A desigualdade salarial dos trabalhadores com carteira assinada na indústria e no setor de serviços de São Bernardo é uma das piores marcas no G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra completam a lista porque pertencem à região.
Nesse novo indicador do Ranking G-22 de Competitividade, São Bernardo ocupa a 18ª posição, no limite da zona de rebaixamento. A diferença entre a média salarial no setor industrial e de serviços é abissal. Ultrapassa a 100%. O melhor rendimento da região no G-22 é de São Caetano, que ocupa a terceira classificação geral, atrás de Ribeirão Preto e Barueri.
Esse é mais um novo e inédito indicador do G-22 de Competitividade. O conceito desse índice não leva em conta os valores absolutos do assalariamento médio dos trabalhadores industriais isoladamente dos trabalhadores do setor de serviços, ou vice-versa. Confrontamos a distância entre uma atividade e outra. Quanto maior o fosso, maior a desigualdade.
Doenças holandesas
Não é nada interessante ter uma atividade predominantemente forte num Município, com altos salários, e a média das demais atividades bem abaixo. A desigualdade sugere um desequilíbrio que sempre custa caro ao conjunto da população. Salário médio do setor de serviços muito abaixo do salário médio da indústria significa que há porosidade muito restrita entre as duas atividades. O nível de produção não tem o correspondente espraiamento em serviços.
Na quase totalidade do G-22 o setor industrial paga os melhores salários, mas há casos em que a equação se inverte, com os serviços predominando na média geral. A reversão de valores não altera o produto conceitual final. Ou seja: onde os serviços pagam mais que a indústria há semelhante abordagem metodológica para aferir o posicionamento do Município no quadro geral. O que vale mesmo é a diferença entre os dois setores.
Cinco dos 22 municípios do grupamento criado por CapitalSocial têm na desigualdade salarial de indústria versus serviços praticamente a mesma tipologia: são endereços dependentes em excesso de uma atividade econômica específica.
Peso automotivo
São Bernardo é 18ª colocada porque tem o setor automotivo como carro-chefe, da mesma forma que Sumaré (19ª) e Taubaté (20ª) também contam com a economia sobrerrodas. No caso da penúltima colocada, Paulínia, a atividade dominante é a petroquímica, enquanto a última colocada, São José dos Campos, detém o polo aeroespacial do País.
Os 10 primeiros colocados do ranking representam municípios cuja diferença salarial entre indústria e de serviços ou entre serviços e indústria não ultrapassa 30%. Uma distância que não chega a ser preocupante. Sete municípios ultrapassam essa marca, mas estão aquém de no mínimo 100% de diferença que se abre com São Bernardo. São os casos de Guarulhos, Mogi das Cruzes, Diadema, Mauá, Santo André, Jundiaí e Sorocaba, nessa ordem a partir da 11ª posição no ranking. Essa é uma situação que foge do equilíbrio esperado, mas não está irrefreavelmente comprometida.
Da mesma forma que São Bernardo sofre as durezas do que chamo há muito tempo de Doença Holandesa, por estar muito dependente do setor automotivo, os demais municípios que ocupam posições logo abaixo são escravos do setor automotivo, do aeronáutico ou do petroquímico.
Sacolejadas constantes
Um dos recados explícitos aos municípios que cresceram economicamente contando com atividade mais proeminente é que estarão sempre sujeitos a sacolejadas macroeconômicas. Sobretudo se o mercado internacional for bastante competitivo. No caso automotivo, o risco é muito maior. São José dos Campos passou a depender ainda mais da indústria aeronáutica, mas deve ter grande impulso nos próximos anos com a compra da Embraer pela Boeing. A companhia norte-americana retirou a Embraer de uma zona de turbulência provavelmente insuportável porque o mercado mundial é cada vez mais concentrado.
As piores perspectivas envolvem a indústria automotiva. Ou seja: São Bernardo, Diadema e São Caetano com mais intensidade, e os demais municípios também, mas de forma menos dramática, deverão pagar o preço de uma concorrência internacional cada vez mais acirrada.
Veja o Ranking do G-22 de Competitividade no capítulo de confronto entre média salarial industrial e média salarial de serviços:
1. Ribeirão Preto com salário médio industrial de R$ 2.786,10 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.813,23 mil. Diferença favorável setor de serviços de 0,97%.
2. Barueri com salário médio industrial de R$ 4.260,92 mil ante média salarial de serviços de R$ 3.970,80 mil. Diferença de 7,31%.
3. São Caetano com salário médio industrial de R$ 2.869,89 mil ante média salarial de serviços de R$ 3.167,32 mil. Diferença favorável ao setor de serviços de R$ 10,36%.
4. Osasco com salário médio industrial de R$ 3.903,38 mil ante média salarial de serviços de R$ 3.463,20 mil. Diferença de 12,71%.
5. São José do Rio Preto com salário médio industrial de R$ 2.405,19 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.753,16 mil. Diferença favorável ao setor de serviços de 14,46%.
6. Santos com salário médio industrial de R$ 2.630,46 mil ante média salarial de serviços de R$ 3.024,50 mil. Diferença favorável ao setor de serviços de R$ 14,98%.
7. Rio Grande da Serra com média salarial industrial de R$ 2.665,69 mil ante média de salário de serviços de R$ 2.314,89 mil. Diferença de 15,15%.
8. Campinas com salário médio industrial de R$ 4.223,61 mil ante média salarial de serviços de R$ 3.577,39 mil. Diferença de 18,06%.
9. Ribeirão Pires conta com salário médio industrial de R$ 2.992,87 ante salário médio de serviços de R$ 2.464,91 mil. Diferença de 21,42%.
10. Piracicaba com salário industrial médio de R$ 4.012,10 mil ante salário médio de serviços de R$ 3.121,10 mil. Diferença de 28,55%.
11. Guarulhos com salário médio industrial de R$ 3.910,19 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.819,86 mil. Diferença de 38,67%.
12. Mogi das Cruzes conta com salário médio industrial de R$ 3.321,29 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.216,32 mil. Diferença de 49,86%.
13. Diadema com salário médio industrial de R$ 3.638,23 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.403,98 mil. Diferença de 51,34%.
14. Mauá com salário médio industrial de R$ 4.007,27 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.601,68 mil. Diferença de 54,02%.
15. Santo André com salário médio industrial de R$ 4.154,23 mil ante média de salário de serviços de R$ 2.648,81 mil. Diferença de 56,83%.
16. Jundiaí com salário médio industrial de R$ 4.337,90 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.713,93 mil. Diferença de 59,84%%.
17. Sorocaba com salário médio industrial de R$ 4.281,53 ante média salarial de serviços de R$ 2.504,35 mil. Diferença de 70,96%.
18. São Bernardo com salário médio industrial de R$ 5.839,72 mil ante média de salário de serviços de R$ 2.851,85 mil. Diferença de 104,77%.
19. Sumaré com salário médio industrial de R$ 5.859,49 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.840,06 mil. Diferença de 106,31%.
20. Taubaté com salário médio industrial de R$ 5.172,32 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.136,44 mil. Diferença de 142,10%.
21. Paulínia com salário médio industrial de R$ 6.961,62 mil ante média salarial de serviços de R$ 2.855,55 mil. Diferença de 143,79%.
22. São José dos Campos com salário médio industrial de R$ 6.476,88 ante média salarial de serviços de R$ 2.585,30 mil. Diferença de 150,53%.
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