Desde ontem está postada neste CapitalSocial uma entrevista especial com o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luiz Marinho. Um confronto entre as declarações do então dirigente sindical, transcritas há 11 anos, com o que afirma hoje o prefeito de São Bernardo é uma das maneiras mais apropriadas para valorizar o trabalho de Rafael Guelta, jornalista que enriqueceu a história da revista LivreMercado durante dois anos.
Convivi diariamente com Rafael Guelta no período. Quando ele deixou a Redação para atuar na área de Comunicação da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo, vivi o dualismo da felicidade de tê-lo perdido para uma carreira que se apresentava mais segura, mas ao mesmo tempo a tristeza por vê-lo baixar a qualidade editorial da publicação, porque o faro fino, a dedicação e a versatilidade não eram uma combinação fácil à reposição.
Foi necessário um período de adaptação do substituto. Nenhuma publicação fica imune a desfalques de qualidade. Como um time de futebol. Uma peça que se altera na engrenagem editorial causa ruídos. Quem é do ramo sabe disso. Quem não é, não consegue entender as razões do fracasso editorial.
A despedida de Rafael Guelta de LivreMercado, em minha saleta modesta, foi marcada por muita emoção, dadas as circunstâncias de precederam a chegada dele ao ambiente e também à sintonia fina com que se relacionou com todos.
Rafael Guelta é desses amigos do peito com o qual conversei não mais que duas vezes em média nos últimos anos. Não precisamos nos comunicar permanentemente para expressar nossa relação. Tenho-o em alta conta. Pude compartilhar com ele momentos de dificuldades felizmente superados.
Estava Rafael Guelta debilitado fisicamente, por conta de problemas de saúde, quando não resisti à tentação de contratá-lo para LivreMercado. Não me conformava em ter visto nos últimos tempos de Diário do Grande ABC um Rafael Guelta talentoso demais para produzir notinhas informativas na coluna de economia. Quando o jornal abriu mão de tamanha competência, não tive dúvidas em trazê-lo para o seio de uma Redação pequena, vibrante e a mais revolucionária da história do jornalismo regional. Uma Redação que jamais se conformou com o fastfoodianismo descompromissado ou se submeteu às conveniências deletérias de pratos à la carte.
A entrevista com Luiz Marinho que reproduzimos neste CapitalSocial não atinge níveis máximos de qualificação apenas porque Rafael Guelta tem sensibilidade e sabe, como poucos, expressar essa qualidade inerente para quem se mete em Comunicação. A cada pergunta muito bem elaborada, temos respostas de um Luiz Marinho diferenciador dos antecessores no Sindicato dos Metalúrgicos.
O contexto regional, nacional e internacional exigia comando menos barulhento e mais conciliador à frente de uma instituição sindical que durante muitos anos balizou a temperatura política do País.
Como costumo dizer reservadamente ou não, levo tão a sério cada linha produzida em qualquer veículo do qual faça parte que o resgate dos arquivos de LivreMercado é sempre uma oportunidade à prestação de contas de quem participa, ou participa mais intensamente ainda, da vida do Grande ABC.
Há quem não dê bola alguma para o passado porque não tem compromisso com o futuro. Acredito sinceramente que Luiz Marinho, hoje prefeito bem assessorado, não deixará de consumir um único parágrafo da entrevista a Rafael Guelta porque ali está modelo acabado do que viria a protagonizar na cena política e institucional do Grande ABC, aliado a uma estrutura de pensamento e de ações que denunciavam no que se transformaria o dirigente sindical ao final da primeira década do novo século que estava às portas.
Ler Rafael Guelta e acompanhar atentamente os enunciados de um Luiz Marinho sindicalista que, hoje prefeito, sabe o quanto o passado aumenta a responsabilidade de conferir competência à frente de qualquer organização que lidere, são situações especiais que os leitores jamais deveriam deixar passar.
Não me lembro, sinceramente, quem foi o autor do título reproduzido sem qualquer alteração neste site. “O negociador de incertezas” é um achado condensador de uma extraordinária entrevista. Talvez tenha sido o próprio Rafael, para coroar tanto talento. Nada mais lógico, porque sempre incentivei completa interação do jornalista com a obra, participando ativamente da formulação não só do título, mas das legendas e da própria edição do produto, manifestada na fase de produção do material tendo o fotógrafo como parceiro de pauta. Também como num time de futebol, o conjunto é que faz a diferença.
Total de 1893 matérias | Página 1
06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)