Imprensa

Quando liberdade de imprensa torna-se liberdade à coerção

DANIEL LIMA - 08/07/2010

Mais que o massacrante placar de notícias veiculadas com destaque pelo Diário do Grande ABC durante o primeiro semestre deste ano contra a administração de Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo, o balanço da cobertura da publicação comandada pelo empresário Ronan Maria Pinto evoca uma indagação no mínimo inquietante: até quando a liberdade de expressão que os meios de comunicação defendem como legado constitucional inviolável deve ser brandida em situações que se se caracterizam como liberdade à coerção?

O massacre do Diário do Grande ABC à gestão do petista Luiz Marinho é retratado neste trabalho sem qualquer conotação política e partidária. Trata-se de desmascaramento por conta de náuseas éticas que o periódico causa a quem mantém olhos atentos e mente serena na avaliação da atividade informativa. A explicitude de uma ação desencadeada para desgastar a imagem da administração municipal de São Bernardo dispensa reforço explicativo. Como é o caso de que vários profissionais que deixaram aquela redação, e mesmo de alguns que ali ainda atuam, acompanharam de perto ordens expressas à execução de pautas hostilizatórias ao prefeito Luiz Marinho.

Quando se chega ao extremo da prática de jornalismo de vendetta por causa da conta de publicidade da Prefeitura de maior orçamento da região, estão em jogo muito mais que filigranas conceituais. É a própria prática do jornalismo como instituição de interesse público que está em xeque.

Ao recolher nos arquivos as matérias publicadas no primeiro semestre deste ano sobre a Prefeitura de São Bernardo não tinha dúvidas de que encontraria monumento ao antijornalismo. Pequei pela imprecisão. O material provou-se também escandaloso. Não foi preciso recuar mais no tempo e avaliar a temporada de 2009, primeiro ano de Luiz Marinho à frente da Prefeitura de São Bernardo. A carga pesada pode prescindir daquelas outras pastas suspensas do arquivo. Incluí-las teria o mesmo sentido de repetir o mesmo gol seguidamente. Gol contra do jornalismo, evidentemente.

Do total de 53 matérias publicadas pelo Diário do Grande ABC entre janeiro e começo de julho deste ano, nada menos que 42, ou 80 % foram negativas para a gestão de Luiz Marinho. Não se chegou à totalidade ou a quase isso por uma única razão: num período curto de março, quando houve aproximação entre o empresário Ronan Maria Pinto e o prefeito Luiz Marinho, e desde o final de maio, quando se acertaram alguns ponteiros do fluxo de publicidade, a linha editorial tornou-se branda. Mais que isso: há uma engenharia malquebrada de redação que pretende tratar igualmente petistas (e seus aliados) e tucanos (e seus aliados). Nada mais caricatural.

O Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto não consegue esconder o despreparo e a soberba. São tantos os compromissos extra-jornalismo que afetam o dia-a-dia da redação que o ponto de equilíbrio é praticamente inatingível. Entenda-se como ponto de equilíbrio a capacidade de harmonizar a massa de informações brutas, depurando-a e a transformando em notícia com valor agregado. O Diário do Grande ABC especializou-se na prática de informação rasa, imprecisa, reticente e, quando lhe interessa, sensacionalista e parcial.

O que o Diário do Grande ABC quer da administração Luiz Marinho é mais que o naco publicitário. Há disputa surda também pelo controle de postos estratégicos da administração, como o jornal dirigido por Ronan Maria Pinto detém em Santo André do petebista Aidan Ravin. Luiz Marinho resiste. Daí o aproximação que culminou no acordo provavelmente provisório sobre o fluxo de publicidade. O que o Diário do Grande ABC quer o prefeito Luiz Marinho não aceita. Escalar um primeiro-ministro clandestino no organograma da Prefeitura seria a última opção de Luiz Marinho.

Por isso o Diário tem sido (ou foi?) implacável na cobertura jornalística. A bem da realidade, e isso é importante para que não se desclassifique integralmente a perseguição, há no noticiário muitas verdades. Mas há também meias verdades, mentiras inteiras, manipulações semânticas, omissões, descontinuidade, favoritismos, dubiedades, simplificações, contradições e sobretudo varejismo. Resumindo: o Diário do Grande ABC cobre mal e enviesadamente a administração Luiz Marinho a ponto de desclassificar-se como fonte confiável até mesmo quando o noticiário retrata situações de fato inquestionáveis.

Fossem emparelhadas as administrações do petista Luiz Marinho e do petebista Aidan Ravin, segundo as páginas do Diário do Grande ABC, os contrastes induziriam os leitores a acreditar que Santo André é a Terra Prometida e São Bernardo o Inferno. Mas isso não cabe nesta reportagem. O Diário do Grande ABC excedeu-se com tamanha volúpia ao atacar quem não lhe lambe os beiços financeiros que dispensa comparações.

O que o Diário do Grande ABC organizou durante 18 meses seguidos foi uma guerra de guerrilhas contra Luiz Marinho. Nenhuma outra administração pública da região sofreu tanto com fontes opositoras para alimentar a metralhadora giratória que atingiu seguidamente a Prefeitura de São Bernardo. As também petistas Diadema e Mauá acusaram menos golpes do que São Bernardo. A liderança regional de Luiz Marinho no espectro de centro-esquerda explica a política de retaliação editorial do Diário do Grande ABC em Diadema e em Mauá.

A tática de fragilizar a liderança do prefeito de São Bernardo não deu certo, embora arranjos com franjas petistas não faltem na ação de verdadeira agência partidária exercida pelo Diário do Grande ABC. Luiz Marinho conta com o aval do presidente da República para administrar São Bernardo longe dos tentáculos do Diário do Grande ABC.

Fosse a iniciativa crítica do Diário do Grande ABC generalizada territorialmente e esterilizada de interesses financeiros, certamente o jornalismo contaria com exemplo de comprometimento com boa parte dos anseios da sociedade. Entretanto, quando se aponta o dedo discricionário em direção específica, e dali não se arreda-pé até que um acordo publicitário é arrancado a fórceps, a prática jornalística ganha outro significado. É aí que a liberdade de imprensa traveste-se de liberdade à coerção.

Um desfile de manchetes (de primeira página ou de página interna) provavelmente ajudará o leitor a compreender a saraivada noticiosa do Diário do Grande ABC desde o começo do ano. Convém repetir que há estreito sincronismo entre as manchetes positivas e as tratativas publicitárias.

  • São Bernardo conclui licitação polêmica de publicidade.
  • Nepotismo está na mira da Procuradoria
  • Cidade da Criança recebe lotação plena
  • Luiz Marinho faz estelionato eleitoral
  • Marinho manda o povo correr para o refúgio
  • Cidade da Criança está acabada
  • MP abre inquérito para investigar nepotismo
  • Nádia Somekh vai deixar o governo Marinho
  • Prefeito de São Bernardo ignora proposta da Dersa
  • Marinho joga fora carteira escolar em bom estado
  • Forasteiros do governo Marinho não emplacam em São Bernardo
  • Marinho endossa a volta de Hamilton Lacerda ao PT
  • Admir Ferro pede abertura de CPI de móveis escolares
  • Cidade da Criança com atrações abandonadas
  • S. Bernardo atrasa entrega de uniformes
  • Miaguti dissocia sua imagem de Marinho
  • Auricchio anuncia super-hospital e com Marinho, o Metrô Leve
  • Marinho lança 1ª obra sob Lei da Billings
  • Marinho gasta R$ 7 mi em pratos e manda recolher
  • Frank Aguiar dá recado a Marinho e à oposição
  • Marinho não preenche vagas em creches
  • S. Bernardo faz propaganda enganosa sobre uniformes
  • S. Bernardo deixa entidades sem resposta
  • Burocracia prejudica merenda escolar
  • Servidores adiam votação de acordo
  • São Bernardo é punida por falhar no Ensino Infantil
  • Aliados cobram Executivo por atraso de uniforme
  • Construção de viaduto avança 60 cm por dia
  • Professor faz 40 horas e só recebe salário de 24
  • Empresa troca pratos de vidro de escolas
  • Cidade da Criança funciona só no papel
  • Marinho protesta devedor de IPTU
  • Marinho reedita lei ilegal de protestos
  • Marinho inaugura maquete de novo hospital
  • Parte dos alunos ainda não tem uniforme
  • MP apura repasse a ONG de São Bernardo
  • Cidade da Criança continua abandonada
  • Marinho vai à Justiça para censurar Diário
  • Ferro aponta ilegalidades em reforma de colégio
  • Morador também compra bons móveis escolares
  • São Bernardo suspende protestos de IPTU
  • Marinho alfabetiza peão
  • Governo Marinho sofre quinta baixa
  • Fundação Criança receberá R$ 100 mil
  • Delegação sueca visita São Bernardo
  • MP investiga merenda escolar em S. Bernardo
  • Prefeito garante que crianças não correm risco
  • Câmara deixa Marinho contratar quanto quiser
  • Marinho defende contratos temporários ilimitados
  • Marinho promete sete CEUs até 2012
  • William Dib rebate críticas de Luiz Marinho
  • Governo Lula dá R$ 9 mi para o pavilhão Vera Cruz
  • S. Bernardo firma acordo tapa-buraco com Sabesp

Apresentamos na sequência, por ordem cronológica, a coleção das matérias publicadas pelo Diário do Grande ABC a partir de janeiro deste ano. Sintomaticamente, a exposição começa com a primeira reportagem desta temporada, exatamente a que dá conta da definição das agências de publicidade que cuidariam dos recursos da Prefeitura de São Bernardo.

  • Manchete de página de 8 de janeiro: "São Bernardo conclui licitação polêmica de publicidade". Subtítulo: "Três empresas venceram; antes, serviços eram feitos por uma". Alguns trechos da matéria: "Após dois anos de imbróglio jurídico que envolvia o contrato de publicidade da Prefeitura de São Bernardo, a administração municipal, enfim, publicou as vencedoras da licitação que a partir deste mês prestarão serviços na área de Comunicação". O Diário já havia antecipado as três empresas com potencial de êxito no certame. As companhias apresentam ainda históricos polêmicos. (…) Se a Prefeitura gastar o limite máximo previsto no acordo a verba despendida poderá chegar a R$ 12,6 milhões, valor superior ao orçamento da Secretaria de Comunicação para 2010, de R$ 9 milhões.
  • Manchete de página de 15 de janeiro: "Nepotismo está na mira da Procuradoria". Subtítulo: "Em São Bernardo, Luiz Marinho ainda não respondeu a questionamentos do Ministério Público". Alguns dos principais trechos da matéria: "A Cremimp (Câmara Especializada em Crimes Praticados por Prefeitos), ligada à Procuradoria-Geral do Ministério Público Estadual, acompanha a apuração feita pela promotoria de São Bernardo sobre casos de nepotismo do petista Luiz Marinho. A manifestação do procurador da Justiça Antônio Celso Pares Vita no processo é enfática. Se mantidos servidores comissionados com parentesco, até o terceiro grau, de funcionários com cargo de chefia no Executivo, pode estar caracterizado ato de improbidade administrativa. O crime de improbidade sujeita o agente público à perda do mandato e até mesmo dos direitos políticos. (…) O petista informou (ao Ministério Público) apenas que as medidas para retirar casos de nepotismo da administração já foram tomadas — foi feito levantamento familiar dos servidores e os casos notórios foram exonerados, como pessoas ligadas ao aliado de Marinho, Maurício Soares, assessor especial de gabinete".
  • Manchete principal de página interna de 16 de janeiro: "Cidade da Criança recebe lotação plena". Subtítulo: "Público de 40 mil pessoas já havia sido registrado na primeira reinauguração, em 1992". Alguns trechos mais importantes da matéria: "Milhares de pessoas foram conferir a reabertura da Cidade da Criança, ontem. Com base em cálculos feitos pela GCM (Guarda Civil Municipal), a administração do parque estimula que 40 mil pessoas passaram pelo local enquanto os portões permaneceram abertos. (…) Nos quase 50 mil metros quadrados, era possível avistar filas nos brinquedos em funcionamento: Carrossel, El Dorado, Rio Amazonas, Avião, Planetário e Simulador. Seis pulapulas também disputavam a atenção das crianças, entre outras atrações. (…)".

Observação – Não se registrou praticamente nenhuma crítica ao conjunto de brinquedos disponível.

  • Manchete de página de 19 de janeiro: "Luiz Marinho faz estelionato eleitoral". Subtítulo: "Orlando Morando analisa o primeiro ano da gestão do petista que enfrentou nas urnas em 2008″. Alguns títulos auxiliares: "Prefeito fez processo de destruição". "De positivo, a continuidade dos projetos passados". "Oposição é exemplo e não devem ocorrer saídas do grupo de base".

Observação – A prática de utilizar terceiros para atingir a administração Luiz Marinho se mostrará permanente.

  • Manchete principal da primeira página de 23 de janeiro, em três colunas: "Marinho manda o povo correr para o refúgio". Subtítulo: "São Bernardo vai oferecer 13 locais de abrigo para moradores ameaçados pelos temporais". O texto da chamada de primeira página: "O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, montou a operação Alerta Sai de Casa para retirar pessoas de suas residências em área de risco quando houver chuva forte. Segundo a secretaria de Habitação, ao primeiro sinal de trincas e rachaduras, rebaixamento no terreno ou inclinação de árvores, a orientação é sair imediatamente para o refúgio". Título da página interna: "Marinho manda o povo para refúgio". O subtítulo: "São 13 locais que servirão para moradores de áreas de risco se abrigarem durante chuvas".

Observação – O tom sensacionalista dispensa comentários.

  • Manchete principal de página interna de 26 de janeiro: "Cidade da Criança está acabada", afirma Ferro. O subtítulo: "Vereador faz relatório de como entregou e como está o espaço". Alguns trechos da matéria: "O então secretário de Educação de São Bernardo, Admir Ferro, responsável pela reinauguração da Cidade da Criança, em dezembro, critica duramente a atual administração, que deixou o parque fechado por mais de um ano e o reabriu dia 17 pior do que estava. O tucano, hoje vereador da oposição, visitou as instalações no fim de semana. Segundo Ferro, apenas três das 18 atrações do espaço estavam em funcionamento".

Observação – A terceirização da crítica é uma afronta ao senso de reportagem. O que deveria ser apenas um dos entrevistados, tornou-se protagonista.

  • Manchete de 30 de janeiro: "MP abre inquérito para investigar nepotismo". Subtítulo: "Promotoria de S. Bernardo busca respostas do prefeito Marinho". Uma foto da campanha eleitoral de Luiz Marinho ao lado de sua mulher, Nilza Oliveira, e a legenda "Marinho contratou esposa Nilza de Oliveira, o que gerou primeira denúncia" procura vincular o conceito de nepotismo que a própria matéria desmente. Alguns trechos da matéria: "A investigação dos casos de nepotismo da Prefeitura de São Bernardo feita pelo MP (Ministério Público) da cidade passou de uma simples apuração, iniciada após representação que denunciava supostas irregularidades, para inquérito civil público, aberto pela promotora Silvia Marques Gonçalves Pestana. Ainda assim, o prefeito Luiz Marinho (PT) ainda não enviou informações sobre quantos e quais são os servidores que se enquadram na Súmula Vinculante 13 do STF (Superior Tribunal Federal). (…) A apuração dos funcionários da Prefeitura que possuem parentes em cargos de chefia no Executivo começou em março do ano passado, após a denúncia sobre a contratação de Nilza de Oliveira, mulher de Marinho como secretária de Planejamento (hoje ela comanda a Pasta de Orçamento Participativo). Mas ela não se enquadra no nepotismo porque a Súmula 13 do STF abre precedentes para contratação de parentes em cargos políticos de primeiro escalão, ou seja, de ministros de Estado, secretários estaduais e municipais.

Na coluna "Cena Política", de 4 de fevereiro, destaque principal no alto da página sob o título "O profeta", recomenda-se a Luiz Marinho que "pode começar a pensar em outro ofício, se o futuro político não for dos mais promissores: o de estagiário de Mãe Dinah. O colunista lembrou que numa solenidade pública, Marinho se referiu ao tempo bom em São Bernardo, depois de dias tormentosos de chuva, quando, então, desabou um temporal". "Ainda bem que ele não ganha a vida fazendo previsões" — escreveu.

  • Manchete principal de 21 de fevereiro: "Nadia Somekh vai deixar o governo Luiz Marinho". Subtítulo: "Será o quarto integrante do 1º escalão a sair em 14 meses".

Observação – Uma notícia tão inquestionavelmente negativa como imprescindível à publicação.

  • Manchete principal de primeira página de 22 de fevereiro: "Prefeito de São Bernardo ignora proposta da Dersa". Subtítulo: "Estatal quer investir R$ 55,6 milhões na cidade, mas não tem resposta". O texto da chamada de primeira página: "Está na mesa do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, projeto da Dersa que pretende investir R$ 55,6 milhões em obras e serviços para minimizar o impacto do Trecho Sul do Rodoanel. A minuta foi entregue no ano passado, mas até agora a estatal não obteve resposta". Manchete principal da página interna: "Marinho ignora R$ 55,6 milhões da Dersa".

Observação – O contraponto da administração municipal na mesma edição, de forma equilibrada, é regra básica do jornalismo. Não foi o que ocorreu.

  • Manchete principal de primeira página de 24 de fevereiro: "Marinho joga fora carteira escolar em bom estado". Subtítulo: "São pelo menos 80 mil conjuntos descartados; o Diário compra mesa e cadeira por R$10″. A chamada de primeira página: "A administração Luiz Marinho (PT) tem descartado em São Bernardo cadeiras e mesas escolares em bom estado de conservação. Pelo menos 80 mil conjuntos, muitos com placas de identificação de patrimônio público, foram enviados para uma usina de reciclagem no bairro Assunção, que pode vender o produto sem repassar o lucro à Prefeitura. Segundo funcionário do local, já foram comercializados cinco contêineres do material. A grande procura é um dos indícios da boa conservação do mobiliário. O Diário comprou mesa e cadeira por R$ 10". Manchete da página interna: "Marinho descarta móveis de escolas em boa estado". Foram reservados 15% do texto, em pé de página, para as considerações da Prefeitura.

Observação – Até prova em contrário a denúncia do jornal parece inquestionável. As explicações da Prefeitura, no pé da reportagem, não ofereciam sustentação.

  • Manchete de página de 28 de fevereiro, domingo: "Forasteiros do governo Marinho não emplacam em São Bernardo". Subtítulo: "Secretários de fora da cidade são alvo de críticas; quatro já deixaram os cargos". Alguns trechos da matéria: "Mesmo com quatro mudanças no primeiro escalão desde que assumiu a Prefeitura de São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho (PT) mantém o secretariado importado. Integrantes do governo em importantes cargos do governo são de fora da cidade, o que tem gerado críticas da oposição. O argumento dos políticos contrários à gestão petista é que os secretários de Marinho, oriundos de cidades como Santos, Campinas, São Paulo e Santo André, desconhecem as características de São Bernardo. E o período de adaptação gera retardo nos resultados da administração. O único dos quatro substitutos que tem histórico no município é o ex-vereador José Ferreira".

Observação – Esse modelo de xenofobismo municipal é uma aberração destilada apenas seletivamente, quando interessa de fato espicaçar uma administração pública. O homem-chave da Prefeitura de Santo André, Nilson Bonome, veio diretamente de Mauá. Ligadíssimo ao dono do Diário do Grande ABC, Bonome acaba de receber o título de Cidadão Andreense, por conta de manobras de bastidores da base aliada, cujos principais líderes estão afinadíssimos com a direção do jornal. Há dezenas de casos no passado e também no presente de secretários municipais não-residentes nos municípios a que servem. Bonome é candidato à Prefeitura de Mauá nas próximas eleições, segundo publicou o próprio Diário na matéria de meia página em louvor ao título de cidadania.

  • Manchete principal de primeira página de 23 de fevereiro: "Marinho endossa a volta de Hamilton Lacerda ao PT". Subtítulo: "Ele havia saído da sigla por suposto envolvimento na venda de dossiê contra tucanos". Manchete principal da página interna: "Hamilton Lacerda volta aos quadros do PT". Subtítulo: "Ex-prefeiturável de São Caetano assinou ficha no gabinete de Luiz Marinho, de São Bernardo".

Observação – É dispensável qualquer observação.

  • Manchete de página de 25 de fevereiro: "Admir Ferro pede abertura de CPI de móveis escolares". Subtítulo: "Falta só uma assinatura para solicitação ser votada na Câmara".

Observação – O jornal jamais informou o resultado da proposta. Pelo menos com a visibilidade do pronunciamento do vereador tucano.

  • Manchete principal de página interna de 5 de março: "Cidade da Criança com atrações abandonadas". O subtítulo: "Brinquedos do parque estão fora de operação ou fechados". Alguns trechos da matéria: "Depois de quase dois meses da reinauguração da Cidade da Criança de São Bernardo, o parque já encontra-se em situação de abandono. O Diário esteve ontem no local e constatou que 90% dos brinquedos têm placas informando aos frequentadores que os equipamentos estão temporariamente fora de operação.

Observação — O jornal jamais conseguiu explicar por que não identificou os problemas quando da reinauguração em janeiro, período no qual havia negociações para a distribuição dos recursos publicitários da Prefeitura.

  • Manchete de página de 9 de março: "S. Bernardo atrasa entrega de uniforme". Subtítulo: "Prefeitura não cumpriu meta de distribuir vestimentas para os estudantes até o dia 26″.

Observação – O jornal jamais contextualizou a situação em relação a outros municípios.

  • Manchete de 10 de março de página interna: "Miaguti dissocia sua imagem de Marinho". Subtítulo: "Democrata que substituirá Ramon Ramos na Câmara diz não integrar qualquer grupo político".

Observação – Uma matéria para desgastar imagem do prefeito.

  • Manchete de primeira página de 11 de março: "Auricchio anuncia super-hospital e com Marinho, o Metrô Leve". Subtítulo: "São Caetano ganhará megacomplexo de Saúde; monotrilho ligará Alvarenga à Tamanduateí". O texto de primeira página: "O Grande ABC vai ganhar dois megaprojetos nas áreas de Saúde e Transporte. São Caetano terá o Hospital da Mulher e novo centro de internação. O prefeito José Auricchio Júnior (PTB) aguarda apenas aprovação de crédito de R$ 30 milhões do BNDES para a obra que deve começar em outubro. Já São Bernardo terá ligação direta à Estação Tamanduateí do Metrô Leve. Estudo preliminar feito pela Prefeitura, ao custo de R$ 1,5 milhão, foi apresentado ontem. A expectativa é que a construção tenha início em um ano".

Observação – Manchete consequente de encontro entre Ronan Maria Pinto e Luiz Marinho, quando se ensaiou aproximação entre as partes.

  • Manchete de página interna de 13 de março: "Marinho lança 1ª obra sob Lei da Billings". Subtítulo: "Prefeito de S. Bernardo faz ato de assinatura do PAC Alvarenga, para urbanização em área de manancial".

Observação – Matéria ainda consequente do encontro entre Ronan Maria Pinto e Luiz Marinho num restaurante em Santo André.

  • Manchete principal de primeira página de 17 de março: "Marinho gasta R$ 7 mi em pratos e manda recolher". Subtítulo: "Educação diz que utensílios de vidro e porcelana não eram resistentes". Manchete da página interna: "S.Bernardo suspende uso de pratos e xícaras de vidro". Subtítulo: "Material coloca em risco alunos e funcionários da Educação". Alguns trechos da matéria: "A Prefeitura de São Bernardo, comandada por Luiz Marinho (PT), suspendeu o uso de pratos e xícaras de vidro e porcelana na rede pública de ensino. Os utensílios de plástico foram substituídos há pouco tempo. Para o vereador Admir Ferro (PSDB), com a medida, a administração admite o equívoco na escolha do material, manuseado por crianças, que correm o risco de se machucar com a quebra de objetos. (…) Foram R$ 7,4 milhões gastos em 5.000 travessas, 15,6 mil jogos de xícaras de porcelana, 35 mil canecas de vidro, 20 mil tigelas de louça, 15 mil copos de vidro tipo americano e 60 mil pratos fundos de vidro, dentro outros utensílios, segundo levantamento de Ferro".

Observação – Uma matéria aparentemente incontestável. O acordo precário da conta de publicidade e de outras demandas do Diário do Grande ABC já ruíra.

  • Manchete de página interna de 18 de março: "Frank Aguiar dá recado a Marinho e à oposição". Subtítulo: "Petebista quer relação harmoniosa entre Executivo e Legislativo". Alguns trechos da matéria: "Em seu terceiro dia como prefeito em exercício de São Bernardo, Frank Aguiar (PTB) fez visita de cortesia ontem aos vereadores da Câmara e, em sua passagem de uma hora pelo local, deixou recado para o chefe do Executivo, Luiz Marinho (PT), que está em viagem na Europa, e aos parlamentares da oposição. A mensagem objetivou melhorar a relação entre a administração e o Legislativo, com aproximação entre as partes".

Observação – O vice-prefeito Frank Aguiar é um aliado ocasional do Diário do Grande ABC, por conta partidária, ligado que é a caciques do PTB (Campos Machado, especialmente), cuja força-tarefa, em conjunto com os tucanos do governo estadual, ajudou a eleger Aidan Ravin em Santo André.

  • Manchete de página interna de 22 de março: "Marinho não preenche vagas em creches". Subtítulo: "Entidades assistenciais de São Bernardo reclamaram que Prefeitura não encaminha alunos". A legenda da foto de Luiz Marinho: "Déficit de vagas foi uma das críticas de Marinho em campanha eleitoral". A legenda do vereador Admir Ferro, secretário de Educação da administração anterior: "Vereador Admir Ferro classifica como "absurdo" as vagas ociosas".

Observação – Se todas as promessas de campanha fossem traduzidas em manchetes, os prefeitos do Grande ABC não sairiam das páginas do Diário do Grande ABC. O Poupatempo da Saúde, em Santo André, por exemplo, já sofreu vários adiamentos. A elasticidade de cronogramas faz parte do DNA público. Lamentavelmente ou não, mas faz parte.

  • Manchete principal de primeira página de 23 de março: "S. Bernardo faz propaganda enganosa sobre uniformes". Subtítulo: "Pais dizem que kit escolar não foi entregue a todos os alunos". O texto de primeira página: "Propaganda enganosa. É esse o conteúdo de outdoors espalhados por São Bernardo para anunciar que material didático e uniformes foram entregues a alunos nos primeiros dias de aula. A realidade é outra em algumas unidades de ensino da rede municipal. Passados 42 dias do início do ano letivo, pais reclamam que os itens ainda não foram recebidos pelos alunos. Prefeitura informou que prazo de entrega vai até o fim de março, e que está seguindo a ordem de distribuição dos lotes estabelecidos em contrato". Manchete da página interna: "Uniforme escolar só chegou no outdoor". Subtítulo: "Pais reclamam que Prefeitura de São Bernardo não cumpriu promessa de distribuir conjuntos".

Observação – Note-se que a matéria versa sobre uma parte, apenas uma parte, de alunos que não recebeu kit escolar. As explicações da Prefeitura são minimizadas editorialmente.

  • Manchete principal de página interna de 23 de março: "S. Bernardo deixa entidades sem resposta". Subtítulo: "Fórum de Assistência Social realiza reunião, mas ninguém da Prefeitura comparece ao encontro". Alguns trechos da matéria: "A Prefeitura de São Bernardo deixou os representantes das entidades assistenciais conveniadas sem resposta sobre os motivos que levaram a administração a não preencher as vagas para crianças de zero a 6 anos que estão abertas nas instituições".

Observação – Dispensa-se observação.

Na coluna "Cena Política", sob o título "Política de trânsito", o vereador Admir Ferro faz pilheria com a administração Marinho, ao afirmar que a redução da velocidade é motivada pelo grande número de buracos nas ruas.

  • Manchete principal de página de 27 de março: "Burocracia prejudica merenda escolar". O subtítulo: "Emebs de São Bernardo apresentam dificuldade de fornecer refeição por falta de alimentos". Alguns trechos da matéria: "Algumas Emebs (Escolas Municipais de Ensino Básico) de São Bernardo tiveram dificuldade em garantir a merenda nos últimos dias, pois a Prefeitura deixou de enviar alimentos para as instituições de ensino. A administração nega qualquer problema de fornecimento de produtos e afirma que a situação está normalizada. Porém, a reportagem entrou em contato com as unidades de ensino, que relataram a condição das refeições. (…) O ex-secretário de Educação de São Bernardo, vereador Admir Ferro (PSDB), criticou a medida da atual gestão comandada pelo prefeito Luiz Marinho: "Se não era para renovar o contrato que estava em andamento, a nova licitação deveria ser colocada na rua de quatro a seis meses antes do término do compromisso. (…) O parlamentar destacou ainda que a gestão petista pode ter problemas seríssimos com o TCE (Tribunal de Contas do Estado) por ter elaborado contrato emergencial".

Observação – De novo se toma a parte pelo todo. E de novo o tucano Admir Ferro é protagonista do noticiário.

  • Manchete de página de 2 de abril: "Servidores adiam votação de acordo". Subtítulo: "Proposta da Prefeitura de S. Bernardo foram consideradas golpes para dividir a categoria".

Observação – Situações semelhantes em outros municípios não tiveram o mesmo tratamento jornalístico. Exceto dos administradores petistas.

De novo na coluna "Cena Política", agora de 3 de abril, sempre no topo da página, agora sob o título "Império de Marinho", colunista retratou ambiente envolvendo assembléia dos funcionários públicos. Marinho foi comparado a Nero.

  • Manchete principal de primeira página de 6 de abril: "São Bernardo é punida por falhar no Ensino Infantil". Subtítulo: "Multa aplicada pelo MP por descumprimento em criar 8.300 vagas chega a R$ 151 milhões". O texto de primeira página: "A Prefeitura de São Bernardo deve multa de R$ 151 milhões por não ter atingido a meta de criar cerca de 8.300 vagas de Ensino Infantil entre 2006 e 2008. A sanção ao Executivo é oriunda de processo aberto ainda em 2002 pelo Ministério Público, quando a demanda de crianças de zero a 6 anos era inferior a 9.000 vagas. Quatro anos mais tarde, saiu a sentença dando dois anos para a Prefeitura solucionar o problema. Porém, apenas metade do número exigido foi alcançado até junho de 2008, quando expirou o prazo, ainda na gestão do prefeito William Dib (PSDB)". Na página interna, título foi adaptado para: "Falha no Ensino Infantil gera multa de R$ 151 milhões". No subtítulo: "MP condena Prefeitura de São Bernardo por alunos fora da escola".

Observação – Uma foto do prefeito de São Bernardo, com a legenda "Gestão de Luiz Marinho pode fazer acordo para evitar o pagamento", faz trucagem marota ao induzir os leitores a acreditarem que se trata de ônus da administração petista.

  • Manchete principal de página de 7 de abril: "Aliados cobram Executivo por atraso de uniforme". Subtítulo: "Vereadores governistas de S. Bernardo querem solução em 15 dias".

Observação – O desgaste continua.

  • Manchete de página de 9 de abril: "Construção de viaduto avança 60 cm por dia". Subtítulo: "No Rodoanel, evolução diária era de 58,5 m". Alguns trechos da matéria: "A construção do viaduto que ligará a Avenida Lions, em São Bernardo, à Prestes Maia, em Santo André, avança apenas 60 centímetros por dia, o equivalente a duas réguas escolares. Já o trecho Sul do Rodoanel, liberado para o tráfego na quinta-feira, teve ritmo diário de avanço de 58,5 metros (…) Outro dado que chama a atenção é que, mesmo sendo 123 vezes menor do que o Trecho Sul do Rodoanel, o custo por quilômetro da construção do viaduto de São Bernardo corresponde a praticamente a metade dos gastos da obra que será vitrine da candidatura do tucano José Serra à presidência".

Observação – Nenhum especialista foi ouvido sobre a estapafúrdia comparação de obras tão distintas. A matéria peca pela simplificação da ignorância travestida de conhecimento.

  • Manchete principal de primeira página de 20 de abril: "Professor faz 40 horas e só recebe salário de 24″. Subtítulo: "Denúncia parte de substitutos da rede de ensino de S. Bernardo". O texto da primeira página: "Professores substitutos da rede municipal de São Bernardo que decidiram ampliar jornada de trabalho para 40 horas estão recebendo por apenas 24 horas desde fevereiro. A diferença no salário é de R$ 700, aproximadamente. Associação de Profissionais da Educação do Município de São Bernardo alega descaso da administração. A Prefeitura não soube responder quantos educadores estão com o problema e nem quando o solucionará". Manchete da página interna: "Professora ganha menos que prometido". Subtítulo: "Profissionais ampliaram carga de trabalho para 40 horas, mas recebem valor de 24″.

Observação – Aparentemente, um novo caso sem contestação. Mas, como outros, sem o peso institucional que uma manchete de primeira página implicaria.

  • Manchete de página de 20 de abril: "Empresa troca pratos de vidro de escolas". Subtítulo: "Após incidentes, Santa Marina inicia mudanças dos utensílios, que continuarão sendo de vidro".

Observação — A matéria não tem profundidade.

  • Manchete principal de primeira página de 22 de abril: "Cidade da Criança funciona só no papel". O subtítulo: "Panfleto mostra 17 brinquedos, mas apenas dois estão em atividade". O texto de primeira página: "Dos 17 brinquedos da Cidade da Criança que constam em mapa distribuído pela Prefeitura de São Bernardo na entrada do parque, apenas dois estão em funcionamento. Nas demais atrações, há placas informando que os equipamentos estão temporariamente fora de operação. Situação ocorre após três meses da reinauguração do parque, que ficou fechado por quase um ano. Ontem, várias famílias se decepcionaram com o que encontraram no local. Administração informou que os brinquedos estão passando por manutenção e em breve voltarão a funcionar". Na página interna, o título reservado foi: "Mapa de parque ilude frequentadores". O subtítulo: "De 17 brinquedos mostrados em folheto da Cidade da Criança, em São Bernardo, só dois estão funcionando".

Observação – O jornal segue sem explicar as razões que o levaram a produzir uma matéria promocional em janeiro para, em seguida, descobrir um cemitério de brinquedos.

  • Manchete principal de primeira página de 23 de abril: "Marinho protesta devedor de IPTU". Subtítulo: "Medida, considerada impopular, pode deixar os contribuintes com o nome sujo na praça". O texto da primeira página. "A administração Luiz Marinho (PT) mandou para o cartório de protestos os contribuintes de São Bernardo que deixaram de pagar o IPTU, de 2009, inclusive. A não-quitação os deixará à mercê de terem seus nomes sujos. A medida é considerada ilegal por especialistas em direito tributário e impopular pelos protestados. A Prefeitura de São Paulo tentou fazer o mesmo há dois anos, mas foi proibida por liminar. O governo de São Bernardo diz que a atitude foi embasada no artigo 16 da lei 5.970, enviada à Câmara para aprovação no ano passado". Manchete principal da página interna: "S. Bernardo protesta devedores de 2009″. O subtítulo: "Em poucos dias, nomes dos contribuintes podem ficar sujos; para especialistas, medida é ilegal".

Observação – Outras administrações municipais adotaram medidas semelhantes sem, entretanto, causarem tanto rebuliço midiático.

  • Manchete principal de 27 de abril: "Marinho reedita lei ilegal de protestos". O subtítulo: "Em 2001, Prefeitura de São Bernardo formulou norma semelhante, rejeitada pela Justiça". Alguns trechos da matéria: "A lei que possibilita sujar o nome dos devedores de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de autoria do prefeito Luiz Marinho (PT) é uma reedição de legislação semelhante, criada em 2001, a qual foi considerada ilegal pela Justiça. Como a secção de São Bernardo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ingressou com ação contra a lei anterior, idealizada pelo então chefe do Executivo Maurício Soares (PT), hoje assessor especial de gabinete de Marinho, somente os advogados não podem ser protestados. O restante da população que possui débito com a administração é encaminhada para o cartório, que faz a cobrança extrajudicial. Os nomes dos devedores que não quitarem as pendências em até cinco dias passam a constar do banco de dados dos cartórios, da Serasa (Centralização dos Serviços Bancários S/A) e do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). (…) Mas o prefeito petista pode continuar protestando outros inadimplentes, que não os advogados. A medida está calcada no artigo 16 da lei 5.970, de 29 de setembro de 2009".

Observação – A matéria é uma enxurrada de contradições.

  • Manchete de página de 29 de abril: "Marinho inaugura maquete de novo hospital". Subtítulo: "Unidade será construída na Estrada dos Alvarenga".

Observação – Uma velha tática de desclassificação de um ato público comum entre prefeitos.

  • Manchete principal de página (e também de primeira página) de 1º de maio: "Marinho protesta mãe de líder do TSE". Subtítulo: "Em medida irregular, S. Bernardo envia para cartório de cobrança a genitora de Ricardo Lewandowski". Alguns trechos da matéria: "Os débitos que a Prefeitura de São Bernardo encaminha para cobrança do cartório de protestos, medida considera ilegal por alguns especialistas, ganhou notoriedade não só pelas reclamações que tem gerado, mas também por quem pode ter seu nome sujo irregularmente. A administração do prefeito Luiz Marinho enviou ao cartório de protestos Karolina Zofia Lewandowski, mãe do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ministro do STF (Superior Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski".

Observação – Uma matéria que comporta várias leituras, mas um conceito-chave: por que a personalização da contribuinte? Outra pergunta: por que a medida seria irregular se o próprio jornal, em matéria anterior, atribuía legalidade à decisão?

  • Manchete de página de 1º de maio: "Parte dos alunos ainda não tem uniforme". Subtítulo: "Em pelo menos duas escolas de São Bernardo kits estão incompletos e sem remuneração".

Observação – De novo a parte tomada pelo todo.

Da coluna "Cena Política" de 1º de maio, nota principal sob o título "Semana difícil", mais comentários críticos à administração Marinho: "Definitivamente a semana não foi das melhores para o prefeito (…). Primeiro, foi a impopular ação administrativa de mandar para protesto todos os inadimplentes de IPTU (…). Depois, a desastrosa decisão de inaugurar maquete do Hospital de Clínicas (…). Para completar os últimos dias de inferno astral, o petista ficou inconformado com o fato de Santo André — governada por Aidan Ravin (PTB) ter sido a primeira cidade da região a ser contemplada com recursos do PAC2″.

  • Manchete de página interna de 7 de maio: "MP apura repasse a ONG de São Bernardo". O subtítulo: "Promotoria faz acompanhamento preventivo em 2009, subsídio foi barrado por polêmica". Alguns trechos da matéria: "O MP (Ministério Público) de São Bernardo apura a intenção de a Prefeitura repassar R$ 420 mil ao Instituto Ação e Reação Nove de Julho. A promotoria ressalta, no entanto, que trata-se de acompanhamento preventivo, pois por enquanto não há indícios de irregularidades. A atenção do MP no subsídio à ONG visa garantir que os recursos serão aplicados em programas e projetos para crianças e adolescentes da cidade. (…) O Instituto Ação e Reação Nove de Julho tem sede na Capital paulista. E o município da região, segundo a propositura de Luiz Marinho, promoveria atividades socioeducativas, culturais e de lazer em horário diferente ao das aulas dos estudantes de 7 a 17 anos da cidade".

Observação – Matéria especulativa de desdobramentos esquecidos.

  • Manchete secundária de página interna de 8 de maio: "Cidade da Criança continua abandonada". O subtítulo: "Falta de manutenção no parque de São Bernardo espanta os frequentadores; Prefeitura não toma atitude".

Observação – A mesma ladainha de sempre, sem as explicações sobre a normalidade funcional do parque na reinauguração em janeiro.

  • Manchete de página interna de 11 de maio: "Marinho vai à Justiça para censurar Diário". O subtítulo: "Prefeito de S. Bernardo consegue liminar para impedir jornal de falar sobre o descarte de carteiras escolares". Alguns trechos da matéria: "O Diário está sob censura. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), recorreu à Justiça, impedindo que o jornal publique reportagens sobre o descarte da administração municipal de carteiras escolares em bom estado de conservação".

Observação – Há muito o jornal não publica mais nada sobre o assunto, que teria sido empacotado no acordo que viria longo a seguir.

  • Manchete de 13 de maio: "Ferro aponta ilegalidades em reforma de colégio". Subtítulo: "Prefeitura de S. Bernardo aplicou R$ 3,2 mi na revitalização". Alguns trechos da matéria: "O vereador Admir Ferro (PSDB) apontou ontem, durante sessão da Câmara, duas supostas irregularidades que a Prefeitura promove no Colégio Salete Uniban. As ilegalidades estariam vinculadas à aplicação de R$ 3,2 milhões para reforma do imóvel. A primeira crítica do tucano recai sobre o investimento do Executivo num espaço que não está registrado em nome do poder público. A área é da administração, mas foi cedida pelo período de 100 anos para a PIA — Sociedade dos Missionários de São Carlos, para instalação do Colégio Menino Jesus, que posteriormente transformou-se em Salete. O local está inativo há quatro anos. Em resposta ao requerimento do parlamentar, a Prefeitura afirma que o imóvel fora devolvido pela entidade em agosto, por rescisão amigável do contrato. Mas admite que oficialmente o espaço ainda não foi restituído".

Observação – Matéria confusa, imprecisa e que também não teve continuidade.

  • Manchete de página de 15 de maio: "Morador também compra bons móveis escolares". Subtítulo: "Prefeitura de S. Bernardo descartou material que poderia ser usado".

Observação – Mais uma estocada para que os contendores sentassem à mesa.

  • Manchete de página de 19 de maio: "São Bernardo suspende protestos de IPTU". O subtítulo: "Medida visa facilitar adesão ao programa de parcelamento, mas é válida apenas para associações". Alguns trechos da matéria: "A Prefeitura de São Bernardo suspendeu o envio de dívidas de IPTU de associações da cidade para cobrança em cartório. Ao todo, 42 associações foram beneficiadas com a medida".

Observação – O jornal deixou de dizer com clareza que a medida está sincronizada com a legalidade da ação da Prefeitura.

  • Manchete de primeira página de 27 de maio: "Marinho alfabetiza peão". Subtítulo: "Decreto da Prefeitura de S. Bernardo dá melhores condições a trabalhadores". O texto de primeira página: "Graças a um decreto da Prefeitura de São Bernardo, trabalhadores de empresas vencedoras de licitações públicas passam a ter condições dignas e são alfabetizados. É o caso de 26 funcionários de um canteiro de obras do Conjunto Três Marias, no bairro Cooperativa". Manchete da página interna: "São Bernardo alfabetiza operário no canteiro". O subtítulo: "Iniciativa é parte de política de trabalho decente do município".

Observação – Começou a temporada de editorial mais flexível.

Submanchete de 19 de junho: "Governo Marinho sofre quinta baixa". O subtítulo: "Patrícia Veras deixa dia 25 a Secretaria de Transportes e Vias Públicas". Alguns trechos da matéria: "A secretária de Transportes e Vias Públicas de São Bernardo, Patrícia Veras, será o quinto integrante do primeiro escalão a deixar o governo Luiz Marinho (PT), em um ano e meio de gestão. O secretário adjunto, Geraldo Moura, também será exonerado. (…) Oficialmente, a saída da secretária foi justificado pela necessidade de buscar novos desafios na carreira. Mas nos bastidores ventila-se que foi motivada pelo descontentamento do prefeito com o andamento da Pasta". Num boxe, ou seja, texto auxiliar, sob o título "Quatro outros já se afastaram do Executivo", um retrospecto dos secretários que deixaram a administração petista. Sem qualquer menção ao conceito de "forasteiros".

Observação – Diferentemente de outros afastamentos, o jornal minimiza editorialmente a mudança. E os "forasteiros" já não eram mais "forasteiros".

  • Manchete de página de 20 de junho: "Fundação Criança receberá R$ 100 mil". O subtítulo: "Verba irá para identificação e localização de menores desaparecidos em São Bernardo".

Observação – Reforça-se a safra de boas notícias.

  • Manchete de página de 22 de junho: "Delegação sueca visita São Bernardo". O subtítulo: "Prefeita de Linköping, cidade dos caça Gripen, se impressiona com incubadora e Scania".

Observação – Mais uma boa notícia.

  • Manchete de primeira página de 22 de junho: "MP investiga merenda escolar de S. Bernardo". O subtítulo: "Inquérito vai apurar qualidade de alimento oferecido na rede estadual do município". O texto da primeira página: "A Promotoria de Justiça da Infância de São Bernardo abriu inquérito, ontem, para apurar a qualidade da merenda escolar da rede estadual no município. Piora na qualidade do alimento foi tema de denúncia de professores publicada pelo Diário na quarta-feira. Segundo sindicato de educadores, é grande a quantidade de comida enlatada na refeição, o que pode causar problemas de saúde". Manchete principal da página interna: "Merenda escolar será investigada". O subtítulo: "Ministério Público abre inquérito para apurar denúncias em rede estadual em São Bernardo".

Observação – Esta matéria, coincidentemente, se dá logo em seguida à denúncia de CapitalSocial sobre o acordo entre as partes. E está recheada de traição, porque se confunde administração municipal e governo estadual, com quem o Diário mantém relacionamento fértil.

  • Manchete de página de 24 de junho: "Prefeito garante que crianças não correm risco". O subtítulo: "Marinho não deu prazo para erguer muro de arrimo no Cenforpe". Alguns trechos da matéria: "Após a confusão envolvendo o repórter do programa CQC, da Band, Danilo Gentili, que alega ter sido agredido anteontem na saída do Cenforpe (Centro de Formação de Professores), de São Bernardo, o Diário foi checar a reclamação feita por mães de alunos da Emeb Júlio de Grammont, situada no local. (…) O prefeito da cidade, Luiz Marinho, garantiu a segurança das crianças. No entanto, o prefeito não confirmou quando será concluído o muro de arrimo necessário para conter a encosta. (…)".

Observação – Já imaginaram a repercussão do jornal, em tom sensacionalista, não fosse o acordo publicitário?

  • Manchete de primeira página de 24 de junho: "Câmara deixa Marinho contratar quanto quiser". O subtítulo: "Oposição cogita inconstitucionalidade da matéria; base governista se defende". O texto da primeira página: "A Câmara de São Bernardo aproveitou ontem projeto de lei que autoriza o prefeito Luiz Marinho a contratar quantos funcionários temporários — de qualquer área — quiser. Indignada, a oposição classifica a medida como um "cheque em branco" ao prefeito e cogita inconstitucionalidade da matéria. Lideranças do governo no Legislativo se defendem alegando que o projeto é destinado para situações temporárias e emergenciais como combate a surtos epidêmicos e realização de censo socioeconômico. No entanto, opositores rebatem novamente e dizem que já existe legislação para este tipo de contratação". Manchete da página interna: "Luiz Marinho poderá contratar à vontade". O subtítulo: "Câmara autoriza prefeito de São Bernardo a chamar temporários, sem limite de quantidade". A foto que ilustra a reportagem é do vereador Admir Ferro. A legenda: "Admir Ferro classificou a medida como "cheque em branco" ao prefeito".

Observação – Um recado explícito: o acordo publicitário é mesmo precário, porque não atende às exigências do Diário do Grande ABC. Mas também não é descartável.

  • Manchete de página interna (com discreta chamada na primeira página) de 26 de junho: "Marinho defende contratos temporários ilimitados". O subtítulo: "Prefeito de São Bernardo diz que tem carta branca do eleitor".

Observação – Uma matéria de conteúdo primário e sem contextuação no âmbito regional quanto a eventuais decisões semelhantes.

  • Manchete principal de página interna de 27 de junho: "Marinho promete sete CEUs até 2012″. O subtítulo: "Pacote de obras prevê nove Unidades de Pronto Atendimento e hospital de referência". A entrevista ocupou uma página inteira, com um título auxiliar: "Sem papas na língua, prefeito diz que Dib foi irresponsável".

Observação – Uma entrevista chinfrim, que evitou os muitos fios desencapados que o jornal expôs durante 18 meses de combate feroz à administração petista.

  • Manchete de página interna (com discreta chamada de primeira página) de 29 de junho: "William Dib rebate críticas de Luiz Marinho". O subtítulo: "Para tucano, irresponsável é quem governo na base da mentira".

Observação – É claro que o compromisso do jornal com os tucanos e aliados não ficaria sem a contrapartida jornalisticamente indispensável.

  • Manchete principal de primeira página de 1º de julho: "Governo Lula dá R$ 9 mi para o pavilhão Vera Cruz". O subtítulo: "Vila de Paranapiacaba ganha apenas R$ 1 milhão do PAC". O texto da primeira página: "O PAC (Programa de Aceleração do crescimento) das Cidades Históricas vai liberar R$ 10 milhões para o Grande ABC. Dessa quantia, R$ 9 milhões vão para a recuperação do acervo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo, além da criação de incubadora de empresas no ramo audiovisual. Já Santo André ficará com apenas R$ 1 milhão, destinado à revitalização de Paranapiacaba". Manchete da página interna: "Região garante R$ 10 milhões do PAC". O subtítulo: "Recursos serão para preservação do patrimônio histórico de Santo André e São Bernardo".

Observação – Em outra situação, de conflito, jamais o pavilhão Vera Cruz seria alçado à manchete principal do jornal no tom exposto. Provavelmente seria rebaixado graficamente e, mais que isso, colocado em dúvida por conta do fluxograma de recursos financeiros do PAC tão contestado pelos tucanos.

  • Manchete de página interna de 2 de julho: "S. Bernardo firma acordo tapa-buraco com Sabesp". O subtítulo: "Prefeitura e empresa farão serviços de reparos em vias públicas".

Observação – Está mesmo estabelecida uma lua-de-mel temperada de rusgas táticas, porque é preciso dar a impressão de que nada mudou no relacionamento entre as partes. Os tucanos não se conformam. Os outros petistas da região, em Diadema e Mauá, fora do acordo, talvez sigam Luiz Marinho.


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