Aqueles que desdenham meus arquivos ainda não digitalizados mas extraordinariamente obedientes à minha memória não sabem o erro que estão cometendo. Tenho tanto respeito pelos leitores desta newsletter e da revista LivreMercado que, paradoxalmente, não lhes dedico nenhuma pitadinha de politicamente correto. Que quero dizer com isso? Que devoto tanta transpiração no cotidiano jornalístico, porque considero a função atividade institucional intransferível e inegociável, que chego ao extremo de escrever sem me incomodar com eventuais críticas. Respeito-as muito, mas não necessariamente me dobrarei a elas. Da mesma forma que aos elogios reservo uma caixa antiegocentrismo para não perder o prumo. Meus arquivos de mais de duas mil pastas são jóias preciosas. Quem viver verá novos exemplos nos próximos tempos. É impossível ignorar o passado quando se pretende provar injustiças. Mas também não se pode descuidar do presente. Até porque o presente muitas vezes ganha a forma e o conteúdo de resgate do passado aparentemente descartado. Estou sendo abstrato? Esperem, esperem, para ver que de louco não tenho nada. Exceto o prazer maquiavélico de dar corda àqueles que têm absoluta certeza de que minha cachola tem parafusos a menos. Pobres coitados que de jornalismo não entendem um bocado.
De passagem
Vi de passagem, sem prestar a menor atenção, o jogo entre a Seleção Brasileira e aquele combinado suíço. Um treino de luxo. Sem a menor serventia para a Copa do Mundo. Apenas para elevar, se possível, a auto-estima de um time que está nas nuvens. E que, desconfio, vai cair do cavalo.
Um escândalo!
O Santo André resistia bravamente no jogo de ontem à noite com o Avaí em Santa Catarina até que aos 46 minutos do segundo tempo o árbitro transformou uma bola na mão fora da área em pênalti. O um a zero pode ter até sido justo para o Avaí, que dominou completamente um segundo tempo em que o Santo André se viu reduzido a 10 jogadores, mas que não se admite perder por causa de um apitador no mínimo mal colocado, disso não tenho dúvida.
Caso Celso Daniel
O Tribunal de Justiça de São Paulo deverá dar prosseguimento hoje à análise do caso que envolve o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho. Como se sabe, Saulo, que é promotor público, foi denunciado pelo Ministério Público por suposto abuso de autoridade, num incidente que envolveu um dono de restaurante na Capital. Se perder a parada, Saulo de Castro Abreu Filho será afastado da Secretaria. O que tem a ver essa história toda com o caso Celso Daniel? Que os advogados do secretário de Segurança Pública argumentam juridicamente em socorro ao cliente que, vejam só, o Ministério Público não tem poderes constitucionais para investigar. Exatamente o argumento dos defensores de Sérgio Gomes da Silva, acusado pelos promotores criminais de Santo André de ter mandado matar o prefeito Celso Daniel. Como se sabe, inquéritos policiais constataram que Sérgio Gomes também foi vítima dos sequestradores. A tese dos advogados de Saulo de Castro Abreu Filho abre brecha imensa à ilegitimidade do MP no caso Celso Daniel, cujo julgamento está suspenso no Supremo Tribunal Federal. Se Saulo ganhar, então, vai ser uma loucura.
Pedofilia radiofônica
Uma fonte segura tem me dito que o pedófilo radiofônico acautelou-se em preservar a honra de quem inveja. Sei lá se é verdade, porque não me dou ao trabalho de ouvir suas baboseiras. Só sei dizer que é fácil identificá-lo. Bastar ouvir alguém mal-educado numa emissora qualquer e prestar atenção: se lhe parecerem grunhidos, tenham certeza de que eis o homem aí.
ACM, sempre ACM
O que se poderia esperar do senador Antonio Carlos Magalhães ao analisar as declarações do governador paulista Cláudio Lembo que correlacionou a lambança de criminalidade em São Paulo à elite branca? De ACM se pode esperar tudo, inclusive a indelicadeza de afirmar que Lembo "tem cara de burro". Quem produz e mantém por tanto tempo um homem público como Antonio Carlos Magalhães não pode nem lamentar que o Brasil se tenha transformado em incubadora de bandidos.
República Republiqueta
Começará a ser veiculado aqui neste espaço, em edições especiais, o texto do livro República Republiqueta, que lancei há três anos. Será um capítulo por dia. Recordar aqueles textos é um confronto que me imponho. Quero saber até que ponto sou coerente no decorrer do tempo. Não tenho medo em prestar contas com minha consciência. Tem gente na praça que não consegue resistir a um leve sopro do tempo que passou, porque suas palavras e ações são tão oportunísticas que estatelam-se no asfalto da incoerência.
Ilustração da capa
O ilustrador Mauro Melhado, da revista LivreMercado, entregou-me ontem o que lhe foi encomendado à Reportagem de Capa de junho da melhor revista regional do País. Estamos ressuscitando uma ficha de orelhões. Mais não podemos dizer, porque dizer seria demais para quem precisa guardar aos leitores o impacto da abordagem de mais um trabalho sobre a indústria automobilística.
Reforma gráfica
Quem acha que sou implicante com as chamadas reformas gráficas que os jornais diários inventam como jogada de marketing, enquanto o produto, invariavelmente, segue desfiladeiro abaixo, precisaria ler o que escreveu um decano do jornalismo nacional, Alberto Dines, do site Observatório da Imprensa, dia 23 de maio. Querem saber? Pois transcrevo na íntegra: "É certo que as reformas no visual dos jornais continuarão a ser feitas periodicamente, e em intervalos cada vez menores, sempre cosméticas e sempre sob a supervisão de consultores internacionais que nada entendem de jornalismo". Viram só? Comparem com o que escrevi na semana passada e nesta semana e vejam que não se trata de implicância. Isso é defesa do consumidor -- de informações.
Elite e Polícia
Frase de Luiza Nagib Eluf, reconhecidamente uma das principais militantes da defesa dos direitos da mulher, procuradora de Justiça em São Paulo: "A elite no Brasil quer a Polícia corrupta porque não quer cumprir as leis" -- disse ela em entrevista ao site Consultor Jurídico. Mais Luiza Nagib: "Acho um absurdo não querer que o preso tome sol, com o argumento de que o trabalhador raramente tem tempo para isso, por exemplo. Pode até ser, mas o trabalhador é livre. O preso não tem nada. É muito melhor que ele tome sol, do que faça uma rebelião. É claro que tem de existir uma limitação, mas sou a favor de que a gente dê o máximo de conforto possível. Qual o problema de o preso pedir, por exemplo, um hambúrguer de picanha? Não é o Estado quem vai pagar. É a visita quem vai levar para ele. É muito melhor para o equilíbrio das forças e para a sociedade brasileira que o preso tenha conforto" -- disse essa representante do Ministério Público de São Paulo. Concordo em gênero, número e grau. E que se distribuam aos presos aparelhos de televisão para que acompanhem a Copa do Mundo. Os irrecuperáveis merecem mesmo ouvir Galvão Bueno. Vão descobrir que, depois da perda de liberdade, não há nada pior do que a tutelagem mental movida a interesse comercial.
Mais Imprensa
Frase de Carmem Silva, titular da Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Federação Nacional dos Jornalistas: "A maior ameaça à liberdade de Imprensa no Brasil é a interferência de poderes econômicos e políticos sobre as redações do Brasil. Este controle gera censura e autocensura dentro dos veículos, poda a liberdade de Imprensa que em grande parte dos casos acaba sendo aquela que interessa aos donos da mídia" -- disse a jornalista em artigo originalmente veiculado pelo site Comunique-se e postado pelo jornalista Célio Franco no Circuito Cidadão. Outra declaração de Carmem Silva? "Os jornalistas devem denunciar e exigir que sejam respeitados os princípios da profissão, dentro e fora da redação. A liberdade de empresa, qual seja a do jornalismo servindo aos interesses dos donos da mídia, deve ser substituída efetivamente pela liberdade de Imprensa".
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)