Acabaram de sair os dados do emprego com carteira assinada em setembro. O Grande ABC de uma praticamente desativada Ford segue na contramão do País e também do Estado de São Paulo. Acumulamos em sete meses déficit de 1.157 postos de trabalho no setor industrial, chave de ignição do equilíbrio socioeconômico regional. No Brasil, houve a abertura de 137.269 postos de trabalho no setor. No Estado, 36.256. Seguimos, portanto, a rotina dos últimos anos. Nossa recessão é maior que a recessão geral e estadual.
Sem a reação da indústria o PIB Geral dos Municípios do Grande ABC seguirá a cair. Não há mágica. Somos movidos à industrialização. E quanto mais a fornalha industrial desaba, mais problemas teremos. A área de serviços, que gera muito saldo, é de baixíssimo valor agregado. Tanto que os salários são em média 30% inferiores à média industrial. Uma região vocacionada à indústria sofre muito no período de transformações. E vivemos isso há pelo menos três décadas.
A ênfase que se deve dar ao resultado qualitativo do emprego com carteira assinada no Grande ABC não é um viés de ceticismo ou de pessimismo. É uma vacina contra os vendedores de ilusão que, a cada novo mês de balanço da numeralha do emprego formal, vai às redes sociais cantando de galo.
Bravatas andreenses
O prefeito Paulinho Serra, de Santo André, é o mais persistente. A tônica é sempre a mesma: realçar o saldo geral de recuperação e esquecer os detalhes que, no caso, são mais importantes. Mais que isso: seus marqueteiros sempre colocam Santo André na liderança na geração de empregos formais na região. Tudo não passa de bravata estatística.
O antigo viveiro industrial perde para Ribeirão Pires e São Caetano quando se observam os números relativos. A diferença entre números relativos e números absolutos leva em conta a proporcionalidade dos mercados de trabalho municipal.
Santo André está para São Paulo assim como Ribeirão Pires está para Santo André. Ou seja: nem sempre o número absoluto maior é refletido no número relativo maior. Para o prefeito Paulinho Serra, isso tudo são detalhes sem importância.
Nesta temporada, até setembro, Santo André acumula saldo positivo de 3.515 trabalhadores em todos os setores econômicos e também na Administração Pública. Houve crescimento de 1,81% em relação ao estoque de dezembro do ano passado. Menos que os 2,29% de avanço do estoque em São Caetano, que gerou 2.487 empregos gerais. Já em Ribeirão Pires, que lidera o crescimento do mercado de trabalho, o saldo é de 5,21%, com 1.015 contratações.
Brasil e Estado melhores
No que mais interessa mesmo, ou seja, no comportamento do emprego industrial, Santo André registrou nesta temporada crescimento pífio de 0,17%, com saldo de 46 postos de trabalho. São Caetano cresceu 10 vezes mais, com saldo de 1,77% (338 postos de trabalho) e Ribeirão Pires muito mais: 4,45%, resultado de 300 novos trabalhadores. São Bernardo da Ford perdeu 1,88% do estoque, com quebra de 1.398 postos de trabalho.
Quando se colocam todos os dados à mesa e se faz um confronto entre os números gerais do emprego formal no Grande ABC em dezembro do ano passado e em setembro último, o saldo de 8.555 pode induzir a erro. Esquecer que no meio dos números positivos há um sinal de emergência de 1.157 postos de trabalho destruídos no setor industrial é grave erro. A melhor combinação é saldo positivo de um lado e de outro.
Como é o caso da ainda incipiente recuperação do emprego no Brasil. Enquanto nos nove meses deste ano houve saldo positivo de 761.776 empregos, 137.269 dos quais pertencem à rubrica da indústria de transformação. Ou seja: 18,02% do saldo de empregos no Brasil nesta temporada são industriais.
E o efeito-Ford
Medir o impacto da debandada da Ford no Grande ABC e particularmente de São Bernardo é um desafio. É perigoso acreditar que tudo se resume à saída da multinacional e de do entorno de fornecedores. Somente os próximos tempos poderão dar resposta mais sólida.
O saldo negativo do emprego industrial em São Bernardo nesta temporada é de 1,88% sobre o estoque de dezembro do ano passado. Foram destruídas 1.398 carteiras assinadas. Quase todos os demais municípios da região reagiram levemente à retomada mesmo que tênue da economia. Por isso o saldo negativo é inferior à perda de São Bernardo.
O fator Ford precisa ser relativizado entre outras razões porque há pelo menos dois municípios do G-22 (o grupo dos 20 maiores do Estado) que também registram saldos negativos do emprego industrial. Em Barueri, na Grande São Paulo, foram decepadas 293 cabeças, que correspondem a 1,10% do estoque de dezembro do ano passado. Menos que em São Bernardo, mas relevante.
Já em Sorocaba, um dos três maiores polos industriais do Estado, a quebra do emprego industrial foi superior à de São Bernardo, com 1,94% negativo em relação a dezembro do ano passado, correspondente a 1.001 trabalhadores.
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