A mais recente Pesquisa de Investimentos Privados no Estado de São Paulo traz notícias desconfortáveis ao Grande ABC. De acordo com levantamento realizado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) em parceria com a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, quatro das principais cidades da região desabaram no ranking de investimentos produtivos durante 2001 e outra apresentou queda moderada sobre base nivelada por baixo. Resultado do desmoronamento coletivo: responsável por 9,3% do Valor Adicionado estadual, o Grande ABC contabilizou apenas 0,28% dos investimentos destinados ao Estado de São Paulo no ano passado.
A performance é tão desastrosa que os municípios do Grande ABC foram superados por Guarulhos e Osasco e, por isso, não aparecem logo após a Capital paulista como nos levantamentos de 1999 e 2000.
A Fundação Seade, braço de pesquisas e estatísticas do governo estadual, faz varredura em centenas de jornais e revistas para contabilizar os valores anunciados nas mais diversas regiões do Estado. Entram na conta investimentos para criação de novas empresas, ampliação das já existentes ou compra de equipamentos, e que são confirmados pelas empresas aos técnicos da Fundação.
São Caetano é a cidade do Grande ABC que mais perdeu em números relativos. De US$ 392,64 milhões no levantamento de 2000, registrou apenas US$ 32,97 milhões em 2001: queda de 92%. Em seguida vem São Bernardo, que teve redução de 82% -- US$ 814,36 milhões em 2000 e US$ 139,9 milhões em 2001. Em Diadema os investimentos anunciados e confirmados regrediram de US$ 31,96 milhões em 2000 para US$ 7,24 milhões em 2001 -- redução de 77%. E em Mauá a queda foi de 70% -- os investimentos minguaram de US$ 229,64 milhões para US$ 69,86 milhões. A queda de Santo André foi pequena, de US$ 440,37 milhões em 2000 para US$ 412,86 milhões em 2001.
O mergulho do Grande ABC deu-se em contexto em que o conjunto da Região Metropolitana de São Paulo cresceu. Os investimentos de US$ 9.741,22 milhões para a Grande São Paulo em 2001 -- do total de US$ 23,5 bilhões em todo o Estado -- embutem crescimento de 64% sobre os US$ 5.925,75 milhões contabilizados no ano anterior. Dessa aparente contradição, formada pelo paradoxo de perder isoladamente enquanto se faz parte de um grupo que saiu ganhando, é possível extrair duas constatações à compreensão da economia do Grande ABC e suas diferenças em relação ao restante da Região Metropolitana, principalmente São Paulo.
O crescimento conjunto da Região Metropolitana é puxado pela performance da Capital, que, a despeito da desindustrialização pela qual também passa, não pára de receber gordos investimentos em prestação de serviços na condição de Capital econômica e financeira da América Latina. O Município de São Paulo contabilizou aportes de US$ 7.115,65 milhões em 2001, com crescimento superior a 100% ante os US$ 3.234,95 milhões do ano anterior. O setor de serviços contribuiu com US$ 6.316,59 milhões do total de 2001 e a indústria entrou com apenas US$ 729,30 milhões.
No Grande ABC, os resultados são diametralmente opostos aos da Capital. Os investimentos caíram de US$ 1.908,57 milhões em 2000 para US$ 665,03 milhões em 2001 porque a economia regional está excessivamente atrelada à indústria em geral e à vulnerável cadeia automotiva, em particular.
Enquanto a indústria automobilística sediada na região anunciava investimentos tecnológicos para não perder o bonde da competitividade, o Grande ABC aparecia relativamente bem na radiografia estatística da Fundação Seade. Ufanistas pintavam cenários multicoloridos e varriam para debaixo do tapete o fato de que os investimentos da atividade mais competitiva do planeta se prestavam exclusivamente à modernização de fábricas e estruturas obsoletas, com a contrapartida do desemprego. Depois que a onda de investimentos voltados à sobrevivência das montadoras passou, sobrou o retrato claro, sem retoques, de uma região que se vê refém de um segmento vertiginoso.
A Fundação Seade admite o caráter pontual da enxurrada de reforços tecnológicos que inflaram o balanço de investimentos no Grande ABC em 2000. No site da entidade lê-se o seguinte: "É importante salientar que a maior parte dos anúncios de investimentos, em valores absolutos, na região do Grande ABC, tem origem no setor automotivo, que passou por intenso processo de modernização e ampliação nos últimos anos". Uma análise acentuadamente esmiuçada por LivreMercado durante os anos 90.
Interior versus metrópole -- Análise quantitativa dos dados da pesquisa da Fundação Seade sugere acalentador equilíbrio de atratividade entre a Região Metropolitana de São Paulo e o Interior paulista. Mas a análise qualitativa, mais eficiente nos efeitos socioeconômicos, diz exatamente o contrário. O levantamento mostra que a Região Metropolitana de São Paulo absorveu US$ 9,7 bilhões em investimentos durante o ano passado, enquanto o Interior ficou com US$ 9,1 bilhões dos valores anunciados. A diferença é que os investimentos na Capital e nos 38 municípios metropolitanos se concentraram no segmento de serviços, enquanto a massa de recursos destinada ao Interior do Estado foi injetada prioritariamente no setor industrial. Do total de US$ 10,2 bilhões investidos na indústria paulista, apenas 17% tiveram como destino algumas das 39 cidades da Grande São Paulo com seus 18 milhões de habitantes. Em contrapartida, 62% dos investimentos industriais foram canalizados para o Interior. Fatores como qualidade de vida, custos mais baixos, incentivos fiscais e relativa proximidade com os grandes centros de consumo por conta de bons acessos rodoviários jogam a favor do Interior.
Já no setor de prestação de serviços, o conjunto da Região Metropolitana de São Paulo absorveu a maior parte dos recursos de US$ 12,6 bilhões -- puxada sobretudo pela atratividade da Capital.
Existe considerável diferença entre inversões realizadas nos setores industrial e de serviços. Enquanto investimentos industriais ampliam a geração de riquezas e criam novos postos de trabalho quando não se restringem exclusivamente à área tecnológica, investimentos em serviços só possibilitam melhorias socioeconômicas significativas quando embutem porção considerável de valor agregado ou tecnológico. De acordo com a Fundação Seade, 55% dos investimentos em serviços destinados ao Estado em 2001 diziam respeito aos sub-setores de alta e média-alta intensidade tecnológica. Destes, 52% ficaram na Região Metropolitana de São Paulo e 48% foram para o Interior.
A industrialização do Interior face à cristalização dos serviços na Região Metropolitana de São Paulo é uma tendência que se acentua a cada ano. A participação dos investimentos industriais na Grande São Paulo em relação ao Estado caiu de 57% em 1999 para 42% em 2000 e a apenas 20% em 2001, enquanto a participação da região de 39 municípios nos investimentos de serviços trilhou caminho oposto: 39% em 1999, 52% em 2000 e 78% em 2001.
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