Talvez uma metáfora seja a expressão mais didática para o leitor entender o tamanho do prejuízo de competitividade econômica e social que o Grande ABC sofre neste século, especialmente após a inauguração dos trechos Oeste, Sul e Leste do Rodoanel. Virou presente de grego a obra que supostamente, segundo alguns, e o senso comum, seria a libertação econômica da região.
Essa é uma conclusão metricamente consolidada ao longo dos anos nesta revista digital, sucessora da revista impressa LivreMercado. O acompanhamento sistemático dos resultados é uma maneira de alertar as autoridades da região que, passa ano, entra não, nada fazem para buscar alternativa à reviravolta provocada pelo Rodoanel.
Isso quer dizer que jamais ao longo dos anos houve qualquer preocupação institucional do Grande ABC em contrapor-se às desvantagens causadas pela obra do governo do Estado.
O Grande ABC foi passado para trás em competitividade e jamais moveu uma palha sequer para exigir reanálise da situação. Nenhuma instituição regional também se deu ao trabalho de sugerir qualquer coisa que lembre ao governo do Estado o significado economicamente desastroso do Rodoanel.
Corrida explicativa
Os resultados do PIB dos Municípios, anunciados em dezembro último, alargaram a diferença entre os sete municípios da região e os sete municípios que giram em torno do eixo formado por Osasco e Barueri.
O PIB dos sete municípios do Grande ABC corria a 100 quilômetros por hora em 2002. A velocidade estava muito aquém de outros tempos. A região sofria os efeitos de uma desindustrialização ainda mais aguda durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
O PIB dos sete municípios da Região Oeste da Grande São Paulo, que tem Osasco e Barueri como principais endereços, corria em velocidade inferior. A 72,37 quilômetros por hora. Ou seja: a vantagem do carro do Grande ABC era de 27,63%.
Uma diferença que já fora muito maior até os anos 1990, quando a região de Osasco-Barueri começou a reagir. Principalmente porque já se anunciava a chegada do Rodoanel. Quando a obra começou justamente pela Região Oeste, o desastre do Grande ABC se acentuou. Com a inauguração, o desastre veio em forma de bólido.
No mesmo 2002, quando os dois veículos corriam em velocidades diferentes, era inaugurado o Trecho Oeste do Rodoanel Mario Covas. A serpentina de mais de 170 quilômetros no entorno da Região Metropolitana de São Paulo segue inacabada. Só deverá fechar o circuito em dois antes. Falta o Trecho Norte.
Primeiro à Oeste
O Trecho Sul, principalmente, que abrange o Grande ABC, foi inaugurado apenas em 2010. Depois veio o Trecho Leste, menos importante logisticamente para a região, inaugurado em 2014.
O que houve nos 15 anos subsequentes já medidos, ou seja, entre 2003 e 2017, tendo 2002 como referência de velocidade, comprova a tese de uma minoria sufocada que alertou sobre os riscos de o Rodoanel virar um bumerangue para a economia do Grande ABC.
Os municípios ficariam mais expostos à competição logística assimétrica de outros endereços, notadamente no entorno da Capital, quer rumo à Baixada Santista, do Porto de Santos, quer rumo ao Interior do Estado. O Rodoanel do Grande ABC teria apenas três alças de acesso. E mesmo assim tangencialmente ao território regional. O Rodoanel de Osasco e vizinhança esticaria os braços rumo a 13 alternativas de acessibilidade. Uma versatilidade e tanto. E com traçado mais ao centro dos municípios.
Fugindo do Custo ABC
O chamado Custo ABC, expressão cunhada pelo empresário e líder empresarial Fausto Cestari, poderia desnudar as deficiências locais de forma contundente na disputa por espaços de produção e de produtividade contra o traçado da Região Oeste. Os triunfalistas de plantão não admitiram a advertência. Como disse Fausto Cestari, nem tudo que é bom para o Brasil e para o Estado de São Paulo é necessariamente bom para o Grande ABC.
O Rodoanel é um caso clássico de tiro que sai pela culatra. O passivo do pioneirismo industrial da região, com as especificidades conhecidas, entre as quais o movimento sindical de viés socialista, acrescentava dificuldades. Os custos trabalhistas e do valor do metro quadrado de terreno também.
A Região Oeste de Osasco e tantos outros municípios agradece a disputa desigual que se estabeleceu. Uma nova era de desindustrialização do Grande ABC iniciara-se ou aumentava o volume com o trecho Oeste tão próximo.
O PIB dos Municípios de 2017, que acabou de sair do forno do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é mais uma vez cruel com o Grande ABC. Numa comparação ponta a ponta, de janeiro de 2003 a dezembro de 2017, o PIB Geral do Grande ABC avançou em termos nominais apenas 202,23%.
Já o PIB Geral da Região Oeste (Barueri, Osasco, Itapevi, Jandira, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba e Carapicuíba) avançou 447,72%. Isso mesmo: mais que o dobro no confronto com o Grande ABC.
Resultado: o veículo do Grande ABC que trafegava a 100 quilômetros por hora ante 72,37 quilômetros por hora dos concorrentes à Oeste da Capital, agora, em 2017, foi ultrapassado há várias temporadas: o carro da Região Oeste trafega a 100 quilômetros por hora, enquanto o veículo do Grande ABC não passa de 76,25. Ou seja: o que era uma vantagem de 27,63% passou a ser desvantagem de 23,75%.
Ranking de Desempenho
Veja o desempenho individual (com predomínio quase absoluto dos municípios do outro lado da região) dos 14 endereços que integram o Grande ABC e a Região Oeste da Grande São Paulo, por ordem de crescimento nominal (sem considerar a inflação do período) do PIB Geral:
1. Itapevi cresceu nominalmente 991,20% no período: o PIB Geral era de 1.062.833 bilhão em 2002 e passou para R$ 11.597.557 bilhões em 2017.
2. Osasco cresceu nominalmente 527,35% no período: o PIB Geral era de R$ 12.418.898 bilhões em 2002 e passou para R$ 77.910.496 bilhões em 2017.
3. Jandira cresceu nominalmente 399,65% no período: O PIB Geral era de 806.259 milhões em 2002 e passou para R$ 4.028.508 bilhões em 2017.
4. Santana de Parnaíba cresceu nominalmente 391,88% no período: o PIB Geral era de R$ 1.748.585 bilhão em 2002 e passou para R$ 8.583.623 bilhões em 2017.
5. Carapicuíba cresceu nominalmente 344.10% no período: o PIB Geral era de R$ 1.237.177 bilhão em 2002 e passou para R$ 5.494.357 bilhões em 2017.
6. Barueri cresceu nominalmente 330,93% no período: o PIB Geral era de R$ 11.035.042 bilhões em 2002 e passou para R$ 47.553.589 em 2017.
7. Ribeirão Pires cresceu nominalmente 325,92% no período: o PIB Geral era de R$ 715.269 milhões em 2002 e passou para R$ 3.046.465 bilhões em 2017.
8. Pirapora do Bom Jesus cresceu nominalmente 325,16% no período: o PIB Geral era de R$ 93.179 milhões e passou para R$ 396.159 milhões.
9. Rio Grande da Serra cresceu nominalmente 322,97% no período: O PIB Geral era de R$ 144.441 milhões em 2002 e passou para R$ 610.938 milhões em 2017.
10. Mauá cresceu nominalmente 319,05% no período: o PIB Geral era de R$ 3.886.495 bilhões e passou para R$ 16.286.409 bilhões.
11. Santo André cresceu nominalmente 222,63% no período; o PIB Geral era de R$ 8.514.414 bilhões em 2002 2 passou para R$ 27.470.680 em 2017.
12. Diadema cresceu nominalmente 208,87% no período: o PIB Geral era de R$ 4.342.561 bilhões e passou para R$ 13.412.703 bilhões em 2017.
13. São Bernardo cresceu nominalmente 191,83% no período; o PIB Geral era de R$ 15.310.266 bilhões em 2002 2 passou para R$ 44.680.389 bilhões em 2017.
14. São Caetano cresceu nominalmente 106,97% no período: o PIB Geral era de R$ 6.332.646 bilhões e passou para R$ 13.106.959 bilhões em 2017.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?