Economia

Veja o Indicador de Emprego
compatível com a realidade

DANIEL LIMA - 27/01/2020

Quem gerou mais emprego industrial no ano passado: uma cidade com saldo de 63 carteiras assinadas ou uma cidade com saldo de 167? E quem gerou mais emprego geral (de todas as atividades econômicas) em 2019: uma cidade cujo saldo foi de 680 trabalhadores ou uma cidade com 2.613? Se você respondeu que ganharam a corrida por emprego as cidades que acumularam mais saldo positivo está redondamente enganado. 

Essa é a lógica (e bote lógica nisso!) do Índice de Emprego Formal que CapitalSocial publicará mensalmente dentro do G-22, grupo dos 20 municípios mais importantes do Estado, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra apenas para completarem dados gerais do Grande ABC de sete municípios. 

O Índice de Emprego Formal é mais um indicador do G-22 criado por este jornalista. O conceito que me move cabe perfeitamente nos pressupostos de regionalidade. Não há grande serventia do ponto de vista de estruturação de competitividade do Grande ABC o balanço mensal conservador que revela o saldo de empregos formais. Essa é uma cantilena fora de moda quando se enxerga a importância do todo, contextualizando as informações agregadas. 

No caso, o G-22 é espécie do todo que mais preocupa a região de imediato. Os concorrentes (e por que não possíveis inspiradores de políticas públicas de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC?) estão nesse nicho privilegiado de competidores no Estado de São Paulo. 

Esta não é a primeira vez nem será a última que faço um alerta tão necessário quanto redundante: não podemos mirar exclusivamente o próprio umbigo para tentar decifrar o passado, compreender o presente e descortinar o futuro do Grande ABC. O referencial do G-22 é desafiador em todos os sentidos. 

O Índice de Emprego Formal é uma novidade em meio à mesmice do noticiário que trata os números mensais do Ministério do Trabalho e Emprego. É um indicador que leva em conta o saldo positivo e o saldo negativo dos empregos formais. 

Dividimos a operação em dois ranqueamentos. O primeiro, que publicaremos amanhã, tratará do emprego industrial com carteira assinada. O segundo, reservado para quarta-feira, tratará do emprego em geral, que abarca todas as atividades. 

Esse novo indicador do G-22 junta-se aos demais que criamos no ano passado. A diferença é que o Índice de Emprego Formal será renovado a cada mês, conforme o anúncio dos dados pelo Ministério do Trabalho. Os demais, em regra, obedecem à renovação mais demorada dos dados. Geralmente são anuais. 

Âncoras federais

A diferença básica entre o Índice de Emprego Formal dos demais indicadores de CapitalSocial é que introduzimos duas âncoras em torno da quais girarão os dados dos municípios. Foi a saída metodológica que encontramos para estabelecer condições igualitárias aos participantes do G-22. Números municipais e números regionais no caso do mercado de trabalho não se sustentam sem referenciais. São potencialmente embustes. 

Essas âncoras são o resultado mensal da variação do estoque de empregos industriais e gerais no País. Ou seja: os integrantes do G-22 vão ser medidos diretamente em relação à média nacional. Vamos para exemplos práticos.

A média de 2019 do emprego formal no setor industrial do País foi a variação positiva de 0,26% na variação do estoque relativamente ao ano anterior. Já a média de empregos em geral (extrativa mineral, indústria de transformação, serviços industriais e de utilidade pública, construção civil, comércio, serviços, Administração Pública e Agropecuária) foi de 1,68%. Esses são os números-base do ranking.

Esse é o ponto de partida, portanto, às métricas que se seguirão, individualmente e no conjunto do G-22. 

Exemplos práticos 

Nada melhor que um exemplo prático para os leitores entenderem o que apresentaremos a cada mês. Melhor dizendo: exemplos práticos. E vamos utilizar justamente as duas questões formuladas no início deste texto. Explicaremos a resposta em que menos é mais e mais é menos, conforme adiantamos. 

O caso no setor industrial da cidade de 63 empregos industriais como saldo na temporada passada e que supera a cidade que gerou 167 empregos envolve Santos e Jundiaí. Santos está à frente de Jundiaí no ranking de emprego industrial que será publicado amanhã mesmo tendo gerado quantidade menor de empregos (63) que a cidade do Interior (167). A explicação é que a variação do estoque do emprego industrial de Santos foi superior à de Jundiaí quando em confronto com a média nacional. 

Melhor explicando: se o estoque de emprego industrial de Santos é quantitativamente menor que o de Jundiaí, provavelmente o saldo móvel mensal ou em períodos mais alongados será também quantitativamente menor. 

Entretanto, quando entra em campo a relativização dos dados, tudo é diferente. Enquanto o crescimento do estoque de 1% de Santos decorreu do acréscimo de 63 carteiras assinadas em 2019, em Jundiaí as 167 carteiras elevaram o estoque em apenas 0,13%. Não se pode esquecer os números-âncora da média nacional. 

Mais um exemplo

No outro exemplo em que mais é menos, o confronto envolve o saldo positivo de empregos em geral em Paulínia e em Santo André. Como pode Paulínia estar à frente de Santo André no ranking que publicaremos quarta-feira se o saldo positivo de empregos em geral no ano passado foi de 680 carteiras assinadas, ante 2.613 do Município do Grande ABC? 

Simples: o saldo de Paulínia representou variação positiva do estoque em 0,15% em relação à média nacional, enquanto Santo André registrou redução de 0,33%. Ou seja: enquanto Paulínia avançou, Santo André perdeu participação no confronto nacional. 

Para que Santo André não se sinta supostamente perseguida pela metodologia (o prefeito Paulinho Serra é um dos mais embriagados defensores de quantidade como suposta grandiosidade, porque isso lhe interesse como ferramenta de marketing que explora nas redes sociais e nos jornais em geral), não custa comparar o Município com Campinas. 

Em termos numéricos conservadores, Campinas produziu mais empregos formais gerais do que Santo André no ano passado. Foram 2.736 de saldo, ante 2.613 do Município do Grande ABC. Entretanto, na classificação final que será conhecida quarta-feira, Santo André está seis postos à frente de Campinas. Tudo porque o resultado final de Santo André ante o estoque nacional foi de queda de 0,33%, Campinas registrou perda de 0,96%.  A quantidade também nesse caso perde para a relatividade. 

Portanto, ignorar o tamanho do estoque pretérito (os dados que parametrizam o Índice de Emprego Formal estão relacionados como base a temporada de 2018), é jogar na lata do lixo qualquer tentativa de compreender e analisar cuidadosamente o movimento do navio da economia em forma de empregabilidade efetivada. 

Capital desequilibrante 

A Capital do Estado, por ter o maior estoque de trabalhadores industriais e em geral do País, sempre teria vantagem no volume do balanço mensal do Ministério do Trabalho caso não houvesse o uso do bom-senso da variação dos números. 

Na temporada de 2019, São Paulo gerou saldo positivo de 80.831 empregos em geral (praticamente 10 vezes mais que o Grande ABC inteiro), com variação do estoque de 1,94%, enquanto o emprego formal industrial sofreu baixa de 0,24%. Resultado prático desses números? São Paulo teve saldo positivo de 0,26% do estoque de empregos em geral ante os números médios do Brasil (resultado que a colocaria em segundo lugar no G-22), enquanto que no balanço do emprego industrial a queda do estoque de 0,24%, teria perdido participação de 0,50% em relação à variação média nacional, que foi de 0,26%. Ou seja: o 0,50% de variação negativa é o resultado do 0,26% negativo (de São Paulo) mais o 0,24% positivo (da média nacional). 

São Paulo não faz parte do G-22, mas se o fizesse ocuparia a oitava posição no ranking de emprego formal industrial em 2019. Melhor que qualquer cidade do Grande ABC. Conforme revelaremos na edição de amanhã.



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