Detentor do direito de uso do acervo de LivreMercado, revista que idealizei e que comandei durante 19 anos, adotei novo critério de migração daquele material impresso para estas páginas digitais. Trata-se da seleção dos trabalhos mais sensíveis à economia e à sociedade do Grande ABC por ordem cronológica, a partir de novembro de 1996, edição 80. Essa é a data base dessa iniciativa porque foi quando decidi aposentar o formato tablóide da publicação, substituindo-o pelo formato e também pelo papel convencional de revista.
Esta iniciativa não significa que deixaremos de utilizar a alternativa de aproveitamento temático. Contamos com quase 800 trabalhos postados que seguiram a essa filosofia. Os dois movimentos são complementares e valiosíssimos. O primeiro estabelece vantagens situacionais. O segundo remete a contextos mais completos.
Apenas os idiotas de carteirinha e os invejosos de plantão, ou os descerebrados contumazes, negariam o óbvio: a revista que dirigi durante praticamente duas décadas com grupo de jornalistas comprometidos com a sorte do Grande ABC, jamais deixará de constar do patrimônio regional como uma jóia a ser preservada. Mais que preservada: uma jóia a ser permanentemente avaliada, debatida, questionada, aplaudida — porque essa é a finalidade da transposição daquele acervo para estas páginas digitais.
É sempre uma emoção renovada reler trabalhos que aparentemente se perderam no tempo. A consulta que tenho feito em altas horas para selecionar matérias mais relevantes é frutífera.
Tenho à disposição a possibilidade de recuperar o tempo que parecia disperso, quase incontrolável, descartável. Devo essa arqueologia jornalística a duas mulheres que, exatamente por serem mulheres, asseguraram a preservação dos trabalhos. Maria Luiza Marcoccia, ex-quase tudo na Editora Livre Mercado, ao selecionar e arquivar cuidadosamente meia dúzia de cada edição de LivreMercado, e Maria Aparecida Nascimento ao capturar e organizar com metodologia específica os textos nos arquivos digitais.
Então, para encurtar a conversa, ficamos assim: sem data pré-determinada para abastecer a curiosidade e o interesse cultural dos leitores, vamos anunciar sempre em bloco, por edição, as matérias selecionadas no passado daquela que foi disparadamente a melhor revista regional do País. Nenhuma publicação regional — e nesse ponto valem jornais e o que mais quiserem — sequer chega aos pés da LivreMercado dos bons tempos, porque foram duas décadas de contínuo acompanhamento, questionamento e esclarecimentos sobre a economia e a sociedade regional. Cada edição estava comprometida em coerência e conhecimento com as anteriores — e com as que ainda viriam.
Uma pena que, diante das circunstâncias que me levaram a abrir mão da marca LivreMercado, depois de série escandalosa de roubalheiras na Editora Livre Mercado, o recuperador de impostos Walter Sebastião dos Santos tenha assassinado o produto. Isso mesmo, assassinado, porque, embora se esforce para passar adiante a publicação, imaginando-a um boteco, ele já deve ter descoberto que não se brinca com coisa séria. E LivreMercado sempre foi séria, apesar, reconheço, de ter contado em áreas fora de minha jurisdição legal, com oportunistas juramentados.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)