Estamos chegando muito próximo ao último capítulo desta série que retrata a inédita inclusão de ombudsman no organograma do Diário do Grande ABC. Exerci a função durante pouco mais de um mês, num período que antecedeu o deslocamento ao posto de diretor de Redação. Foi a primeira vez na história – a segunda foi repetida 10 anos depois, também por este jornalista – que o Diário do Grande ABC adotou a medida pouco comum, senão rara, no jornalismo brasileiro. Aquele 14 de julho de 2004 fervia de informações. Leiam a antepenúltima edição da newsletter OmbudsmanDiário, ferramenta digital que criei para expor aos diretores, acionistas e editores o acumulado de experiência no jornalismo.
Edição número 34
Completamos exatos 30 dias de análises dos insumos editoriais do Diário do Grande ABC. Nesse período produzimos 21 edições desta newsletter. Não estamos contabilizando as 13 edições em que subdividimos o Planejamento Estratégico Editorial, repassado sob a logomarca desta publicação virtual. Ao avaliarmos as 30 últimas edições do Diário, escrevemos 290.032 caracteres, algo próximo de um livro com perto de 200 páginas.
Confesso que aprendi muito. Jamais me imaginei nessa função. Achava que era um leitor atento, perseguidor da boa qualidade jornalística, mas, garanto, depois de um mês, estou me penitenciando. É extraordinariamente pedagógico para mim -- e creio que para todos -- avançar em diagnósticos. Pena que as respostas não tenham se materializado com a intensidade, a frequência e a qualidade que imaginava. Mas isso também é compreensível. O jornal vive momentos de transformações e é natural que as demandas sejam muito maiores que a capacidade de atendimento.
Sempre expressei o comedimento de que um produto jornalístico é uma obra que, imune a grandes solavancos, precisa de pelo menos um quinquênio para se notabilizar pela uniformidade de suas editorias. Insistentemente tenho dito isso a interlocutores. O que quero dizer com isso? Que não há fórmulas mágicas. É preciso mais que diagnosticar, evidentemente. É indispensável planejar e executar uma série de intervenções. Sempre levando em conta que o insumo básico do produto são os profissionais que o integram. Por isso sou crítico implacável do banco de horas, aberração que atinge economicamente a companhia, solapa integralmente a capacidade individual dos profissionais de comunicação e, inquestionavelmente, desencanta os leitores.
Investimentos
Está incompleta e superficial a matéria "Posto do BNDES amplia atendimento", que abre a página de Economia desta quarta-feira. Os dados não incorporam a unidade do Ciesp de Diadema nem outras instituições com sede na região ou mesmo no próprio BNDES. O fato é que precisamos descobrir fontes mais consistentes e abrangentes que nos deem um quadro mais confiável de demanda por créditos daquela instituição. A Agência de Desenvolvimento Econômico, em que pese todo o empenho do secretário-executivo Paulo Eugênio Pereira Júnior, é apenas uma fração do universo que solicitamos.
Querem ver como estou certo? O Diário publicou que os empréstimos concedidos subiram 27% no primeiro quadrimestre ante igual período do ano passado, enquanto no balanço do banco estatal os pedidos de crédito cresceram 144% no primeiro semestre. A diferença do período analisado -- quatro meses contra seis -- não explica a disparidade. Os números publicados pelo jornal com base numa única e frágil fonte são, portanto, subestimados.
Precisamos apurar as baterias nessa pauta, porque invariavelmente teremos de recorrer a informações que contribuam para medir o pulso da economia do Grande ABC também no campo de investimentos.
Bilhete único
O Diário publica que "Bilhete único estreia sem prestígio em Mauá". A matéria, embora ainda se distancie do ponto elucidativo do bilhete único da Capital, é bastante interessante. Entretanto, é possível que o fracasso da medida em Mauá não esteja restrito a eventuais falhas de divulgação. Há pelo menos três questões que parecem saltar aos olhos: 1) O tempo para a integração do passageiro, de apenas uma hora, pode ser inadequado, já que em São Paulo são duas horas; 2) A integração fora do terminal central seria um transtorno; 3) O desembolso antecipado repassado ao cartão liquidaria com o capital de giro dos usuários. Afinal, por que pagar por um lote de crédito do cartão magnético se o usuário pode desembolsar o mesmo dinheiro de forma escalonada? Principalmente se o tempo é curto e a integração exclui o terminal central.
Creio que são aspectos pertinentes que mereceriam respostas dos executivos públicos de Mauá que tratam do assunto.
Bancada do ABC
Cobrimos muito mal na edição de hoje a matéria "Estado aprova base do Orçamento". O texto afirma que a LDO de São Paulo para o ano que vem não contempla emendas do Grande ABC. Como se sabe, a chamada Bancada do ABC, formada pressupostamente por nove deputados, "mais uma vez saiu da discussão sem conseguir convencer o relator a acatar, mesmo que genericamente, as reivindicações da região" -- segundo o Diário. Ainda segundo o jornal: "De 72 emendas apresentadas e assinadas em conjunto pelo grupo, apenas duas foram parcialmente aceitas. O único avanço conseguido no diálogo entre os municípios do Grande ABC e o governo estadual ocorreu quando o governo, espontaneamente, contemplou reivindicações da região de forma genérica no texto base enviado ao Legislativo".
Considerando-se que na edição de 21 de maio último (recorro ao meu arquivo pessoal para fortalecer meus argumentos) o Diário publicou manchete da página 2 ("Deputados da região e Consórcio tentarão inserir emendas à LDO"), não resta dúvida de que a matéria da edição de hoje está muito aquém da importância do assunto, tanto em termos editoriais como gráficos.
Naquele 21 de maio o jornal escreveu o seguinte, entre alguns pontos que selecionei: "Os deputados estaduais da Bancada do ABC combinaram ontem com a prefeita de Ribeirão Pires e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Maria Inês Soares (PT), realizar um esforço concentrado para tentar inserir 70 emendas na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), primeiro passo para a elaboração do Orçamento Estadual de 2005.
Entre os projetos estão obras do porte do trecho Sul do Rodoanel e do Ferroanel, programas sociais e de recuperação ambiental".
É indispensável agregar valor a informações. O ontem é extraordinariamente importante para se entender o hoje. Esse é um dos maiores buracos editoriais do Diário, em todas as editorias. Trata-se de um jornal desmemoriado. Exceto, evidentemente, no espaço reservado a Ademir Medici.
É possível, entretanto, recuperar o terreno na edição de amanhã. O que dizem Maria Inês Soares e os deputados locais sobre o assunto?
Eleições municipais (I)
Bem focada (é disso que precisamos) a entrevista da página 3 de hoje de Política Grande ABC com o presidente nacional do PT, José Genoíno. É natural que o dirigente faça proselitismo partidário, mas de maneira geral o material está sóbrio.
Eleições municipais (II)
Que tal indagar de todos os candidatos (ou pelo menos dos principais) a prefeito em São Caetano o que pretendem fazer em relação ao corte do quadro de vereadores? Será que aprovariam corte semelhante de recursos que serão repassados pelo Executivo ao Legislativo local, um dos mais dispendiosos do Estado de São Paulo?
Eleições municipais (III)
Boa a matéria da página 2 de Política Grande ABC "Candidatos prometem campanha sem ataques na TV em São Caetano". A sugestão é que, até mesmo pelo ineditismo, o Diário fique atento à situação. Um acompanhamento dos programas poderá ser muito útil não só como insumo a ser reproduzido no contexto de análise crítica da programação, mas, principalmente, como pauta.
Rodoanel
Creio que estamos desperdiçando a oportunidade de dar uma matéria de manchete principal de primeira página ao não levar em conta que a provável saída para a construção do trecho do Rodoanel que ligará o Bairro de Sertãozinho, em Mauá, à Via Anchieta está na alternativa que sugeri ontem. Ou seja: a Ecovias tem prorrogado o prazo de 20 anos de exploração do sistema Anchieta/Imigrantes e assumirá os custos da obra do Rodoanel.
Campeonato Brasileiro (I)
A matéria do jogo entre São Caetano e São Paulo na capa de Esportes de hoje ("Azulão e S. Paulo empatam e técnicos seguem ameaçados") desconsidera a matemática ao afirmar que "O São Caetano segue com 18 pontos, enquanto o São Paulo continua com os mesmos 24". Será que o empate não significa um ponto para cada lado?
Campeonato Brasileiro (II)
Continuo aguardando dados históricos sobre a falta de vitórias do São Caetano no Campeonato Brasileiro.
Campeonato Brasileiro (III)
A cobertura da Folha de S. Paulo do jogo entre Corinthians e Criciúma mostra o quanto aquele padrão me agrada. O jornal cria uma expectativa na apresentação e dá sequência no dia seguinte. No caso específico desse jogo, fez de Rogério e Gil os personagens da apresentação na edição de ontem e hoje os transforma, de novo, em centro de avaliação. Há um critério muito bem explorado.
Campeonato Brasileiro (IV)
Enquanto não consigo saber se a série de derrotas e empates do São Caetano é inédita ou não, na cobertura do jogo entre Corinthians e Criciúma a Folha de S. Paulo vai fundo, mas muito fundo, no resgate do histórico de atuações de Rogério. "Cobrador oficial de pênaltis, ele soma 36 gols em 227 jogos pelo clube do Parque São Jorge" -- escreveu o jornal paulistano. Mais uma da Folha: "Graças ao desempenho de ambos (Gil e Rogério), o time paulista conseguiu vencer três partidas consecutivas após quase dois anos. A última sequência havia ocorrido em setembro de 2002, diante de Vitória, Paraná e Juventude".
Taxa telefônica
O Diário publica "Fim da taxa telefônica vale em todo o Estado, diz Procon" que contraria informação da Folha de S. Paulo de ontem sobre o assunto. Convém lembrar que Procon é uma coisa, Justiça é outra. E o juiz de Catanduva afirmou à Folha que a decisão abrange apenas aquela comarca. Seria interessante o jornal ouvir o juiz.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)