O Grande ABC conheceu nos últimos 48 meses duríssima recessão seguida de estagnação. Os resultados comprovam mais uma vez que a região não resiste à crise industrial mesmo diante do crescimento relativo do mercado de trabalho de serviços. Não temos nessa atividade valor agregado suficiente para compensar hemorragias industriais. E isso nos custa caro. Perdemos o bonde da história.
Sem indústria, ou com cada vez menos emprego industrial, só nos resta chorar. Ou esperar que autoridades públicas municipais façam as respectivas lições de casa. A começar por planejamento estratégico municipal vinculado a organização regional.
Afirmativas de que o desenvolvimento econômico da região não é responsabilidade dos prefeitos não passam de enganação. Fossem os prefeitos intocáveis, outros municípios não cresceriam durante períodos em que caímos pelas tabelas.
Não será com debates furados sobre a mágica de construir um aeroporto em São Bernardo que sairemos da enrascada. Mas é isso que o Clube dos Prefeitos prepara para este fim de mês em parceria com a USCS (Universidade Municipal de São Caetano). Um abraço de afogados que tem objetivo delineado: azeitar a máquina enferrujada de um marketing de efeito-zero.
Serviços congelados
Para ter em mente e coração o tamanho da encrenca dos últimos quatro anos de recessão e estagnação, a massa salarial de dezembro do ano passado é esclarecedora. Pagamos em salários com carteira assinada R$ 500 milhões a menos do que as atividades econômicas pagavam em dezembro de 2014 a todos os trabalhadores com carteira assinada na região.
O setor de serviços, atividade que mais emprega trabalhadores no País, praticamente ficou congelado entre janeiro de 2015 e dezembro do ano passado. Em dezembro de 2014 o Grande ABC contava com 334.116 carteiras assinadas no setor ante 329.499 em dezembro do ano passado. São 4.617 postos de trabalho a menos, ou não mais que 1,40% de perda.
Bem diferente do emprego industrial, que caiu 25,15% no mesmo período, com a quebra de 48.036 ativos no estoque. As indústrias da região contavam com 238.722 empregados com carteira assinada em dezembro de 2014 e passaram a contar com 190.736 em dezembro do ano passado. O déficit segue nesta temporada, com mais de 1,5 mil demissões líquidas, mas os dados não foram incorporados a essa nova análise.
Como a diferença salarial nas atividades de serviços e de indústria é elevadíssima (vamos mostrar detalhes sobre isso numa análise específica), o resultado geral só poderia ser decepcionante.
Mesmo perdendo empregos em números absolutos, por margem escassa, o setor de serviços teve participação relativa aumentada no estoque regional de trabalhadores com registro em carteira. Ou seja: o Grande ABC ficou ainda mais fortemente marcado pelos serviços. Sobretudo porque o desfalque de empregos industriais foi acachapante. Queda de 25% é desestruturante demais.
Dourando a pílula
Exatamente por isso, quando se pratica mensalmente o esporte preferido de dourar a pílula econômica do Grande ABC, autoridades públicas e a mídia mais condescendente dão destaques indevidos à criação de empregos sem levar em consideração os setores que mais geraram vagas.
Para chegar ao saldo negativo de quase R$ 500 milhões de massa salarial dos trabalhadores com carteira assinada no Grande ABC em dezembro do ano passado em relação a dezembro de 2014, ano em que o PIB cresceu mísero 0,5%, bastou multiplicar a média salarial pelo total de empregados -- e aplicar a inflação do período.
O Grande ABC de dezembro de 2014 pagou aos empregados registrados R$ 2.912.585.363 bilhões em valores atualizados pela inflação de 48 meses, ou seja, de dezembro de 2018. O IPCA chegou a 28,07%. E em dezembro de 2018 a massa salarial registrou R$ 2.414.489.471 bilhões. Uma perda de exatos R$ 498.095.892 bilhões (20,63%) quando se comparam os dois dezembros, sempre com atualização monetária.
Multiplicar a diferença pelos 12 meses seguintes, ou seja, nesta temporada, significa que o Grande ABC pagaria de salários, somente de salários, menos de R$ 6 bilhões quando confrontado com o período de 12 meses subsequente a dezembro de 2014.
Essa não é uma conta precisa, matematicamente intocável, porque há variações ao longo dos meses subsequentes à base de comparação, mas dá uma ideia do quanto de dinheiro a menos deixou de circular em forma de pagamento de salários.
Salários e serviços
Veja na sequência o quanto cada Município do Grande ABC pagava em forma de salário médio aos trabalhadores em geral, ou seja, de todas as atividades, e o comportamento dos empregos de serviços. Observa-se claramente o aumento relativo do emprego em serviços, mas a queda de assalariamento geral. Não se pode esquecer que a inflação do período chegou a 28,07%. Nenhum Município da região contou com salário médio geral que alcançasse essa variação.
Diadema – salário médio geral de R$ 2.721,73% em 2014 e de R$ 3.299,06 em 2018. Aumento nominal de 21,21%. Participação relativa do emprego em serviços: 21,04% em 2014 e 22,84% em 2018. Aumento de 1,80 ponto percentual.
São Caetano – salário médio geral de R$ 2.762,38 em 2014 e de R$ 3.178,81 em 2018. Aumento nominal de 15,07%. Participação relativa do emprego em serviços: 45,08% em 2014 e 52,87% em 2018. Aumento de 7,79 pontos percentuais.
Mauá – salário médio geral de R$ 2.549,79 em 2014 e de R$ 3.085,40 em 2018. Aumento nominal de 21,00%. Participação relativa do emprego em serviços: 25,52% em 2014 e 30,63% em 2018. Aumento de 5,11 pontos percentuais.
Ribeirão Pires – salário médio geral de R$ 2.094,75 em 2014 e de R$ 2.628,96 em 2018. Aumento nominal de 25,50%. Participação relativo do emprego em serviços: 26,58% em 2014 e 27,56 em 2018. Aumento de 0,98 ponto percentual.
Santo André – salário médio geral de R$ 2.419,08 em 2014 e de R$ 2.867,35 em 2018. Aumento nominal de 18,53%. Participação relativa do emprego de serviços: 53,48% em 2014 e 58,63% em 2018. Aumento de 5,15 pontos percentuais.
São Bernardo – salário médio geral de R$ 3.195,81 em 2014 e de R$ 3.772,60 em 2018. Crescimento nominal de 18,04. Participação relativa do emprego de serviços: 42,13% em 2014 e R$ 43,16% em 2018. Aumento de 1,03 ponto percentual.
Rio Grande da Serra – salário médio geral de2.008,16 em 2014 e de R$ 2.417,27 em 2018. Crescimento nominal de 20,37. Participação relativa do emprego de serviços: 15,53% em 2014 e 16,38% em 2018. Aumento de 0,85 ponto percentual.
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