A família Bigucci está de volta ao comando do Clube dos Construtores do Grande ABC. Bastou breve intervalo de quatro anos de lufadas razoavelmente renovadoras de Marcus Santaguita para o retorno dos Bigucci à cena principal. O pai Milton Bigucci reinou soberano e improdutivo durante um quarto de século.
O filho Bigucci Júnior assumiu agora, numa assembleia à moda conhecida de interesses de amigos do peito e de conveniência, inclusive autoridades públicas que, como se sabe, têm paixão pelo setor imobiliário. Mais que paixão, têm obsessão.
O mercado imobiliário do Grande ABC não é uma Serra Pelada nos melhores dias, mas também não é um deserto de oportunidades dentro e fora de campo.
Mercado imobiliário é uma área vital ao equilíbrio de uma sociedade. Quem compra mal, induzido por falsidades informativas, não tem mais como voltar atrás sem sofrer prejuízo. Mesmo comprando bem, precisa tomar muito cuidado com pelo menos duas décadas de compromisso financeiro pesado.
Do ponto de vista logístico e urbano, o mercado imobiliário pode fazer a diferença entre o céu e o inferno. Basta ver os principais corredores viários no Grande ABC. Na Capital, então, é uma loucura. Mas dá muito dinheiro. Para os bons e os maus empreendedores.
Paixão pelos poderosos
Todos sabem as razões de sentimento de tanta devoção ao mercado imobiliário pelos donos dos poderes. Mas, praticamente ninguém bota a mão da cumbuca de explicações. Quem bota pode levar a pior.
Há uma ou outra fração do Judiciário que desconhece jornalismo de interesse público. Contunde-o com jornalismo de perseguição. Bandidos sociais adoram proclamarem-se vítimas. É o salvo-conduto para agirem sem grandes riscos.
Tomara que o longo período de inutilidade do Clube dos Construtores sob as ordens de Milton Bigucci, o pai, não seja revivido agora com Milton Bigucci Junior, o filho. As referências à Bigucci Júnior são melhores que as do pai, segundo fontes aliadas ao novo presidente. O que isso significa só o tempo dirá. Dor de cabeça leve é bem melhor que dor de dente, mas nem por isso deixa de ser dor. Bigucci Júnior seria um bálsamo de gestão? Vamos ver.
Bigucci pai é intolerante a críticas. Tem paixão enorme pelo Judiciário quando quer fazer a verdade dele prevalecer. Milionário, conta com banca de profissionais mais que competentes. Bigucci pai detesta o Judiciário quando está no que a dialética juridisquês chama de polo passivo. Máfia do ISS é expressão que o incomoda demais.
Baixa representatividade
Não fosse a atividade que representa e que pode ser resumida no velho bordão de que casa é patrimônio sonhado por todas as famílias, o Clube dos Construtores do Grande ABC não mereceria preocupação jornalística. Afinal, mesmo com todo o esforço do agora ex-presidente Marcus Santaguita, é uma entidade de baixa representatividade na classe.
O Clube dos Construtores (oficialmente Acigabc) vive praticamente de favores financeiros do Secovi, o Sindicato da Habitação, com sede na Capital. É baixíssima a contribuição de associados locais, mesmo com todo o esforço restaurador de Santaguita. O Clube dos Construtores se perdeu no tempo de mandonismos e exclusivismos. Levam-se anos para corrigir a rota. Marcus Santaguita fez o que era possível para tanto.
Distante da sociedade
Mais que isso: o Clube dos Construtores não reproduz na prática o que o próprio estatuto social estabelece como viga-mestra de atuação: zelar pelos interesses da classe e também pelo conjunto da sociedade. Ao longo dos anos a sociedade como um conjunto de pessoas de diferentes características jamais foi motivo de atenção do Clube dos Construtores. Distante disso. Sociedade que interessa ao Clube dos Construtores é aquela formada para fins de negócios.
O construtor e incorporador que sucedeu a Milton Bigucci e agora entregou a presidência a Bigucci Júnior não fez muito do que se esperava, mas fez o suficiente para retirar o Clube dos Construtores da porta do inferno da manipulação estatística. Durante o período de gestão de Milton Bigucci, o pai, os dados estatísticos foram manipulados exaustivamente. Cansei de denunciar neste espaço – para horror de quem detesta o outro lado da informação, a informação recheadíssima de interesse público.
Meritíssimo condenatório
É claro que tudo que escrevi e consolidei para denunciar a gestão prolongada de Milton Bigucci contava com fontes de informações que o código profissional impede revelar identidades. E também teve peso as observações compulsórias que o jornalismo impõe. Um meritíssimo de Santo André, que não entende nada de jornalismo e suas nuances, mas entende muito de outras coisas, resolveu me punir. Só não conseguiu o prêmio maior contra a verdade dos fatos: me jogar numa cela de prisão. E mesmo que conseguisse não alteraria em nada as regras do jogo. Mas isso é outra história. E
Diferentemente do mais comedido Marcus Santaguita, Milton Bigucci, o pai, desfilou ao longo dos anos um caudal impressionante de informações típicas de corretor de imóvel mal preparado. Ele estabeleceu premissas unilateralmente danosas. Disse que o mercado imobiliário da região sempre representou 30% do mercado paulistano (não passa, com muito esforço, de um décimo) e industrializou mentiras estatísticas, como dados falsos sobre o movimento do navio dos negócios imobiliários. Tudo desmascarado neste espaço, mas servilmente destacado como verdades na mídia em geral.
Foi com Marcus Santaguita que se instaurou ordem na bagunça numérica preparada para ludibriar a boa-fé dos interessados em imóveis. Os funcionários que o Clube dos Construtores pagava também para, sob as ordens de Milton Bigucci, o pai, criar fantasias estatísticas, foram despachados. Viraram estatísticas de demissões da entidade.
Limpando a área
Marcus Santaguita seguiu o ritual ético e moral de juntar-se ao Secovi paulistano e ingressar nas associações dos municípios que integravam a rede de dados oficiais de uma consultoria especializada no setor --- e que mede a temperatura real do mercado imobiliário. A Embraesp, a empresa em questão, tem imensa responsabilidade de oferecer números que reproduzam a realidade do setor. Bem diferente do que poderia ser chamado de DataBigucci, uma fonte de suspeição.
O mercado imobiliário não conta com o devido escrutínio da mídia em geral, e tampouco das redes sociais tão ávidas em transformar a política partidária em campo de batalha. Dos grandes jornais, apenas a Folha de S. Paulo tem olhar mais agudamente crítico ao que se passa, principalmente em São Paulo. A influência da atividade sobre distintas esferas midiáticas e de poder não corre em raia muito diferente das empreiteiras colhidas em delito na Operação Lava Jato. Mas jamais houve algo replicante no mercado imobiliário de forma sistemática. Tanto é verdade que a Máfia do ISS, na qual Milton Bigucci, o pai, envolveu-se, jamais teve a correspondente punição aos delituosos. Os processos em segredo de justiça praticamente sumiram da mídia depois de seis anos.
Céu em plena recessão
No Grande ABC, de modo relativamente intenso, apenas CapitalSocial tem olhos e ouvidos aguçados para o mercado imobiliário no sentido crítico de ser. De vez em quando o Diário do Grande ABC aparece com alguma matéria a respeito, inclusive de Milton Bigucci, o pai.
Estruturalmente mesmo, para valer, com ampla liberdade de movimentos, apenas CapitalSocial. Pela simples razão de que há milhares e milhares de famílias potencialmente entregues às informações.
Quantos não quebraram a cara ao navegarem nas ondas mais que triunfalistas de Milton Bigucci, o pai, durante o boom do setor? Milhares. A inadimplência estourou. Os investimentos em apartamentos e salas comerciais abundaram. E fracassaram.
O Grande ABC é um território imobiliário à venda a qualquer preço. Os novos imóveis para a classe média são raros. Prevalece Minha Casa, Minha Vida. Milton Bigucci, o pai, vendeu o céu quando o Grande ABC já se debatia no inferno da recessão. Só poderia dar o que deu. Só tem a coragem de afirmar que ninguém perde dinheiro com imóvel quem está lelé da cuca, deliberadamente está disposto a enganar o distinto público ou não entende patavina da atividade.
Recordar é conhecer
Em janeiro de 2016, logo após a posse de Marcus Santaguita na presidência do Clube dos Construtores, escrevi análise que vale a pena ser recuperada sobretudo aos novos leitores de CapitalSocial, que se multiplicam nas redes sociais. Sob o título “Santaguita precisa atacar manipulação imobiliária”, vejam alguns trechos da matéria:
Vai demorar para desaparecerem as digitais estrepitosamente danosas da gestão de Milton Bigucci no Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC. Uma das medidas que o novo presidente da Acigabc, Marcos Santaguita, poderá adotar para afastar o fantasma do antecessor que durante 21 anos levou o mercado imobiliário da região, em termos institucionais, à bancarrota, é moralizar e dar transparência à pesquisa de comportamento da atividade. Milton Bigucci deixou rastro de ilusionismo que precisa ser eliminado. (...) Vamos de forma objetiva a um exemplo de como Milton Bigucci instrumentalizou um jogo de ilusionismos como então presidente do Clube dos Construtores.
Mais análise de 2016
(...) O boletim oficial do mercado imobiliário, que consta do site do Clube dos Construtores, informa que entre janeiro e setembro de 2015 foram lançadas 3.788 unidades na região, ante 3.504 unidades no mesmo período de 2014, com aumento de 281 unidades, as quais corresponderiam a 8% de acréscimo. Nos mesmos nove meses do ano passado, na cidade de São Paulo, de mercado imobiliário muito mais dinâmico, o acumulado de lançamentos totalizou 18.510 unidades, volume 35% inferior ao mesmo período do ano anterior.
Mais análise de 2016
(...). Como todos sabem, estamos em janeiro. O ano passado acabou de passar. Como o ano passado acabou de passar, qualquer menção estatística sobre o ano passado tem tudo a ver com a situação que estamos vivendo. O calendário gregoriano não tem o dom de apagar o comportamento de pessoas, e pessoas fazem as transformações na sociedade. Simples assim, é claro. Então, faço um convite ao leitor que eventualmente considere que esteja este jornalista a exagerar sobre os rompantes malabaristas de Milton Bigucci, ainda respondendo sobre os dados do ano passado do Clube dos Construtores. Leiam a seguinte declaração deste final de semana do empresário sobre a situação do mercado imobiliário. Ele foi entrevistado pelo Diário Regional. Foi colhido, portanto, em flagrante delito informativo. Leiam: “O mercado imobiliário está em depressão. Mais do que já está acontecendo, deverá ocorrer nos próximos 12 meses o aumento do volume do desemprego na construção civil brasileira, que representa milhares de empregos”, observou Bigucci. “O raciocínio é simples: se nos últimos 12 meses os lançamentos caíram em torno de 50% e uma obra começa normalmente seis meses após o seu lançamento, é óbvio que haverá um desemprego grande nos próximos 12 meses”, – escreveu o Diário Regional. Ora bolas, não há a menor dúvida de que Milton Bigucci então à frente do Clube dos Construtores, prestou informações manipuladas para produzir o balanço das atividades do setor na região ao longo dos primeiros nove meses do ano passado. Ou estou enganado? Ele disse com clareza que nos últimos 12 meses os lançamentos caíram 50%. Exatamente os 12 meses do ano passado. Então, o crescimento de 8% dos lançamentos nos nove primeiros meses, como consta do boletim, é a prova da mentira.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?