deixa representar por muitos oportunistas de plantão.
