Imprensa

Movimentando a comunidade

DANIEL LIMA - 03/08/2009

Primeiro, “Entrevista Coletiva”. Agora, “Conselheiro Analisa” e “Entrevista Especial”. É assim que, gradual e consistentemente, vou dando sequência ao trabalho jornalisticamente revolucionário com um grupo de mais de duas centenas de profissionais de diferentes áreas no Grande ABC.

Depois de recepcioná-los no Conselho Editorial da revista LivreMercado que dirigi por 19 anos, transfiro-os ao Conselho Editorial do portal CapitalSocial, publicação virtual que também terá versão impressa.

Diferentemente do que imaginam os imprudentes e apressados, os integrantes do Conselho Editorial agora da marca CapitalSocial não se encontravam apenas nas festas anuais do Prêmio Desempenho.

A realidade é que formavam a instância máxima de decisões. Eles é que escolhiam por votos e notas quem seriam os melhores da temporada, tanto corporativos quanto individuais.

Ao longo de 19 anos de atuação editorial na revista LivreMercado, os conselheiros editoriais atuaram de forma mais abrangente. Até decidiram, como se sabe, se a publicação formalizaria ou não a denúncia de um caso de assédio sexual. Foi graças à intervenção de conselheiros com formação jurídica que LivreMercado abriu mão da denúncia, embora reunisse documentos e testemunhas. O problema, bem lembrado por vários especialistas, é que não havia denúncia formal em qualquer instância legal. Ou seja: não havia registro do suposto crime.

Diferentemente do atual responsável pela publicação que dirigi por tanto tempo, que exibe a lista de conselheiros numa das páginas da publicação apenas para transmitir a sensação de interatividade editorial, os conselheiros agora instalados no portal CapitalSocial não devem jamais ser tratados como peças de decoração.

Por isso, mesmo numa etapa de transição profissional, este jornalista não abre mão de compartilhar idéias, propostas, análises, opiniões e o que mais for possível. Aliás, a expressão “mesmo” não cabe na frase. O correto é “principalmente”, porque não se deve jamais abandonar uma fórmula de tanto sucesso. Principalmente depois que uma parcela desses conselheiros, acreditando na continuidade do projeto que lancei em 1990, prestigiou duas festas seguidas do novo comandante da publicação.

Por isso, após lançar as bases de uma das idéias que me surgiram nas rotineiras corridas de começo de noite, no caso “Entrevista Coletiva”, estamos avançando mais em direção ao jornalismo comunitário. Resolvemos criar uma nova instância de relacionamento com advogados, médicos, jornalistas, professores, empresários, executivos, assistentes sociais, executivos públicos, políticos e tantos outros espectros sociais e econômicos representados no Conselho Editorial.

Agora chegou a vez do “Conselheiro Analisa”. Sim, CapitalSocial vai reunir os integrantes do Conselho Editorial que decidirem se manifestar sobre as mais variadas questões relativas ao Grande ABC. Como o portal terá variedade temática abrangente, sem se perder, entretanto, na falta de foco, o primeiro temário a que estão sendo convidados os conselheiros pretende saber a avaliação individual sobre a ausência de um Conselho Consultivo no Clube dos Prefeitos.

Sim, por que o Clube dos Prefeitos insiste em ser um clube fechado. Por que não abre espaço para a sociedade regional manifestar-se permanentemente?

Não sabem os prefeitos o quanto estão perdendo com a ausência de representantes da sociedade que poderiam atuar como assessores voluntários. Não chego ao otimismo exagerado de dizer que todos os problemas de enfoque estariam sendo resolvidos, porque nem no Conselho Editorial que coordeno se chega perto disso. Mas a vantagem de distribuir poderes a um agrupamento de pessoas é que o peso da responsabilidade em determinadas questões passa a ser dividido. As diferenças são mitigadas. As vantagens relativas crescem. Os ganhos de escala aparecem.

Muitas de intervenções como jornalista decorrem da atuação do Conselho Editorial. Mesmo reconhecendo que há determinada faixa de conselheiros que não tem assiduidade maior, aqueles que marcam presença mesmo que virtual, por meio da internet, são extraordinários companheiros de trabalho.

Não seria diferente no Clube dos Prefeitos. Ou alguém duvida que é impossível, nestes tempos de correria e de implacável transtorno do sistema viário, encontrar uma fórmula mais adequada para integrar-se a diferentes segmentos da sociedade senão o encontro marcado a qualquer momento num monitor de computador?

O Clube dos Prefeitos poderia seguir o figurino que desenhei como jornalista e mesclar a participação da sociedade em ambientes reais e virtuais. Para que não se perca tempo com derivações, porque não se deve esquecer que há compulsão a agarrar o mundo, nada melhor que uma agenda temática para que a participação seja racionalizada e produtiva. Está assim, por exemplo, no “Conselheiro Analisa”.

Aliás, “Conselheiro Analisa” é desdobramento do projeto “Entrevista Coletiva”, em fase de execução para o portal Capital Social. A iniciativa, inédita no jornalismo brasileiro, está configurada numa série de ações que democratizam a participação de entrevistadores e entrevistados.

Aos entrevistadores, no caso os conselheiros de CapitalSocial, competem a formulação do questionário e a própria escolha do entrevistado. A primeira leva de entrevistados decorreu de relação com 52 nomes indicados pelos conselheiros. Os cinco mais votados passaram para a próxima etapa, da entrevista propriamente dita.

O terceiro vértice das novas iniciativas chama-se “Entrevista Especial”. Nesse caso, caberá mesmo a mim a formulação de perguntas que serão enviadas também por email a profissionais cujos conhecimentos precisam ser colocados mais rapidamente à disposição da audiência de CapitalSocial, sem, portanto, passar pelo escrutínio democrático de “Entrevista Coletiva”.

Aliás, audiência de CapitalSocial que será herdada deste blog e também de pelo menos uma década de interatividade virtual com leitores que me acompanharam à frente de LivreMercado.
Por que tudo isso?

Primeiro, porque não sei fazer outra coisa senão ser jornalista. Na verdade, sou um profissional sem profissão desde que o Supremo Tribunal Federal, numa decisão desvairada, acabou com a obrigatoriedade de se contratar jornalista profissional.

Segundo, porque preciso trabalhar.

Terceiro, porque sou adepto incondicional da pluralidade opinativa, por mais que — e não escondo meus sentimentos – tenha horror à deformação informativa.

Quarto, porque sou teimoso: ao contrário de tanta gente que comenta nos bastidores que a sociedade do Grande ABC é uma lástima em termos de participação, insisto na idéia de que tudo é questão de tempo, de oportunidade e de responsabilidade.

Foi pensando assim, aliás, que, ao assumir a direção de Redação do Diário do Grande ABC em 2004, cargo no qual fiquei por nove meses, montei um Conselho Editorial com 101 representantes da sociedade.

Foi assim, aliás, que por duas oportunidades, contanto com o suporte da jornalista Maria Luisa Marcoccia, lançamos edições épicas de “Nosso Século XXI”, a maior obra coletiva já produzida no Grande ABC.

E foi pensando assim que durante 15 anos coordenei o Prêmio Desempenho, antítese do lugar-comum de que eventos do gênero são todos cartas marcadas.

Desde os 14 anos de idade o jornalismo é minha vida. Não sou um oportunista, fanfarrão e falastrão que acredita que basta oferecer um coquetelzinho para embasbacados convidados que tudo estará garantido.