Economia

Diadema goleia Santo André
em emprego de comerciários

DANIEL LIMA - 08/11/2019

O prefeito Paulinho Serra transformou um suposto e embrionário corredor gastronômico de Santo André em porta-bandeira de desenvolvimento econômico. Quanta bobagem! A geração líquida de emprego no setor de comércio em Santo André, desde que o tucano tomou posse, é quatro vezes inferior em números relativos (e duas vezes inferior em números absolutos) quando em confronto com o que foi gerado durante o mesmo período em Diadema do prefeito Lauro Michels. Diadema está em primeiro lugar no ranking dos 33 meses. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego e tratam apenas de empregos com carteira assinada.

Tanto no caso de Diadema como de Santo André os saldos líquidos convertem-se em vexames. Entretanto, são menos escandalosos em comparação a outros municípios da região. Não existe comércio que resista à derrocada industrial. É disso que o prefeito de Santo André não entende.

Só Paulinho Serra na ânsia de vender gato por lebre imagina que há incautos na totalidade de quem observa a cena regional. O suposto polo gastronômico da Avenida Portugal, em Santo André, é uma aberração avaliativa, tanto no sentido de que significaria de fato uma tendência asseguradora de novos tempos naquele espaço quanto na repercussão socioeconômica.

Pouco vira muito pouco

Paulinho Serra pretende transformar o pouco em muito, mesmo que esse muito seja muito pouco para o enfrentamento de causas sistêmicas que atravancam Santo André. Temos um prefeito de imaginação rasa. E de atitudes de profundidade que se rivaliza com uma poça dágua.

Tentar tornar a ainda inconsistente vocação gastronômica de uma determinada avenida de Santo André em símbolo de recuperação econômica, como deixou evidenciado no Diário do Grande ABC de hoje, coloca Paulinho Serra na mesma situação do motorista que erra o caminho em direção às praias do litoral santista e, perdido em Rio Grande da Serra, sai com uma resposta desenxabida de que a vida campestre é mais saudável.

Paulinho Serra está perdidíssimo na área econômica porque jamais, como agente público ou pessoa física, se preocupou com desenvolvimento econômico; apenas com política partidária.

O saldo de empregos do setor de comércio no Grande ABC desde que os prefeitos dessa sofrível safra assumiram, em janeiro de 2017, é para lá de ruim. Foram geradas apenas 972 vagas líquidas de empregos formais, o que corresponde a míseros 29,5 vagas a cada novo mês.

Dessa média mensal ridícula de saldo positivo, 11,88 empregos correspondem à cota de Santo André e 24,21 de Diadema. Além dos dois municípios, registraram saldo líquido no período apenas Mauá (178) e Rio Grande da Serra (69). São Bernardo registrou perda líquida de 308 trabalhadores no setor, São Caetano 48 e Ribeirão Pires 206.

Nada mais lógico no resultado final: o Grande ABC perdeu no mesmo período mais de 10 mil empregos industriais com carteira assinada.

Diadema ganha de goleada

Diadema de Lauro Michels gerou o dobro de empregos de comércio em relação a Paulinho Serra quando se consideram apenas números absolutos, sempre tendo como base de comparação o estoque dos dois municípios em dezembro de 2016. Santo André gerou 392 empregos a comerciários no período, ante 799 de Diadema. Já a goleada de quatro a um favorável a Diadema se dá nos números relativos: o emprego no setor avançou 4,58% ante 0,95% de Santo André. A melhor métrica para esse tipo de confronto são os números relativos. Ao adotá-los, evita-se rivalizar universos distintos de trabalhadores.

Para que os leitores entendam a veracidade do contexto desta matéria, recorro ao Diário do Grande ABC de hoje. Sob o título “Av. Portugal se consolida como polo gastronômico”, a repórter Yara Ferraz ouviu o prefeito Paulinho Serra. Vejam um trecho da reportagem: 

 O prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), também citou as características da cidade como atrativos – É larga, sem tanto trânsito, próxima ao Centro”—mas considerou que os grandes grupos sentiram confiança em investir na cidade desde 2017. “A questão da geração de empregos é fundamental. Santo André ainda passa por transformação (comercial e industrial) e esse é um dos nossos grandes desafios, pela redescoberta da vocação. Talvez não tenha só uma vocação. Mas a questão da gastronomia, sem dúvida, é algo real, a cidade tem se tornado polo. Hoje Santo André se consolida como polo gastronômico da região e a geração de empregos vem junto com isso. (...) É uma alternativa ao bairro Jardim, que também é uma região gastronômica da cidade”.

Lembrando Hebe Camargo

Fosse a saudosa Hebe Camargo a definir as declarações do prefeito de Santo André, provavelmente não resistiria a adaptar um dos bordões que a consagraram: “Não é mesmo uma gracinha? ”.

Paulinho Serra corre naquela raia marginal de intelectualismo econômico que beira o teatro do absurdo. O titular do Paço de Santo André não tem apetrechos para dar aos leitores panorama mais ajustado à realidade dos fatos históricos e ao contexto em que vive Santo André e o Grande ABC como um todo.

Traduzindo: não serão dois ou três investimentos gastronômicos numa determinada rua (a reportagem não tratou com abrangência das empresas de outros setores e mesmo de gastronomia a abandoarem aquele riscado) que alterarão o rumo econômico e social de Santo André. Os números do Ministério do Trabalho são inapeláveis.

Os estabelecimentos aos quais se refere a reportagem do Diário do Grande ABC são de primeira linha e devem ser saudados como possíveis abre-alas a novos investimentos, mas daí a se configurarem reformistas no tecido econômico de Santo André vai uma distância quilométrica. Até porque não parece haver dúvida de que os empregos que geraram canibalizaram outros estabelecimentos. Ou seja: outros comércios do setor perderam para os novos investimentos.

Sem PIB, nada feito

Nada mais lógico; afinal, se o PIB não cresce, reparte-se o bolo esquálido entre mais concorrentes. O Grande ABC vive essa contundente realidade há três décadas. Como defini com o uso de um neologismo no início dos anos 1990 na revista LivreMercado, a nordestinação econômica virou febre: pequenos estabelecimentos comerciais e de serviços se multiplicaram e têm como característica principal a sobrevivência de famílias empreendedoras.

O emprego formal do setor comercial em Santo André é de pobreza salarial franciscana. Em dezembro do ano passado, também segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho, a média não superava R$ 2.265,24. Um número superior apenas aos R$ 2.066,92 de Ribeirão Pires, aos R$ 2.359,93 de Mauá e aos R$ 1.900,04 de Rio Grande da Serra. O confronto salarial dos comerciários de Santo André com os de São Bernardo é desfavorável. Em São Bernardo a média do setor é de R$ 2.390,67. Contra São Caetano? Pior ainda: R$ 3.155,80. E contra a líder na geração de empregos no setor desde janeiro de 2017? R$ 2.408,30 para a terra de Lauro Michels.

Os 392 empregos formais de comércio que Santo André gerou em 33 meses significam em valores médios salariais um acréscimo de R$ 88.797.408 mil na massa salarial em setembro último, quando comparada a dezembro do ano passado. Uma ninharia.

Mais problemas chegando

Talvez o prefeito Paulinho Serra ainda não tenha entendido uma lógica econômica inexorável: em Economia não existe blefe que resista à verdade dos fatos. De que logica, afinal, o tucano não se dá conta? De que não existe mágica fora do crescimento econômico sinérgico, sistêmico, retroalimentador.

Um polo gastronômico aqui, um novo varejista de grande porte ali, uma fabriquinha acolá, não fazem verão. O conjunto é que faz a obra. Festejar incipiente e suposto polo gastronômico como a salvação da lavoura em Santo André tem o mesmo sentido de um time qualquer nas rodadas que faltam para se encerrar o Campeonato Brasileiro comemorar em carro aberto até altas horas uma vitória contra o quase imbatível Flamengo sem se dar conta de que segue na zona de rebaixamento, candidatíssimo à Série B.

A metáfora tem amplo sentido porque já revelamos o quanto Santo André, só neste século, apanhou no ranking de PIB Geral na Região Metropolitana de São Paulo. O time de Paulinho Serra e de mais 700 mil moradores terminou em 31º lugar entre 39 competidores. Não será a gastronomia manipulada que vai retirar Santo André da zona de rebaixamento iminente.

Estão chegando aí os números de 2017 do PIB dos Municípios. Os resultados serão mais uma vez emblemáticos da derrocada regional. Graças, entre outros, a triunfalistas de plantão.



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