A Reportagem de Capa da revista LivreMercado de março de 1998 — portanto há quase 13 anos — que reproduzimos nesta edição de CapitalSocial sob o título original “Região mostra nova cara” é exemplo emblemático, irrebatível, mais que justificável, para este jornalista (que dividiu a responsabilidade daquele texto com Lara Fidelis, filha de pais jornalistas e talento fugidio da região) ter se tornado cético, muito cético, crítico, muito crítico, do quadro social e econômico do Grande ABC. Costumo dizer que a revista LivreMercado só escorregou no tomate do regionalismo quando acreditou demais nas instituições e em falsas lideranças, muitas da quais estão aí até hoje.
De qualquer modo, mesmo com uma carga de ilusionismo dos protagonistas de empreendimentos que não se consumaram, a Reportagem de Capa mencionada é histórica e mostra uma das características editoriais mais sólidas da LivreMercado que comandei durante duas décadas com um grupo de profissionais de jornalismo que estava muito acima da retaguarda comercial, administrativa e financeira da Editora Livre Mercado.
Os leitores nem imaginam o quanto este jornalista se sente amargurado ao reler neste domingo o texto da Reportagem de Capa daquele março de 1998. Trabalhei em meu escritório domiciliar, como sempre faço, porque precisava liberar a postagem desse material de muito fôlego. É claro que não introduzi qualquer modificação nos textos. Como pude acreditar tanto em gente que não está nem aí com o Grande ABC, gente que se aproximou e ainda se aproxima da mídia para vender ilusão?
Está certo que foram vácuos editoriais produzidos exclusivamente em nome de um regionalismo positivista muito longe do artificialismo maroto, financeiro, vagabundo, de gente que até hoje planta ilusões com o objetivo único de sofismar. Por mais que entenda, por mais que compreenda que agimos de boa-fé, confiantes na institucionalidade do Grande ABC, confesso publicamente que fico aborrecido quando passo os olhos nas linhas daquela Reportagem de Capa e encontro arapucas demagógicas que, felizmente, contrastam com um sobrevivente manancial de informações de primeira linha.
É por isso, aliás, que LivreMercado tornou-se a melhor publicação regional do País. Mesmo suas falhas, decorrentes de acreditar em quem não deveria acreditar jamais, são providenciais. Mostram que praticamos um jornalismo humano, não divino.
Faço questão de dizer tudo isso por conta de algo que neófitos nos textos deste jornalista precisam ler. E também por causa de leitores antigos que tentam desclassificar quem se mostra quase que intransigentemente cético, desconfiado. Afirmo tudo isso no momento em que lideranças sociais, políticas, econômicas e culturais desta província que se chama Grande ABC estão vivendo mais uma etapa de enclausuramento misturado com esparsas promessas de novos milagres.
Leiam com atenção, com senso crítico, com raiva, se for possível, tudo que escrevi juntamente com Lara Fidelis. Leiam também um saboroso texto, que integrou aquela Reportagem de Capa, de Claudete Reinhart, especialista em entretenimento da Grande São Paulo, jornalista com sensibilidade aflorada. Coloquem-se em nossos lugares. Constatem o quanto foi difícil sofrer uma certa dor de consciência por apostar tanto naquele conjunto de iniciativas.
O Grande ABC não tem muito espaço para euforia. É melhor que nos cuidemos, porque o que temos de fato à exaustão são maracutaias negociais. Caso do Residencial Ventura, essa bomba-relógio plantada em pleno centro de Santo André, comercializada ao arrepio da lei e que, incrível, está lá, anunciando em grandes placas unidades ainda à venda. São sobras de uma iniciativa inescrupulosa que colheu a boa-fé de compradores mas não tem conseguido suportar o peso da desconfiança gerada por informações e provas documentais deste jornalista.
Convido os leitores — o melhor seria dizer convoco os leitores — a acompanharem com atenção a Reportagem de Capa sugerida. Mais que isso: que sigam a recomendação do mote desta revista digital e imprimam as páginas, tornando-as fisicamente robustas. E — repito — assumam a responsabilidade do texto deste jornalista e de Lara Fidelis. Terminem a leitura e me respondam: vocês teriam coragem de acreditar mesmo que minimamente na feira de vaidades e de engodos do Grande ABC?
Escrevo com uma carga de revolta e de insatisfação, mais que compreensível entre aqueles que também carregam o Grande ABC no peito e não aceitam a condição involuntária de massa de manobra como muitos foram ao longo das duas últimas décadas. Somente os anestesiados socialmente, somente quem prefere ver a banda passar sem mover um dedo, ou, pior que isso, somente aqueles que tentam espicaçar quem reage, quem vai à luta contra os acomodados e os malandros, somente esses não se comovem um tiquinho com o texto da Reportagem de Capa.
Se este jornalista não tivesse nenhum caminhão de razões para manter uma postura crítica ao Grande ABC, bastaria essa Reportagem de Capa para justificar. O lamentável é que temos nesse trabalho apenas uma amostra de muitas trapaças de marketing ao longo dos últimos 20 anos.
Divirtam-se (ou morram de raiva, para ser mais preciso) com uma cacetada de 114 mil caracteres (o equivalente a 35 páginas inteiras, sem anúncios, de uma revista). Leiam Região mostra nova cara e entendam, mais que Freud, por que me transformei no jornalista mais empedernido na luta por responsabilidade social.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)