O empresário Milton Bigucci, presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Administradoras e Imobiliárias do Grande ABC) é o mais votado da lista de CapitalSocial para participar da terceira rodada da série “Entrevista Indesejada”. Os leitores do site manifestaram-se nas últimas semanas. Responderam à proposta de indicarem três entre os 10 nomes relacionados. Será que Milton Bigucci romperá tendência de sonegar respostas quando as questões abordadas não são de agrado do entrevistado? Afinal, foi assim que se comportaram os dois primeiros escolhidos antes da formulação da lista de 10 nomes sugeridos aos leitores.
Gostaria imensamente que Milton Bigucci se apresentasse e, dessa forma, pelo menos em termos de iniciativa, se distinguisse de Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) e de Walter Sebastião dos Santos, então diretor-presidente da revista Livre Mercado, marca adquirida pela Best Work Consultoria Empresarial junto à Editora Livre Mercado, deste jornalista. Tanto Valter quanto Walter fugiram dos questionamentos. Fizeram-se de mortos. Propagam entre os mais próximos ácidas críticas à série de CapitalSocial.
As perguntas a Milton Bigucci já podem ser formuladas. Serão concluídas até a próxima segunda-feira. Os leitores estão convidados a participar. De minha parte — e sem falsidade diplomática — o arsenal preparado é potente.
Quem acredita que “Entrevista Indesejada” é um pelotão de fuzilamento não está inteiramente equivocado. Basta que os escolhidos aceitem passivamente os disparos, sem oferecer resistência, ou, ao oferecem resistência, comportem-se como manipuladores. Quem reunir substância e não tergiversar, escapará ileso. Fosse um estudante, teria uma boa nota. Fosse um presidiário, um atestado de bom comportamento.
Para não acusarem a série de jornalismo rottweiler, lembro que constei também da lista dos 10 nomes submetidos à votação dos leitores. Estou pronto para mais uma sabatina — não seria a primeira. Só não revelarei, ainda, a posição que ocupo na votação final. Mas que também vou para o paredão, disso estejam certos. Já me submeti a perguntas que ganharam forma jornalística, endereçadas tanto por conselheiros editoriais da revista LivreMercado, então sob meu controle editorial, quanto de jornalistas da mesma publicação, quando de minha indicação para dirigir a redação do Diário do Grande ABC. Agora vou para o abraço público.
Observaram como Valter Moura e Walter Sebastião dos Santos veem ruir argumentos unilaterais para justificar ausência na seção “Entrevista Indesejada”. Será que Milton Bigucci vai encompridar a lista de desertores?
Acredito que a liderança de votos de Milton Bigucci entre os 10 indicados se deve principalmente ao Residencial Ventura, em Santo André. Seria apostar demais no congelamento da cidadania regional se mesmo diante de caso tão rumoroso o principal representante do setor imobiliário da região não chamasse atenção especial.
Até porque, como devem ter notado os leitores, Milton Bigucci não se manifesta sobre o caso. Mais que isso: em nenhum momento teve a preocupação de dirigir-se a este jornalista para, mesmo que reservadamente, em princípio, buscar informações que, de alguma forma, conduzisse a entidade que dirige a posicionamento reservado ou público. A Acigabc não tem um código de ética. Se tem, não pratica. Não cobro nada à entidade se quiser uma relação de 10 pontos. Só exijo que sejam estabelecidos. Remeterei as sugestões como usuário que espera mais responsabilidade da liderança do setor.
Seria Milton Bigucci adepto da doutrina de que o mundo do Grande ABC é repartido de tal forma em setores estanques que, por mais que uma calamidade ética como o Residencial Ventura se apresente, a atividade imobiliária não tem satisfação a dar à população?
Seria esse espírito de corpo tão arraigado e tão auto-protetor a ponto de o Residencial Ventura tornar-se um detalhe sem a menor importância para a instituição que Milton Bigucci preside?
É claro que quem imagina ingenuidade por esperar essa iniciativa do comandante do mercado imobiliário do Grande ABC me subestima. Não é a primeira nem terá sido a última que Milton Bigucci se cala, se ausenta, que vira objeto não-identificado como titular do setor, quando alguma coisa foge do eixo de triunfalismo na atividade.
Basta ver o caso do condomínio Barão de Mauá, que completou 10 anos de impunidade e sobre o qual Milton Bigucci e a associação empresarial que dirige jamais tiveram a sensibilidade social de emitir uma posição sequer.
Para Milton Bigucci, como para muitos das chamadas lideranças empresariais da região, o corporativismo sempre fala mais alto. Os interesses particulares, individuais e setoriais pesam em todas as decisões.
Sociedade civil é um castelo de areia que todos usam como marketing de ocasião para desfazer-se em seguida. Não difere em nada dos políticos que tanto condena mas aos quais se junta antes, durante e depois de eleições — porque não resiste às vantagens das relações incestuosas.
Como se observa, algumas perguntas já saltam das teclas de meu computador. Isso assombra quem está acostumado com lantejoulas sociais que a presidência de uma entidade, de qualquer entidade, sugere.
Milton Bigucci não é muito diferente da maioria de seus pares corporativos. Aliás, é mais privilegiado. O setor do qual faz parte é um dos queridinhos da mídia. Nada mais natural num mundo mercantilizado. O peso publicitário faz toda a diferença entre engajar-se na denúncia de um Residencial Ventura ou de um Barão de Mauá altamente explosivo e silenciar ante milionários contratos de publicidade.
Mal-acostumado com a paparicagem geral de que goza como presidente da associação regional da categoria, Milton Bigucci provavelmente receberá com previsível descaso a informação de que lhe será encaminhada uma bateria de perguntas indesejáveis. Os antecessores reagiram exatamente assim. Perderam o humor, se sentiram perseguidos, criticaram e criticam o responsável pela iniciativa, mas tudo isso se perde como pegadas na areia. Afinal, também me submeterei (de novo) ao pelotão de fuzilamento.
Portanto, tanto os fugitivos já apontados como o escolhido de agora, que tratem de mudar de discurso. E de atitude. Como? Os dois ausentes juramentados ainda podem responder às respectivas entrevistas, por mais que o prazo tenha sido superado. O novo indicado, ao não fugir do compromisso de transparência que o cargo que ocupa explicita.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)