Aprovada a proposta, a primeira Entrevista Indesejada deste site terá como protagonista o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura. Outros nomes já estão na lista e todos serão questionados, gostem ou não. Procurarei me enroscar com alguns personagens que aparecem muito na mídia (e que também não aparecem na mídia, mas mandam um bocado!) mas não contrapõem produtividade institucional numa região que ziguezagueia entre uma economia dependente demais dos humores automotivos e uma baixa representatividade nas esferas estadual e federal — apesar de avanços nos últimos anos por conta da presidência de Lula da Silva e suas ramificações locais.
Nos próximos dias encaminharei ao dirigente da Acisbec questões de fundamental importância para a economia daquele Município e também do Grande ABC. Valter Moura está no comando da Acisbec há muitos anos. Minha dúvida, que poderia ser dirimida por algum leitor, é se chegou ao posto antes ou logo após a vitória de Fernando Collor de Mello à presidência da República, em 1989. Retifico: já consultei meus arquivos e descobri que Valter Moura assumiu a Acisbec quando Collor de Mello não passava de traço nas pesquisas eleitorais. Ele está no poder há 21 anos. O déficit institucional da Acisbec com Valter Moura é tremendo.
Sem rodeios, acho inconcebível uma liderança, em qualquer esfera de governabilidade, perpetuar-se no poder. Mais que perpetuar-se, tornar-se tão frágil no poder. Valter Moura virou uma espécie de símbolo de ineficiência que outras entidades de classe empresarial, sindical, social e cultural também construíram. A diferença é que Valter Moura emblematiza um individualismo rastaquera.
Só esse detalhe — a longevidade do dirigente — bastaria para dizer o quanto é inquietante a situação. Será que Valter Moura é tão imprescindível assim em São Bernardo ou exerce o poder com tamanha competência que é impossível substituí-lo sem incorrer-se em graves prejuízos para o Município? Ou no fundo no fundo Valter Moura é uma das ramificações de antigas práticas verde-amarelas de continuísmo por tempo indeterminado mas que aparecem na mídia bradando contra eventual movimentação em favor de um terceiro mandato presidencial?
Tudo será perguntado a Valter Moura, inclusive o que os leitores de CapitalSocial pretenderem perguntar, desde que não encaminhem questões ofensivas.
Jamais permitiria que descambe a ofensas, como acompanho em tantos endereços eletrônicos, principalmente. Não pretendemos transplantar Entrevista Indesejada para a zona sombria de guerra santa de Entrevista Ofensiva. A agressividade de sites e blogs que fazem tudo pela audiência se tornou lugar comum no jornalismo digital. Entretanto, não duvidem que maledicentes de plantão preferirão fechar os olhos e execrar os objetivos de Entrevista Indesejada.
Há gente com enormes dificuldades para compreender o trabalho jornalístico. Pastores, médicos, advogados, enfermeiras, gestores públicos e tudo o mais têm suas respectivas missões. Jornalistas também. E a missão jornalística, para mim, vai muito além de interesses individuais ou coletivos. Minha oração ou minha reza é a elaboração de textos que de alguma forma auxiliem na elevação do senso crítico da sociedade. Da mesma forma que pastores religiosos procuram elevar o disposito espiritual dos fiéis. Cada um deve ter seu espaço preservado e valorizado. Sem sectarismos. Pouco me lixo para minorias organizadas e especializadas em pressionar diretamente o alvo de suas chamadas de consciência ou, o que é mais frequente, o entorno castrador de financiamento da missão jornalística. Já há jornalistas medíocres demais na praça, quando não os oportunistas e chantageadores. Prefiro mudar de profissão a fraudar a expectativa dos leitores igualmente libertos do jugo dos profanadores dos ideais republicanos.
A vantagem que Entrevista Indesejada terá sobre entrevistas convencionais é que um certo grau de camaradagem que permeia a relação entre imprensa e entrevistados, exceto em situações muito agudas, não será repetido. E não será mesmo, porque a etiquetagem de Entrevista Indesejada é auto-explicativa. A Entrevista é do jornalista, o adjetivo Indesejada é, obviamente, do entrevistado.
Valter Moura e todos que forem listados nessa iniciativa de CapitalSocial não terão alternativa mais interessante senão responderem às questões encaminhadas. O silêncio será condenatório. Vou mais longe: se souberem responder, terão a oportunidade de esclarecer muitos pontos provavelmente obscuros, muitas questões mal-aparadas, muitas especulações que carecem de informações.
Escolhi Valter Moura iniciador desta nova etapa por várias razões, mas outros nomes caberiam perfeitamente no figurino. Primeiro, pela longevidade à frente da entidade que representaria os comerciantes e prestadores de serviços, além de indústrias de São Bernardo. Segundo, porque Valter Moura é especialista em comentar a economia do Grande ABC com frequência na mídia. Terceiro, porque tem jogo de cintura fantástico para se equilibrar entre direita e esquerda, principalmente no campo político-partidário de São Bernardo. Está sempre do lado dos vitoriosos, articulados ardilosamente por ele e o filho, também dirigente da Acisbec e, pelo andar da carruagem, seu sucessor dinástico.
Quero crer que colocarei Valter Moura contra a parede, mas não existe nesse propósito nenhum tipo de sadismo. Pelo contrário: gostaria de ter como respostas profundidade de ações que estariam subavaliadas pela mídia regional que se pauta em larga escala pela superficialidade.
Eventual negativa de Valter Moura e de qualquer outro indicado à Entrevista Indesejada não representaria arquivamento. Pelo contrário: manteremos o questionário durante longo tempo nas páginas deste CapitalSocial como espécie de provocação à democratização da informação. Democratização da informação que ganha a forma de o entrevistado responder o que lhe foi perguntado. Ou de suportar o peso de espaços em branco onde deveria haver prestação de contas.
Também o novo formato de Entrevista Indesejada será menos condescendente com o entrevistado do que o usual das entrevistas convencionais. As respostas que fugirem do questionamento ou que apresentarem informações que conflitem com a realidade conhecida serão reapresentadas ao entrevistado. Ou seja: Entrevista Indesejada não permitirá enrolações. Será uma grande oportunidade para se fazer justiça com os injustiçados e de permitir o julgamento daqueles que se consideram acima do bem e do mal.
Valter Moura está no paredão. Este jornalista foi o primeiro a submeter-se a esse modelo de jornalismo, quando respondeu tudo aos conselheiros de LivreMercado numa das edições daquela publicação em 2008, e que está disponível neste site sob o título Cidadania perde de goleada para BBB.
Para completar, e já que o assunto é economia do Grande ABC, chamo a atenção dos leitores para a leitura do texto que segue sublinhado. Trata-se de entrevista (convencional, porque não haveria instrumental justo para tipificação diferente) que fiz para a edição de dezembro de 2006 na revista LivreMercado (aquela que continua viva, porque a Livre Mercado que a sucedeu, de fato, morreu) com o pequeno supermercadista Gilberto Wachtler, hoje vereador em Santo André. Poucas foram as oportunidades em que um entrevistado demonstrou tamanho conhecimento de sua especialidade e igualmente tamanha sensibilidade nas respostas. Quem tem um mínimo de paixão pelo Grande ABC não deve apenas ler o que se segue — precisa imprimir para releitura nos momentos em que se sentir eventualmente pouco inspirado.
Vale a pena acompanhar Pequeno negócio varejista está entregue à própria sorte.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)