Economia

Região mantém participação no
PIB em 2017. Isso é bom ou ruim?

DANIEL LIMA - 18/12/2019

O PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC interrompeu em 2017 (dados mais atualizados) a persistente perda de participação no mapa nacional. Perder participação significa que a geração de riqueza em produtos e serviços é proporcionalmente inferior ao volume geral. Manter participação quer dizer que paramos de piorar no confronto nacional.

Na medida do tempo vamos mostrar como fomos no G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo. Mas isso fica para o ano que vem.

No fundo, o resultado do PIB do Grande ABC em 2017 é notícia negativa. Afinal, estamos perdendo esse jogo há décadas e um empate técnico entre um ano e outro, como é o caso, não sinaliza novos tempos.

A recuperação econômica regional é cíclica e cada vez de intensidade inferior à reação anterior. Ou seja: quando se perde durante mais tempo do que se ganha na fase boa, não há como escapar à armadilha do empobrecimento econômico e social.

Polo Petroquímico salva

Os resultados da região estão atrelados sobremodo à indústria automobilística. E a indústria sobrerrodas na região já foi muito maior tanto em termos relativos quanto absolutos. Somos cada vez menos importantes na produção de veículos no País. Uma crise na Argentina, como a que se vê agora, vai se refletir no PIB Regional a ser anunciado somente em dezembro de 2021.

A indústria automobilística já não segura a ponta regional. Tanto é verdade que só escapamos de nova derrapagem no PIB de 2017 porque o Polo Petroquímico, dividido entre Santo André e Mauá, quebrou o galho. Tanto que o crescimento do PIB de Mauá compensou em boa parte o congelamento da quase totalidade dos demais municípios do Grande ABC.

O setor químico e petroquímico representa mais de dois terços da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de Mauá. E um terço de Santo André. A influência regional também é intensa. Principalmente no setor automotivo.

O problema do Polo Petroquímico é que gera diretamente poucos empregos industriais. Diferentemente, portanto, do setor automotivo. Mas a cadeia de produção é valiosa.

O que é motivo de comemoração para Mauá (afinal, entre 2016 e 2017 o PIB local cresceu 13,29%, já considerando a inflação) deveria preocupar e muito Santo André. Embora com participação relativa inferior na geração de riqueza industrial do Polo Petroquímico, Santo André depende muito da atividade.

Entretanto, como o crescimento do PIB de Santo André no mesmo período (2016-2017) não passou de 0,3%, isso significa que outros setores industriais estariam sofrendo perdas líquidas de geração de riqueza. Tudo camuflado pelo Polo Petroquímico, espécie de Doença Holandesa suplementar à Doença Holandesa Automotiva.

Caindo pelas tabelas

Os números do PIB dos Municípios Brasileiros seguem defasados em relação ao PIB Nacional porque, como sempre, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga com dois anos de atraso.

Desta feita, o PIB dos Municípios nem foi anunciado oficialmente. Pegamos carona nos dados do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), divulgados hoje pelo Diário do Grande ABC.

O principal reparo a fazer ao noticiário do jornal é a infundada colocação do Grande ABC como quarto maior PIB brasileiro. Trata-se de velharia interpretativa que não resiste aos conceitos mais atualizados de regionalidade. Apenas um exemplo: cada área geográfica na Grande São Paulo é uma região. E o Grande ABC está atrás das regiões da Grande Osasco e da Grande Guarulhos, por exemplo. Já escrevemos muito sobre isso.

O professor Jefferson José da Conceição, responsável pelas informações ao Diário do Grande ABC, exagera quando afirma que a região ganhou participação nacional entre 2016 e 2017.  Os números estão praticamente congelados.

O volume do PIB Brasileiro em 2016 registrou R$ 6.267.205 trilhões, enquanto o Grande ABC contabilizava R$ 112.048.654 bilhões. Exatamente 1,79% da geração de riqueza nacional.

Já no ano seguinte, em 2017, o PIB Nacional alcançou R$ 6.583.000 trilhões, ante R$ 118.614.542 bilhões do Grande ABC. Ou participação de 1,80% no bolo nacional.

Quem consegue estabelecer diferença de comportamento do PIB quando se considera números tão próximos é mesmo muito otimista. Para valer, a economia do Grande ABC ficou estagnada em relação ao comportamento nacional.

Sempre considerando o volume do PIB, e tendo como base de informações o professor da USCS, chegamos à conclusão que o PIB do Grande ABC em 2017 registrou crescimento de 0,99%. Esse dado não consta da reportagem do Diário do Grande ABC.

Chegamos a esse percentual atualizando os valores do PIB de 2016, confrontando-os com os de 2017. O PIB do Grande ABC em 2016 registrou R$ 112.048.654 bilhões. Salta para R$ 115.393.092 quando se corrige monetariamente com base na inflação de 2,95% da temporada de 2017 medida pelo IPCA do IBGE. Quando se confrontam os números gerais de 2016 e 2017, chega-se ao avanço de 0,99%.

O comportamento histórico do PIB Geral do Grande ABC é uma catástrofe anunciada pela forte desindustrialização combinada com a ausência de alternativas produtivas sustentáveis.

Desempenho dos municípios

O PIB Geral de 1970, quando o Brasil se tornou tricampeão mundial, representava 4,52% de tudo que se produzia no País. Basta fazer as contas: quem tinha tudo isso, ou seja, 4,52%, e caiu para 1,80%, sofreu uma queda de 60,18%.

Vejam os números dos sete municípios do Grande ABC, sempre conforme informações do representante da USCS: 

 Santo André registrou em 2017 PIB Geral de R$ 27.470.680 bilhões, ante R$ 25.837.046 bilhões de 2016. Resultado, considerando a inflação do período: crescimento de 0,33%.

 São Bernardo registrou em 2017 PIB Geral de R$ 44.680.389 bilhões, ante R$ 42.131.380 bilhões em 2017. Resultado, considerando a inflação do período: Crescimento de 0,30%.

 São Caetano registrou em 2017 PIB Geral de R$ 13.106.958 bilhões, ante R$ 13.286.711 bilhões em 2016. Resultado, considerando a inflação do período:  queda de 0,42%.

 Diadema registrou em 2017 PIB Geral de R$ 13.412.702 bilhões, ante R$ 13.22.9745 bilhões em 2016. Resultado, considerando a inflação do período: queda de 0,15%.

 Mauá registrou em 2017 PIB Geral de R$ 16.286.408 bilhões ante R$ 13.963.846 bilhões de 2016. Resultado, considerando a inflação do período: crescimento de 13,29%.

 Ribeirão Pires registrou em 2017 PIB Geral de R$ 3.046.465 bilhões, ante R$ 3.021.839 bilhões em 2016. Resultado, considerando a inflação do período: queda de 0,21%.

 Rio Grande da Serra registrou em 2017 PIB Geral de R$ 610.937 milhões, ante R$ 578.087 de 2016. Resultado, considerando a inflação do período: crescimento de 0,26%.



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