Imprensa

Sete anos depois, Meias Verdades ganha espaço no mundo digital

DANIEL LIMA - 26/03/2010

Quase todas as 226 páginas do livro Meias Verdades, que escrevi e lancei em 1° de abril de 2003, numa festa para 800 convidados, em Santo André, vão ser reproduzidas neste CapitalSocial a partir da próxima segunda-feira, 29 de março. Apenas a apresentação (que segue abaixo) e os prefácios não constarão do material. Já os textos que preparei estarão disponíveis obedecendo a critérios com que foram impressos, de modo a facilitar a leitura.

Incluir o livro Meias Verdades neste endereço digital, o mais qualificado da imprensa regional brasileira, integra o projeto de democratização da informação analítica. Por informação analítica entenda-se a preocupação seminal de ir muito além da superficialidade ingênua, quando não fraudulenta, da neutralidade ou da imparcialidade. Os jornais costumam propagandear tanto uma coisa quanto outra, mas em muitos casos não resistem ao contraditório. Neutralidade e imparcialidade são refrões de um passado de jornalismo romântico mas nem por isso sem cores. Neutralidade e imparcialidade são refrões de um presente de jornalismo de negócios sem cores preferenciais, enrustidamente multicoloridos.

Meias Verdades é a prova cabal do quanto o jornalismo impresso diário, já há sete anos e hoje em estado vegetativo ainda mais preocupante, dissocia-se dos leitores que querem muito mais que informação rasa. A proliferação de produtos inspirados em fórmulas estrangeiras que transportam para páginas impressas conceitos de informação televisiva é possivelmente o ponto final de uma crise anunciada. O futuro do jornalismo impresso terá de diferenciar-se do jornalismo que domina a rede mundial de computadores, sob pena de asfixia irreversível.

Por isso, CapitalSocial foi concebido nessa mesma rede mundial de computadores com cromossomos de valor agregado das informações o que, em última instância, significa conhecimento. Sabemos que remamos contra a maré do facilitarismo informativo. Entretanto, a confiança e a certeza de que o exército de leitores qualificados tanto da mídia eletrônica quanto na convencional será cada vez maior estimulam nossos propósitos de capturar quem se utiliza melhor daquela peça importante acima do pescoço.

Agora, a apresentação de Meias Verdades, para abrir o apetite do que postaremos na próxima segunda-feira.

  •  Tenho matéria-prima para produzir pelo menos mil páginas como essas. Sem exagero e sem pretender ofender os mais modestos paladares gastronômicos, é possível concluir que parte das informações que todos consumimos se assemelha, em muitos pontos, a essas comidinhas ordinárias de botequins de quinta categoria. Estômagos mais exigentes acusam os golpes e não ficam imunes à toalete mais próxima. Sinto-me perplexo depois de rastrear meus arquivos. Estamos industrializando promessas, ilusões, propostas, idéias, mistificações, manipulações e mesmo mentiras descaradas. Somos vulneráveis às fontes de informação cada vez mais insinuantes e preparadas para o jogo da dissimulação, quando não da sedução.
  •  Esta obra é um acaso planejado. Quando resolvi remexer as mais de 800 pastas de meu acervo de trabalho, não pretendia nada diferente de uma faxina. O acúmulo de oito anos de páginas minuciosamente selecionadas e identificadas por temas exigia o descarte do material defasado. Afinal, os fatos de hoje são superados pelos acontecimentos de amanhã. Então, por que manter pastas repletas de sobreposições informativas?
  •  Bisbilhotando aqui, fuçando ali, descobri que as aparências enganam. Sim, aquelas pastas recheadas de repetições não eram exatamente o que pareciam ser. A cronologia das notícias abria fissuras de credibilidade, de acuidade e de responsabilidade. O jornalismo impresso, notadamente o jornalismo impresso diário, é vítima de escravagismo do processo industrial associado ao pouco preparo crítico em todas as instâncias de poder editorial.
  •  Talvez seja necessário um novo livro que penetre exclusivamente nas veredas redacionais e analise com profundidade cada ponto de fragilidade desse território que só os jornalistas imaginam inexpugnável. Sim, todos pensamos que nossos redutos editoriais são fortalezas. Na verdade, há sofisticada rede de interlocutores externos que nos dão um show de bola. Eles nos driblam sem cerimônia. Fazem-nos de fato e sapato.
  •  Depois de escrever Meias Verdades sou um novo jornalista — ainda mais minucioso e detalhista. Creio que nenhum profissional de comunicação que acompanhar os cases que se seguem dará importância à deificação dos convencionais manuais de redação. E tampouco se deixará impressionar por idiotices que tratam de quantificar os erros ortográficos dos profissionais de comunicação — uma aberração que consagra as nulidades de textos convencionais e execra as matérias criativas eventualmente descuidadas na forma, mas instigantes no conteúdo —, para os quais a essência de trabalho intercomplementar de equipe é o antídoto contra possíveis escorregadelas. Tradução: vale mais jornalista sensível que tropeça de vez em quando em vírgulas, concordâncias, coisas assim, do que jornalista burocrático mas ordinário.
  •  Esses comandantes de redação que se travestem de perseguidores de inconformidades técnicas são espécies de vigilantes de fortalezas que julgam administrar, enquanto esquecem o portão de acesso por onde os inimigos da informação qualificada garantem posicionamentos estratégicos. Estas páginas são um chute nos fundilhos de nossas imprecisões. Sem exagerar, em muitos casos não passamos de marionetes. Achamos que estamos liquidando com o concorrente mais próximo e o que temos de fato são bumerangues que nos nocauteiam, quando não nos ridicularizam. Estamos todos no roteiro de Chicago, o filme que concorre a 13 Oscars deste 2003. Somos as marionetes movidas pelos cordéis comandados pelo advogado oportunista vivido por Richard Gere.
  •  Embora esta obra tenha viés pronunciadamente jornalístico, de suporte aos profissionais de comunicação que queiram entender melhor as relações entre produtores de notícias e fontes de informação, sua utilidade econômica é explícita. Apesar de mais fortemente relacionada com os acontecimentos da última década no Grande ABC, Meias Verdades também contempla, em vários capítulos, aspectos estaduais e nacionais igualmente enquadrados pela lente do frenético cotidiano de fechamento editorial. Essa amplitude é importante também sob o prisma de avaliação correta da vulnerabilidade generalizada das redações. Trata-se de epidemia da qual os jornalistas não se dão conta, aceitam passivamente ou mesmo são tácitos parceiros de malandragens.
  •  A ordem dos capítulos que se seguem é aleatória. Pretendia, em princípio, concentrá-los de acordo com a geografia dos acontecimentos, iniciando com os cases extraterritório do Grande ABC. Resolvi, entretanto, mudar de idéia. Meias Verdades pode ser consumido acrobaticamente. Do começo para o fim, do fim para o começo, do meio para a frente, do meio para trás. Experimente ler ao acaso, como os fatos que recolhi nos arquivos, e você vai constatar que a ordem dos fatores não altera a bobagem final.
  •  Recomendo Meias Verdades particularmente a jornalistas, estudantes de jornalismo, administradores e economistas, e também a estudantes de Administração e de Economia. Também é indicado a leitores de outros espectros sociais e econômicos, sem qualquer tipo de contra-indicação. Particularmente, para quem quer conhecer ou aprofundar conhecimentos sobre a economia do Grande ABC na última década, Meias Verdades é o melhor caminho. A extratificação ética e qualitativa de Meias Verdades é espécie de dogma. Os pressupostos de combate à pirataria da informação são legados que procuramos aplicar tanto pessoalmente quanto na equipe que dirigimos.
  •  E mesmo com todos esses cuidados especiais também acabamos manipulados em alguns momentos de nossa trajetória. Especialmente porque caímos na armadilha de um jornalismo supostamente engajado com as causas regionais. Mas foi período breve, que em nada afetou a credibilidade. Mais que isso: esse descuido valeu a pena ter ocorrido porque, a partir do qual, obtivemos o salvo-conduto contra triunfalistas eternamente de plantão — ervas daninhas que proliferam ao menor descuido.

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