Leitores interessadíssimos nas novas relações institucionais (ou mais apropriadamente comerciais) entre o Diário do Grande ABC e a Prefeitura de São Bernardo exigem interface sempre em forma de responsabilidade social. Querem que relate desdobramentos de uma situação que coloca a região no centro da rebimboca da parafuseta do provincianismo requenguela.
Sei que a tarefa não é fácil, exige muito mais que informações convencionais, porque tanto um lado quanto outro sabem que estamos monitorando. Tanto sabem que tomam mais cuidados. Alguns, com a cara de pau de sempre, correlacionam a mudança a motivações republicanas.
Não se pode esquecer que temos mais que um acordo bilateral. Há múltiplos interesses em jogo para controlar a redação do Diário do Grande ABC, do empresário Ronan Maria Pinto, como, principalmente, controlar os Paços Municipais, por Ronan Maria Pinto.
O Paço Municipal de Santo André é o quintal do Diário do Grande ABC destes tempos de Ronan Maria Pinto, como o foi em algumas situações dos Dottos e dos Polesis, antecessores na direção daquele jornal. A diferença é que a gulodice aumentou, porque onde falta pão todo mundo tem razão. O Grande ABC dos tempos dourados há muito se foi, embora as manchetes do próprio Diário do Grande ABC insistam em cenografias.
William Dib, ex-prefeito de São Bernardo, político astuto, é terceiro vértice de interesses cruzados que envolvem Diário do Grande ABC e Prefeitura de São Bernardo.
Não vou expor agora o que observei nos últimos dias, tampouco novas informações. Estou vasculhando para saber até que ponto as partes envolvidas imaginam que eu saiba exatamente o que devo saber. Eles pensam que sabem tudo e que trancaram as portas de vazamentos. Mas informações desse tipo respiram como corpos ardentes nos apartamentos conjugados em Brasília.
O que sei é que se promovesse espécie de túnel do tempo com tudo que colecionei dos primeiros 18 meses de mandato do prefeito Luiz Marinho e, mais que isso, os meses antecedentes, da disputa eleitoral pelo Paço Municipal, seria um escândalo do jornalismo. O Diário do Grande ABC foi implacável na tresloucada perseguição ao dirigente petista que ousou enfrentá-lo porque não se submeteu aos caprichos publicitários.
Resta saber até que ponto agora, que as comportas foram abertas, a emenda não será pior que o soneto.
O Diário do Grande ABC está entregue a invasores, uma confraria de caricaturistas que imaginam entender de jornalismo e de responsabilidade social. Piratas se aboletaram da agenda, da pauta e de tudo que desemboca em informações impressas. Os jornalistas são os que mais sofrem, vítimas da prepotência, do mandonismo e do ditatorialismo brando.
Sim, o pior entre todos os ditadores é o ditador que se faz de democrata, de fala mansa, de gestos elegantes, de um cavalheirismo postiço — daquele cheiro de perfume barato, do tapinha nas costas.
É desse tipo de ditadorzinho de plantão que a maioria gosta, porque a maioria detesta o jogo franco, aberto, às claras.
Estou colecionando informações suficientes para contribuir com a história do Diário do Grande ABC longe da formalidade diplomática e acadêmica de estudos adocicados. A aproximação entre o Diário do Grande ABC e a administração petista de São Bernardo não surpreende quem acompanha a trajetória da publicação e também do mergulho econômico, social e institucional do Grande ABC.
Vivemos seguramente a pior quadra em séculos. Perdemos a compostura e o senso de indignação. Achamos tudo muito natural. Mas há ainda barricadas de vergonha na cara que exigem olhar crítico sobre a marcha dos acontecimentos — até porque alguns filhotes da mesma tipologia alquebrada proliferam na praça.
A dificuldade do tipo de operação que envolve algo público, como é o caso de um veículo de comunicação, e uma administração pública, como é o caso da Prefeitura de São Bernardo, é que o acordo ou o desacordo passa naturalmente pelas páginas impressas, porque é ali que se constrói a estrada sobre a qual trafegam todos os interesses em jogo.
Já há evidentes tentativas de manipulações, mas só mesmo os pouco versados em jornalismo deixam de capturar o que de fato se esconde em determinadas situações.
Mesmo que os leitores não me cobrassem atenção me meteria nesta seara, que é minha seara, porque passei a vida inteira me dedicando ao jornalismo e aceito tudo que a vida me impõe, menos a ideia de que seja idiota completo.
Quanto passei pelo Diário do Grande ABC, entre 2004 e 2005, e criei um Conselho Editorial com 101 participantes da sociedade regional o objetivo era claro: transparência e competência de representações sociais para dar novo impulso ao jornalismo daquele veículo. Acabei virando moeda de troca de decisão judicial que beneficiou quem estava com a corda no pescoço.
Talvez amanhã me canse do assunto, mas, por enquanto, acho que vou prestar um serviço à sociedade alertando-a quanto à credibilidade do noticiário do Diário do Grande ABC também em São Bernardo.
Não incentivei minha filha a deixar o jornalismo, não lamento o fato de ter um filho jornalista, por simples capricho. Só não deixo a profissão porque não tenho alternativa. Então, vão ter de me aguentar.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)