Economia

Quarto maior PIB do Brasil?
Isso não passa de fake news

DANIEL LIMA - 19/12/2019

Velharias interpretativas que não visam outra coisa senão colocar mais uma camada de triunfalismo num território que precisa de choque de reestruturação seguem a ludibriar o distinto público. Vamos parar com essa história de que o Grande ABC conta com o quarto maior PIB do Brasil. Balela pura. Puríssima. Fake news estúpido.

A situação é bem outra, mas, paradoxalmente, não significa que estamos perdidos e mal pagos. Podemos ser até o vigésimo PIB Nacional (e não estamos longe disso, podem acreditar), mas, se acordarmos, teremos garrafa vazia para vender, porque as comemorações serão sempre constantes. Por enquanto, e esse por enquanto vem de longe, caminhamos tropegamente. E nos deixamos enganar por falsas conjecturas.

Não é a primeira vez e possivelmente nem a última que darei esse grito de inconformismo contra falseadores voluntários ou involuntários de uma máxima econômica sem eira nem beira.

O tempo passa

Em outros tempos, tempos de conceitos superados pelo tempo, também utilizamos a expressão terceiro ou quarto maior PIB do País ao nos referir ao Grande ABC. Quem for ao acervo da revista LivreMercado e também de CapitalSocial vai encontrar coisas assim. Mas, como disse, isso já passou.

Tudo passa, aliás. Até outro dia, por exemplo, Tite era quase unanimidade nacional. Hoje, Copa do Mundo perdida, exibições enfadonhas, e um Jorge Jesus arrebentando conceitos nacionais de jogar futebol, Tite vê sangrar o prestígio no DataFolha.

Se até outro dia estava praticamente sozinho ao contestar o conceito de regionalidade tradicionalmente esgrimido, finalmente, estou respaldadíssimo.

E quem me dá aval é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que transformou regionalidade convencional em “concentração urbana”. Mas, mesmo assim, faço alguns reparos porque a flexibilidade interpretativa, com lastro, é maior ainda.

Queda é muito maior

Caímos para o oitavo lugar no ranking nacional de poderio econômico, segundo a métrica do IBGE. Mas estamos mais distantes ainda dos primeiros postos se forem considerados microterritórios. Aliás, é microterritório o Grande ABC, cuja área é de 840 quilômetros quadrados e a população chega próxima a três milhões ou quase um milhão de famílias.

No mais recente boletim de mensuração do PIB dos Municípios Brasileiros, relativo a 2017, o IBGE formulou uma lista das 10 maiores concentrações urbanas do País. O Grande ABC está embutido na centralidade da região liderada pela cidade de São Paulo, que encabeça a competição. São R$ 2.838.351 trilhões o PIB dessas 10 maiores concentrações urbanos, o que correspondente a 43,1% do PIB Brasileiro.

A participação do Grande ABC no bolo geral de São Paulo, de R$ 118 bilhões, corresponderia ao oitavo lugar nacional, atrás também do Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Campinas. Por pouco, muito pouco, não caímos para o nono lugar: Salvador chegou ao PIB Geral de R$ 116.613 bilhões. Mas logo vai nos passar, sem dúvida.

Concentração urbana

O boletim do IBGE explica o conceito de concentração urbana semelhantemente ao que escrevi algumas vezes e já há algum tempo: “A análise da distribuição do PIB por concentrações urbanas (arranjo populacional com mais de 100 mil habitantes, reunindo uma ou mais cidades com alto grau de integração, devido aos deslocamentos para trabalho ou estudo) permite verificar que 25% da produção econômica do País em 2017 estava em apenas duas delas: São Paulo (17,3%), onde se situa, entre outros, o Município de Osasco; e Rio de Janeiro (7,7%)” – afirma o documento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O oitavo lugar no ranking nacional do PIB já seria uma dádiva para o Grande ABC, mas a colocação é rebaixada na medida em que se flexibiliza o conceito adotado pelo IBGE, sem infringir, entretanto, a realidade dos fatos.

Já mostrei em outras datas que só na Região Metropolitana de São Paulo o Grande ABC foi superado na última década por dois territórios que constam do mapa de distribuição regional dos municípios: a área que chamaria de Grande Osasco e também a da Grande Guarulhos. Ou a Grande Oeste e a Grande Leste.

Derrotas na metrópole

Os efeitos do traçado do Rodoanel foram dilacerantes para o Grande ABC neste século. Deram-nos um presente de grego e ainda há incautos que, também ignorantes, louvam a obra como diferencial desenvolvimentista do Grande ABC. Quanta estupidez em estado bruto!

Aliás, sobre Osasco, o boletim do IBGE não poupa detalhes. Numa outra métrica adotada pelos técnicos do instituto, constatou-se que o Município da Grande São Paulo mais beneficiado pelo traçado do Rodoanel conta com a maior densidade econômica do País ao gerar R$ 1 bilhão por quilômetro quadrado. “De 2002 a 2017, Osasco também foi o Município com o maior aumento de participação no PIB do País (0,3 ponto percentual), impulsionado, principalmente, pelos Serviços” – escreveram os especialistas do IBGE.

Mais abaixo, o boletim do IBGE volta a se ao assunto: “A densidade econômica no País, em 2017, foi de R$ 774 mil por quilômetro quadrado, enquanto nas concentrações urbanas esse valor é 10,5 vezes maior: R$ 8,2 milhões por metro quadrado. Na Amazônia Legal, região com extensas áreas de baixa ocupação, esse valor fica em R$ 114 mil por quilômetro quadrado. Enquanto a concentração urbana de São Paulo, o quilômetro quadrado produziu R$ 159,2 milhão, a concentração urbana do Rio de Janeiro, segunda na classificação, produziu cerca de metade desse valor – R$ 83 milhão” – afirma o boletim.



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