Imprensa

Para que revistas?

DANIEL LIMA - 10/11/2009

Quando escrevi “Revistas para que?” imaginava dois tipos de reação. Um de apoio total e irrestrito; outro, de oposição e de correlacionamentos subjetivos, principalmente de ordem psicológica.

Acertei na mosca. Por isso insisto no assunto e retomo o título original, invertendo a ordem sem alterar a essência do enunciado.

Para que revistas?

Quase todas as publicações comercialmente voltadas para o Grande ABC mas que de Grande ABC não sabem absolutamente nada, ou quando imaginam que sabem apenas se prestam a lustrar o ego de quem geralmente paga para ocupar os espaços, queimam sim florestas com amontoado de inutilidades.

Esse tipo de colunismo social disfarçado de jornalismo supostamente de celebridades pode enganar os incautos, os leigos, mas quem é do ramo não passa batido.

Escrever sobre mazelas do jornalismo, principalmente do conteúdo em frangalhos, não é exercício recente deste jornalista. Só os leitores de última chamada assim o imaginam. O livro “Meias Verdades”, lançado num primeiro de abril de 2003, foi todo organizado para denunciar incompetências do jornalismo impresso.

Disponho de tanta matéria prima que se me predispusesse a publicar pelo menos mais três versões, encontraria dificuldades porque teria de selecionar arduamente. Há abundância de exemplares em cada pasta, de “A” a “Z”.

Por isso, podem me imputar qualquer tipo de restrição, pessoal ou profissional, mas a pecha de corporativista tiro de letra. Pelo menos quando corporativismo tiver o significado de desdenhar o interesse público.

A diferença entre este jornalista que se mete a analisar o jornalismo e a atuação de profissionais de outras áreas é que não tenho medo de me expor, não faço das coxias meu campo de batalha. A sociedade é o palco ao qual me dirijo transparentemente, porque essa é minha função social. Independente de juízo de valor, faço em público o que a maioria se lambuza nos bastidores.

A diferença, portanto, é que sou um idiota, e todos os demais, espertíssimos.

Os leitores têm todo o direito de esquadrinharem meus sentimentos e meus valores, fiando-se no senso de avaliação que julgarem mais adequados, mesmo sob o risco de confundirem alhos com bugalhos. Só não podem pretender como resposta o silêncio politicamente correto. Não navego nessas águas.

O fato de ter cedido a marca “LivreMercado” à Best Work Assessoria Empresarial é citado como eventual motivação do texto anterior — e provavelmente deste. Pura bobagem.

Fosse de fato esse o meu calcanhar de aquiles, não cometeria a estultice de potencializá-lo. Exatamente porque a revista “Deus me livre” não me diz nada desde que a passei adiante, estou muito à vontade para seguir escrevendo sobre jornalismo.

A LivreMercado que dirigi editorialmente do nascedouro ao túmulo durante 19 anos (ou os leitores acreditam que essa porcaria que está no mercado tem alguma coisa a ver com a LivreMercado que concebi?) representou de fato o sucesso do empreendimento.

Querem saber por quê? Ora, porque no mundo inteiro fecham-se publicações, jogam-se às baratas os títulos, e este jornalista se despediu com um sabor especial porque, embora jamais tenha sido profissional de negócios, repassou um produto por valores contratuais que sintetizavam a valorização da marca ao longo dos tempos.

A Best Work que não é boba nem nada, muito pelo contrário porque dá nó em pingo d’água, pagou bem (ou deveria pagar bem, porque tem por norma procrastinar compromissos até o limite da paciência) para ter o direito de uso de uma marca que este jornalista, com sua equipe de profissionais, soube valorizar durante todos os anos.

Se Walter Sebastião dos Santos, o dono da Best Work, comprou Coca Cola e passou a vender Tubaína, como é o caso, o problema é dele. E dos pobres leitores que, induzidos pela marca, caem na armadilha de comprar gato por lebre.

Tanto “Revistas para que?” como “Para que revistas?” não foram preparados diretamente para a “Deus me livre”, porque não preciso de artifícios para eventuais estocadas em endereço individualizado. “Deus me livre” não está sozinha no mercado regional de bobagens impressas em forma de revista. Apenas é a mais decepcionante, porque saiu de um patamar de qualidade editorial que nenhuma outra publicação do gênero atingiu em qualquer região do País, e se afundou na substituição da discrição pelo provincianismo gráfico e na troca da excelência textual por infantilidades de principiantes.

E para que não reste uma ponta de dúvida sobre meu momento atual, asseguro que jamais me bateu qualquer sentimento de decepção com as duas décadas em que comandei a Redação de LivreMercado. Muito pelo contrário: tenho orgulho do que produzimos com uma equipe de jornalistas que aprendeu a fazer revista e cujos frutos estão enriquecendo a cada dia este site. Entretanto, da empresa que editava LivreMercado, razão única da cessão da marca, o que mais quero de verdade é congelá-la em algum cantinho da memória, sem direito a derretimento da camada cerebral.


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