Economia

Região ganha emprego e perde
massa salarial no ano passado

DANIEL LIMA - 18/10/2019

Duzentos e vinte milhões de reais a menos na economia do Grande ABC só de massa salarial do mercado de trabalho com carteira assinada. Daria para fazer muita, mas muita feira. Pois é isso (e vou explicar em detalhes logo abaixo) o que os trabalhadores formais da região deixaram de receber no acumulado dos 12 meses de 2018. 

Metabolizei os dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Adianto que, como se verá, nem tudo que brilha é ouro quando as análises se limitam a saldos positivos ou negativos do emprego formal.  E não esqueçam dos duzentos e vinte milhões do título logo acima. Esse é o nosso ponto de partida e de chegada. 

Esses duzentos e vinte milhões não são um número preciso, matematicamente intocável. É uma projeção resguardada pela lógica. Variáveis para cima ou para baixo não mudarão a realidade e o conceito: perdemos feio na soma de riqueza assalariada.

Abaixo da inflação 

Vamos diretamente ao ponto: a massa salarial de todos os trabalhadores (inclusive da Administração Municipal) com carteira assinada nos sete municípios do Grande ABC em dezembro de 2017 era de R$ 2.344.902.104 bilhões. Já em dezembro do ano passado o valor registrado era de R$ 2.414.489.471 bilhões. Um crescimento nominal de 2,97%. 

Se a média salarial seguisse a trilha da inflação, o montante teria alcançado R$ 2.432.835.932 bilhões. Diferença de R$ 18.346.461 milhões. Resultado que multiplicado por 12 meses (esqueça o 13º salário), chegaria a R$ 220.157.532 milhões. Praticamente um mês inteiro de salário de todos os trabalhadores de Mauá. Vejam que as perdas em termos reais, de correção inflacionária, de menos de 1% (precisamente 0,75%) é mais grave do que parece. 

Agora os leitores vão percebe que nem sempre mais é mais de fato. A perda da massa salarial de 0,75%, sempre comparando dezembro de 2017 com dezembro de 2018, correu na contramão numérica do crescimento do estoque de trabalhadores nas empresas e no setor público da região, que chegou a 1,02%. Eram 728.957 postos de trabalho com carteira assinada em 2017 e chegou-se a 736.374 em dezembro do ano passado. 

Pena que os números gerais tenham de ser relativizados e, mais que isso, ajudam a explicar o conflito entre mais empregos e menos rendimentos salariais. O problema é que o setor da indústria de transformação, que paga os melhores salários, registrou nova quebra de trabalhadores formais. Enquanto no geral o Grande ABC criou 7.417 vagas, no específico industrial perdeu 1.744. Ou 0,98%. 

Dois se salvam 

Somente dois dos sete municípios locais registraram crescimento da massa salarial acima da inflação: Santo André com 4,53% e São Caetano com 3,77%. Mauá avançou 3,51%, Diadema 2,63%, São Bernardo 1,71%, Rio Grande da Serra 1,36% e Ribeirão Pires 3,36%. 

Há um porém que precisa ser apontado para que as comemorações não se excedam nos casos de Santo André e de São Caetano, que superaram a barreira inflacionária quando se comparam os salários dos trabalhadores entre dezembro de 2017 e dezembro de 2018. Afinal, e a média salarial geral, como se teria comportado? 

A indagação tem um propósito específico: mostrar que Santo André, principal responsável pelo salto positivo do emprego formal no Grande ABC em 2018, quando acumulou 7.247 novos trabalhadores, alcançou o resultado também porque reduziu o nível salarial por conta de atividades de serviços de baixo valor agregado. A média salarial de Santo André nos 12 meses evoluiu apenas 0,98%, muito abaixo, portanto, dos 3,75% da inflação oficial. 

Ribeirão Pires isolado

Dos sete municípios, apenas Ribeirão Pires rompeu a barreira inflacionária quando se trata de média salarial geral, ao registrar crescimento de 4,03% naqueles 12 meses. Rio Grande da Serra avançou 3,39%, São Bernardo 2,27%, São Caetano 1,73%, Diadema 3,20% e Mauá 2,90%. 

No caso específico de Santo André no setor de serviços, em dezembro de 2017 eram registrados em carteiras de trabalho 112.937 trabalhadores ante 120.515 em dezembro último – crescimento de 6,71% no estoque. A média salarial no setor era R$ 2.648,81 e passou para R$ 2.667,08, com variação nominal de 0,690%. Muito aquém, portanto, dos 3,75% do IPCA. 

O setor industrial de Santo André, que perdeu 244 postos de trabalho no ano passado, pagava em média em dezembro daquele ano R$ 3.937,72 de salário. Uma diferença de 47,64% em relação ao setor de serviços. É muita coisa. E sinaliza de que a crise econômica de Santo André é uma jornada longa, já que a queda do emprego industrial vem de quatro décadas e a substituição por empregos de serviços não compensa, por mais que o saldo geral seja positivo. O estoque de emprego industrial em Santo André não passa de 12%. Ou seja: a cada 100 carteiras assinadas, apenas 12 estão nas fábricas. E a tendência de queda segue quase que incontrolável. 

Nos próximos dias e por mais dias ainda vamos destrinchar todos os ângulos do emprego formal de 2018 tendo principalmente como enfoque o comportamento do Grande ABC frente aos demais integrantes do G-22 (o grupo dos 20 maiores municípios paulistas, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra por conta da localização regional). Quando esses dados começarem a ser mais uma vez comparados, saberemos com mais clareza aonde o Grande ABC está de fato no jogo de competitividade econômica e social. 



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