Em dezembro do ano passado publiquei um texto inédito que revelava o machismo prevalecente no ambiente do emprego industrial de São Bernardo. Passados 12 meses e novos dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a situação continua a mesma. “Sindicalismo lulista deixa marca de machismo em São Bernardo”, a manchetíssima de 17 de outubro do ano passado, segue atual, portanto. Em quantidade dá São Bernardo na liderança, mas em remuneração quem lidera o machismo é Santo André.
Se na temporada de 2017 eram 21,31% as mulheres com carteira assinada nas indústrias de São Bernardo, em 2018 são 21,48%. Os números estão congelados, portanto. A média da região é de 28,51%.
A diferença de salários favorável aos homens que trabalham nas indústrias de Santo André é de 44,43%. Muito acima dos demais municípios locais. Santo André emagrece duramente na quantidade de postos de trabalho da indústria de transformação e sacrifica cada vez mais as mulheres quanto à remuneração.
Diferença salarial
Escrevo a propósito da manchetíssima do Diário do Grande ABC de hoje (manchetíssima é a manchete das manchetes de primeira página), que dá conta de que as mulheres ganham, em geral, contando-se todas as atividades econômicas, 24,01% menos que os homens. Fixo-me no setor industrial porque, entre outros motivos, é o mais resistente à participação feminina. Sobretudo num Grande ABC que sempre cultivou a força-bruta no ambiente fabril.
O maior problema de São Bernardo não se limita ao universo de mulheres nas fábricas, muito abaixo da média regional e dos 40% contabilizados na vizinha Capital. Trata-se também da diferença salarial. As mulheres das terras dos metalúrgicos mais combativos do País ao longo da redemocratização recebem 32,71% menos que os homens – R$ 6.352,42 ante R$ 4.274,13. Somente Santo André e São Caetano exibem resultados piores.
Média regional maior
A participação de mulheres no setor industrial de São Bernardo é inferior à média regional. Bem inferior, aliás. Do total de 180.394 trabalhadores industriais com carteira assinada em dezembro do ano passado no Grande ABC, 51.442 eram mulheres. Ou 28,51% do total. Nada menos que sete pontos percentuais (ou 32,72%) acima de São Bernardo. Santo André conta com 27,28%, São Caetano com 38,34%, Diadema com 27,26%, Mauá com 26,78%, Ribeirão Pires com 21,12% (empate técnico com São Bernardo) e Rio Grande da Serra com 28,47%.
No ranking de diferença de remuneração salarial média, a liderança negativa de Santo André, com 44,43% de vantagem dos homens, é resultado de R$ 4.484,02 ante R$ 2.491,67. São Caetano vem a seguir com vantagem dos homens de 38,70% -- a média salarial dos homens é de R$ 3.397,55 ante R$ 2.082,48 das mulheres. Uma distância bem mais que os 28,00% de superioridade salarial dos homens de Diadema: eles recebiam em dezembro do ano passado R$ 4.039,59 ante R$ 2.908,28 das mulheres. São Bernardo tem um fosso um pouco maior que Diadema na distinção salarial entre homens e mulheres: 32,71% correspondem a R$ 6.352,42 de média de vencimentos dos homens ante R$ 4.274,13 das mulheres.
Os homens que trabalham nas indústrias de Ribeirão Pires não ganham tanto a mais que as mulheres quanto a vizinhança regional. Eram 21,75% em dezembro do ano passado, resultado de R$ 3.371,57 ante R$ 2.638,08. Rio Grande da Serra apresenta um resultado semelhante, com diferença de 24,71% favorável aos homens – R$ 3.168,53 ante R$ 2.347,81.
G-22 indispensável
Antecipo aos leitores que um dos novos índices que se somarão a tantos outros já publicados no Ranking G-22 de Competitividade Econômica abordará a realidade de gênero no mercado de trabalho industrial dos 20 maiores municípios do Estado, exceto a Capital. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão na lista de forma complementar porque completam o time do Grande ABC.
Contar com esse referencial dará medida mais apurada do quanto a influência sindical mais incisiva determinaria o que chamaria de grau de machismo do setor. Diria que os dados a serem preparados deverão revelar algumas facetas interessantes. Acredita-se que a atualização tecnológica das fábricas é um chamariz à contratação de mulheres, porque exigiria menos esforço físico e mais detalhismo técnico. Verificaremos isso com vagar.
Mas não custa nada dar uma pescada rápida. Tomo como exemplos aleatórios dois dos municípios do G-22 que não constam da geografia do Grande ABC. Peguemos Guarulhos velha de guerra, que faz parte da Região Metropolitana de São Paulo. Mais que isso: está a um pulinho do Grande ABC. Ali, são 28,11% de mulheres no mercado de trabalho industrial. Número semelhante ao da média do Grande ABC.
Vamos ver Jundiaí, nas proximidades de Campinas? Ali são 30,70% de participação relativa das mulheres. Quase 10 pontos acima da média quantitativa de São Bernardo. Vou deixar de lado a remuneração média.
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