A Sama (Saneamento Básico de Mauá) divulga nos próximos dias o nome da empresa vencedora da licitação do projeto Sanear. Depois de quatro anos de discussão e mais de 17 meses de atraso no cronograma previsto inicialmente, a cidade espera ver finalmente acesa a luz verde para o tratamento do esgoto doméstico e produção de água industrial. O cumprimento da data é decisivo para a autarquia. Empresas do Pólo Petroquímico -- maiores interessadas na água de reúso -- já admitiram que o tempo está se esgotando e anunciaram a retomada de alternativas próprias como o Aquapolo para solucionar o grave problema da disponibilidade e alto custo do insumo, indispensável ao aumento da competitividade e aos projetos de ampliação das petroquímicas.
A adrenalina do clima de contagem regressiva é compreensível. A Sama está diante de cartada decisiva, já que o início das obras da estação de tratamento será o único sinalizador capaz de convencer os futuros consumidores industriais da água de reúso da viabilidade do projeto. Sem a adesão direta das petroquímicas -- que consumiriam 350 litros por segundo do líquido produzido pela estação de tratamento -- o Sanear perde sustentação econômica e pode naufragar antes mesmo de começar. "Com a divulgação da empresa vencedora ainda na primeira quinzena, a expectativa é de que as coisas se ajeitem" -- acredita o assessor técnico da Sama, Ricardo Guterman.
O Sanear está na etapa final da licitação que deve apontar o vencedor entre a Construtora Gautama e o Consórcio Mauasan (formado pela Construtora Triunfo e Agaplan Planejamento) com base no menor preço. O item é preponderante porque as petroquímicas de Capuava utilizam entre 10% e 30% de água potável na produção e concorrem com os pólos da Bahia e Rio Grande do Sul, que dispõem de água industrial a baixo custo. Apesar de terem assinado contrato de consumo mínimo com a Sama que reduziu o preço do metro cúbico de R$ 4,80 para R$ 3,50 em média no último ano, o valor ainda é considerado alto. O ideal seria que oscilasse entre R$ 1 e R$ 1,50.
Água industrial com baixo custo é fundamental para as petroquímicas de Capuava, envolvidas em projetos de expansão e que acabam de ver o governador Geraldo Alckmin sancionar lei ambiental que permite ampliar as atividades da Petroquímica União. Com a medida, ganham outro importante fator de redução de custos porque terão mais matéria-prima à porta de casa e o aumento da produção torna-se iminente. Não à toa, o pólo admite o início das obras do Aquapolo já em outubro. O Aquapolo está avaliado em R$ 30 milhões e prevê a captação de 500 litros por segundo do Rio Tietê em Suzano, para serem tratados em duas estações dentro do próprio pólo. É a carta na manga caso o projeto oficial não se concretize em tempo hábil. O Pólo Petroquímico já trata parte da água que utiliza na produção, mas a captação no Rio Tamanduateí é insuficiente para a atender a demanda devido ao baixo volume e à qualidade cada vez pior da água.
Complementação -- A vencedora da licitação da Sama também vai implantar 28% da rede de esgoto que ainda faltam em Mauá. Sem fôlego para investimentos de grande porte, a cidade resolveu apostar na concessão do serviço à iniciativa privada para literalmente sanear a questão.
O assunto é polêmico, principalmente porque o setor está no alvo das privatizações e o próximo presidente não poderá mais adiar decisão sobre o assunto. O mais recente levantamento do IBGE é retrato sem retoques da realidade: apenas 33% dos domicílios brasileiros são atendidos por rede de esgoto e 75,6% das casas despejam esgoto sem tratamento em rios, lagos e praias. Dados da Abcon (Associação Brasileira das Concessionárias de Serviços Públicos de Água e Esgoto) mostram que a iniciativa privada já investiu até agora 25% dos R$ 2,3 bilhões previstos até 2030, período de vencimento dos contratos das 43 concessões existentes nesse setor no País.
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