Imprensa

Revista Livre Mercado está à venda. É melhor não chamar o Chacrinha

DANIEL LIMA - 05/02/2010

Um ano depois de adquirida a marca, de prometido o céu e muito mais, o recuperador de impostos Walter Sebastião dos Santos colocou extraoficialmente a revista Livre Mercado à venda. Extraoficialmente porque o anúncio não foi publicado em nenhum veículo de comunicação. Nem o será. Mas nos bastidores o que Walter Sebastião dos Santos mais faz é procurar por interessados. O mínimo que posso dizer é que o mais recomendável é não invocar o espírito do maior animador de auditório de todos os tempos, Chacrinha, porque a resposta não seria nada diplomática.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Walter Sebastião dos Santos quebrou a cara com a revista Livre Mercado que adquiriu deste jornalista porque recebeu uma fábrica de Coca Cola e por vaidade e egocentrismo a transformou em distribuidora de Tubaína. Para refutar a informação de que está tentando vender a publicação, só tem uma saída: acumular mais prejuízos com a manutenção mesmo que capenga de edições erráticas.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

A derrocada de Livre Mercado de Walter Sebastião dos Santos era esperada. Não seria este jornalista irresponsável ao divulgar a informação de que o dono da Best Work Consultoria Empresarial pretende desfazer-se daquela marca. Conto com fontes seguras, inclusive internas da empresa com sede em São Paulo. Tanto é verdade que ao ter confirmada a iniciativa de Walter Sebastião dos Santos, não resisti a uma brincadeira séria. Disse ao interlocutor que não aceitaria Livre Mercado nem se acompanhada de um caminhão de dólares. Completei a frase com programada ironia: o caminhão de dólar se acaba e a revista fica.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

De fato, para valer mesmo, Livre Mercado de Walter Sebastião dos Santos já está fora do mercado convencional de comunicação. A revista desapareceu das praças. Nem mesmo os pontos de desova sem custos — padarias, lanchonetes, bares e assemelhados — têm sido abastecidos. Por isso, chega a ser estranho vender ou pretender vender algo que não existe de fato. Nos meus tempos, LivreMercado era distribuída rigorosamente nos bairros de classe média, para quem se voltava a publicação. Só eventualmente e mesmo assim de forma suplementar, aceitava descarregar algum percentual de cada edição em pontos comerciais igualmente de classe média.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Walter Sebastião dos Santos adquiriu uma marca de brilho intenso, esmeradamente cultivada durante duas décadas. A LivreMercado (é assim mesmo, LivreMercado tudo junto, não a Livre Mercado de agora, separada) que lhe repassei porque recebi de herança uma Editora Livre Mercado aos pandarecos estruturais, essa LivreMercado morreu desde a primeira edição sob o controle de Walter Sebastião dos Santos. Trocaram o conteúdo comprometido com o passado, com o presente e o futuro do Grande ABC pelo modismo vulgar e superficial da estética supostamente mais moderna. Toda a equipe de redação que constava do expediente da publicação nos últimos bons tempos ganhou cartão vermelho. Walter Sebastião dos Santos prefere trabalhar com medíocres. Só assim ele imagina sobressair-se na atividade.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Por mais que faça restrições ao conjunto da sociedade do Grande ABC, que não difere profundamente da escassez reflexiva da sociedade brasileira, há alguns milhares de consumidores de informações com apetrecho intelectual para discernir o bom do ruim, o revolucionário do trivial. Walter Sebastião dos Santos preferiu o atalho fácil de páginas plasticamente mais leves, planejadas por gente que de jornalismo não entende bulhufas. Priorizou marquetólogos e subestimou fazedores de bom jornalismo.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Falou mais alto para aquele recuperador de impostos que não tem por hábito cumprir contratos assinados (e o desafio publicamente a me questionar na Justiça sobre essa afirmativa e qualquer outra que já lhe tenha feito) o reducionismo ignorante de quem observa o ramo jornalístico com as lentes embaçadas e incapaz de distinguir um bom texto de um texto ordinário, uma boa pauta de uma pauta qualquer. O aventureirismo de Walter Sebastião dos Santos guarda estreita relação com tantos outros tipos de empresários que se metem em seara alheia com a empáfia de especialista.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

A combatividade e também o comprometimento social da revista LivreMercado sob os cuidados editoriais deste jornalista foram subestimados por Walter Sebastião dos Santos. Mais que subestimados, foram solapados. Acreditava o recuperador de impostos que se daria bem na praça com uma metodologia editorial de servilismo que lhe alavancasse clientes para sua recuperadora de tributos. A revista seria uma ponte para o negócio de tributos, daí a opção por uma linha editorial primariamente adocicada. Alheio às facetas do jornalismo, incorreu na bobagem de confundir reflexões críticas com indisposições insanáveis. O jornalismo medíocre de bajulação ou espertamente negocial de chantagem jamais constou do léxico profissional deste jornalista. Faço jornalismo como ganha-pão, não por vaidade, intermediação econômica ou qualquer outra modalidade tão em voga nestes últimos tempos.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Só escrevo sobre a revista Livre Mercado porque faço parte de um cordão de profissionais de jornalismo que, sob a inspiração do decano da atividade, Alberto Dines, comandante do Observatório da Imprensa, entende que a mídia tem sim de falar da mídia. Complementaria dizendo que a mídia tem sim de falar da mídia, mas os interlocutores têm de ser necessariamente do ramo, não pistoleiros de aluguel.

Por que é melhor não chamar Chacrinha como intermediário?

Fiz repetidamente a mesma pergunta para chegar ao desfecho que se segue:

O Velho Guerreiro que fazia de seu programa de auditório a mais descontraída e alegre sala-de-estar das famílias brasileiras nos anos 1970 e 1980, costumava atirar à platéia todo tipo de fruta:

“Quem quer laranja?”

“Quem quer melancia?”

“Quem quer banana?”

Se requisitado fosse para anunciar o propósito de Walter Sebastião dos Santos, Chacrinha não teria dúvidas de preferir o literalmente original:

“Quem quer abacaxi?”.



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