A pergunta que mais ouço sobre meu retorno ao comando de LivreMercado, depois de dois anos de estragos de Walter Sebastião dos Santos, é o que vou escrever e se o conteúdo será nitroglicerina pura. O que mais respondo é que voltarei mais implacável que antes, porque dois anos não passariam em branco assim, acreditem. Mas juro que não perderei a ternura. Darei espaço, muito espaço, à solidariedade e a quem merece de fato ocupar as páginas com ações sociais. E é melhor não duvidarem de quem criou Madres Terezas, Freis Galvão e Os Imortais em 15 anos de Prêmio Desempenho. Já chorei e já fiz muita gente chorar de emoção e não vou arredar pé dessa marca. Tampouco deixarei os individualistas de sempre fora de minha alça de mira. Quase que em vez de individualistas escrevo outra coisa. Eles mereceriam, mas sou polido.
LivreMercado jamais foi apenas uma revista econômica, como os desatentos costumam falar porque se prendem ao título. É verdade que tinha uma reserva de páginas bastante substanciosa de cases empresariais. Vamos reduzi-las na medida em que agora não teremos de publicá-las compulsoriamente para segurar a barra de gente que não conseguia dar conta do recado e precisava de muletas da redação.
Um tema do qual não abro mão e que já na edição de retomada do projeto de LivreMercado ganhará destaque é o caso Celso Daniel. Ainda mais depois do julgamento do sequestrador Marcos Roberto Bispo dos Santos. Não vou entrar em detalhes sobre o tom que adotarei. Só antecipo que há condimentos fortes que arrasam novamente com a tese de crime político. Nada surpreendente, convenhamos, porque sempre defendi a desvinculação do crime de supostas propinas não porque tenha alguma compulsão a contrariar, mas porque a maioria da mídia se acovardou ou simplesmente comprou inadvertidamente ou por interesses políticos a versão do Ministério Público.
Mais uma vez afirmo aos leitores que retornar à revista LivreMercado foi uma decisão dolorosa. Não pretendia voltar nem a pau por conta das decepções que passei na corporação e também do que fizeram na sequência com suas páginas. Estupraram o selo de qualidade editorial que sempre ostentou. Fiz de tudo para fugir dessa volta ao passado, embora o produto editorial da revista que criei e lancei seja o maior orgulho de minha vida profissional.
Como o contrato se tornou irrecusável, não pelos valores monetários propriamente ditos mas pela possibilidade de, pelo menos, reunir um grupo de jornalistas e provar que é possível sim preparar um veículo regional que vá muito além do ramerame conhecido e batido que tenho lido à exaustão.
A programação inicial é de que a próxima edição de LivreMercado, da nova LivreMercado, será distribuída antes do Natal, como um presente antecipado, porque se refere à edição de janeiro de 2011. Estou me desdobrando à execução do cronograma, porque a retomada é sempre complicada.
Os amadores que andaram prevaricando em qualidade e profundidade vão ter mais uma oportunidade de reconhecerem-se amadores. Reúno na próxima edição nomes do jornalismo regional que me deixam orgulhoso. Faremos, como fizemos no passado, um mergulho nas informações. LivreMercado será mais reflexiva que no passado. E também contundente com gente que ocupa cargos em entidades que não passam de quintais de interesses particulares. Mas não deixaremos jamais de valorizar quem faz de fato um Grande ABC prospectivo. Como sempre o fizemos, aliás. Não foram entregues 1.718 troféus individuais e coletivos nas várias edições do Prêmio Desempenho Empresarial, Prêmio Desempenho Social e Prêmio Desempenho Cultural apenas por obra do Espírito Santo. A meritocracia prevaleceu sempre.
O problema da maioria da mídia impressa do Grande ABC quando LivreMercado voltar à praça é que os leitores projetarão comparações sob o pressuposto de novo patamar de qualidade. Sem LivreMercado — ou com a LivreMercado que andou por aí — tudo ou quase tudo virou japonês. Com a nova LivreMercado, tudo será diferente.
Terá valido a pena voltar a dirigir LivreMercado nem que seja por uma única edição. Vai ser gostoso demais — embora dê muito trabalho — mostrar o quanto está à deriva o jornalismo quase todo declaratório no Grande ABC. Salvo exceções de praxe.
Para completar, apenas uma advertência: não confundam bom jornalismo com páginas ricamente decoradas de penduricalhos gráficos. Quanto mais rebuscamento plástico, mais desconfiem do produto. LivreMercado será graficamente mais arejada que no passado, mas na hierarquia de custos de produção o material editorial terá sempre prioridade. Questão de respeito ao leitor. Somente quem não é do ramo acredita que seja possível enganar o distinto público com maquiagens e cirurgias plásticas. Sem nem Hollywood está aceitando mais artistas que mudam de cara e de corpo a cada nova temporada, por que haveríamos de aprovar essa gastança exorbitante em papel e tinta?
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)