Em dezembro de 2016 escrevi um artigo de alerta aos prefeitos eleitos dois meses antes sobre a importância de olharem para valer o desenvolvimento econômico. Dei como exemplo, expresso no título “Sorocaba vira jogo econômico contra Santo André em 12 anos” uma situação real, pesquisada por mim porque todos sabem que não brinco em serviço. Tanto quanto não tenho político de estimação, político de indiferença ou político de perseguição.
Político para mim é um agente especial da sociedade, sobre o qual pesam cobranças permanentes. Aliás, eles sabem que são vitrines em corredores de consumo. Correm riscos de excessos de terceiros. Acho que isso basta para explicar as razões de estar disposto a uma empreitada diferente, como escrevi ontem.
Naquele artigo de mais de dois anos registrei o conteúdo da última página da edição quinzenal da revista Exame numa breve entrevista com um xará, Daniel Gómez Gaviria, então responsável pela área de competitividade do Fórum Econômico Mundial, instituição que, além de organizar encontros em Davos, produz respeitados estudos e rankings. “Daniel Gómez Gaviria esteve recentemente no Brasil a convite da Comunitas, ONG criada pela ex-primeira dama Ruth Cardoso. Ele falou sobre planejamento de longo prazo nas cidades, um dos focos do Fórum Econômico Mundial” – escreveu Exame.
Preciosidade casual
Acho essa preciosidade sem querer no acervo desta revista digital. Estava procurando localizar dados econômicos que separam Santo André e Sorocaba, para dizer que correr atrás do fantasma de desenvolvimento econômico daquela capital de região metropolitana do Interior Paulista seria uma bobagem. Já perdemos (e isso vale para todos os municípios da região) essa disputa cada vez mais desigual, mas podemos dar um contragolpe se o futuro não for desprezado.
Retomando os ensinamentos do meu xará do Banco Mundial, não custa nada reproduzir alguns apontamentos registrados naquela análise que fiz. Respondendo à revista Exame sobre o principal conselho que daria aos prefeitos brasileiros que assumiram em 2017, vejam o que ele disse:
O objetivo deve ser aumentar a competitividade. O primeiro passo é fazer uma análise. Usando os rankings disponíveis, qual é a posição da cidade? Quais são os pontos fortes e os fracos? Uma vez feito isso, é preciso definir prioridades e ter um plano para garantir a execução.
É preciso ter claro o significado de competitividade. Para nós, quer dizer um grupo de fatores e condições que aumentam a produtividade da economia. Isso inclui desde a elevação da qualidade das instituições até o reforço da infraestrutura.
Em alguns casos, é verdade, os prefeitos têm pouco ou nenhuma margem de manobra, os temas abordados são da alçada do governo estadual e do governo federal. Um exemplo disso é a política macroeconômica. Mas em vários casos eles podem fazer muito. Falo do combate à corrupção, da diminuição da burocracia, da melhoria da infraestrutura, do aumento da qualidade dos serviços de saúde e educação. Até mesmo na área do trabalho os prefeitos podem ajudar.
Alertas frequentes
Para os leitores que acreditam na baboseira de que apenas recentemente tenho destilado crítica aos prefeitos bastaria ler o seguinte trecho daquele artigo de 2016, que, cá entre nós, não passa de renovação do espírito crítico deste jornalista porque, desde a primeira edição da revista LivreMercado, em março de 1990, alertávamos para os riscos da ineficiência dos prefeitos de então. Leiam o trecho apontado:
Reitero, portanto, a sugestão aos prefeitos na Província do Grande ABC: chamem um especialista, ouçam-no, contratem-no e faz de conta de que tudo que escrevi ao longo de décadas não influenciou em nada a descoberta da pólvora de quem sem competitividade não há futuro. Para que não afirmem que estou a agir como oportunista, o verbete em questão, utilizado pelo especialista do Fórum Econômico Mundial, consta de 730 matérias e análises desta revista digital. – escrevi naquele 19 de dezembro de 2016.
Só por curiosidade típica de jornalista, eis que procuro no acervo desta revista digital a atualização do uso do verbete “competitividade”. Vinte e seis meses após aquele artigo, eis que a soma chega a 996. Ou seja: acrescentaram-se 266 textos que chamam a atenção para essa palavra mágica do mundo produtivo, tanto empresarial quanto na gestão pública. Acho que até o fim do ano vou chegar ao milésimo “competitividade”.
Bastidores soturnos
Após aquiescência do prefeito Paulinho Serra à pregação desenvolvimentista deste jornalista, traduzido na edição de ontem, as mensagens que mais chegaram ao meu aplicativo de celular de leitores que constam de minha lista secreta é que seria muito bom se fosse verdade tudo aquilo. Ou seja: duvidam que o prefeito de Santo André tenha a grandiosidade que nenhum prefeito da região ao longo da história teve para enxergar o óbvio ululante de que as circunstâncias e os contextos inibiriam uma iniciativa tão moderna e incisiva.
Não faltaram interpretações variadas às novidades que apresentei. Desde a desconfiança de que este jornalista estaria se entregando aos agentes públicos que tanto combateu ao longo dos tempos como também seria um grandessíssimo ingênuo a acreditar na alforria administrativa de Paulinho Serra, supostamente preso a uma teia densa de interesses cruzados que não recomendariam um agente independente como este jornalista.
Preferi trazer para esse ambiente público, democrático e do qual sou frequentador há mais de 50 anos de carreira as respostas que merecem atenção. E mesmo assim de forma não necessariamente direta, específica, mas genérica, explicativa o suficiente. O que posso assegurar é que sei atuar em campos diferentes de forma simultânea sem que o jornalismo seja minimamente arranhado.
Distância produtiva
Minha missão no Conselho Especial aprovado pelo prefeito guarda suficiente distanciamento da gestão e do partidarismo naturais do comandante do Paço Municipal porque há o desenho de um arcabouço que separará a oficialidade do cargo do prefeito e o voluntarismo inquietante de agentes sociais dispostos a colaborar com Santo André.
Tradução: quem viver verá que não há incompatibilidade alguma ao se pisar nos dois terrenos, porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Tanto é assim que este próprio texto, ou seja, o texto ao qual estou dando cabo, enfoca declaradamente a inoperância dos prefeitos na seara mais qualificada de competitividade econômica municipal, entre outras razões porque não entenderam que a saída é a que propomos e que poderia ser resumida na seguinte frase: mantenham suas mãos no cotidiano da política-administrativa convencional e deem espaço, apoio e parceria a quem não quer outra coisa senão colaborar com a sociedade como missão impostergável, sem qualquer conotação de política partidária ou algo semelhante.
É difícil de acreditar nisso num Pais de tradição corporativista, clientelista e tudo o mais? Claro que sim. Mas quem tem passado e presente apartidário e reformista não segue em frente preocupado com a voz soturna dos bastidores. Contribuir com Santo André num projeto que simboliza política de Município, não necessariamente de Governo, sempre valerá a pena.
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