Economia

PIB de Consumo da região perde
uma São Caetano e meia em 2019

DANIEL LIMA - 30/04/2020

O empobrecimento do Grande ABC não para. E nem é preciso projetar o desastre com o vírus chinês assassino. Nesta temporada a região teve o PIB do Consumo reduzido em 9,30% em relação ao ano passado. Foram atirados no lixo da queda econômica quase R$ 8 bilhões de reais. O resultado é equivalente a tudo que São Caetano de 160 mil habitantes tem condições de consumir este ano. Uma São Caetano e meia, para ser mais preciso. Ou se quiserem, quase a soma de São Caetano e Ribeirão Pires.

Entenderam a insistência ao longo de temporadas em afirmar que é indispensável o Grande ABC mobilizar-se? A matriz de todas as mazelas da região, que são muitas e indomáveis, é a desindustrialização sem reposição equivalente ou mitigatória de outras atividades econômicas. O setor de serviços, badalados pelos ignorantes ou malandros, não dá conta do recado. É pobre em valor adicionado.

Os administradores públicos locais repetem a cada ano a mesma orquestração para repor parte das perdas fiscais: aumentam a carga de impostos locais e desprezam qualquer iniciativa que tenha o planejamento econômico como meta absoluta. Algo semelhante, mas muito mais organizada, à que estão levando ao campo de batalha de enfrentamento ao Coronavírus. 

Acompanhamento histórico

Perder o PIB de Consumo de uma São Caetano e meia ou da soma de uma São Caetano e uma Ribeirão Pires é um escândalo nada acidental. Faz parte do ritual da degringolada acompanhada e analisada por este jornalista há 30 anos. Desde a criação da revista LivreMercado.

Nesse período, mesmo sem considerar o crescimento demográfico, que tornaria o resultado por habitante ainda mais inquietante, apenas a pequenina Rio Grande da Serra não contabiliza perda real de participação relativa e absoluta no bolo de consumo nacional. São Bernardo, Capital Econômica da região, lidera a derrocada. Perdeu mais de 40% de participação no bolo nacional neste século. No ano passado foram 11,82% ante os resultados do ano passado. Só perdeu, nesses 12 meses, para Santo André e São Caetano.

Aliás, Santo André é um caso emblemático (além de São Caetano) de balela aqui denunciada. Quando se relaciona o crescimento do emprego de serviços como impulso ao crescimento econômico está-se cometendo um crime de lesa-região. Sem agregado de valor em forma de salários e tecnologia, os serviços no Grande ABC (e em Santo André e São Caetano em particular), não passam de quebra-galhos que enfraquecem o conjunto da obra de assalariamentos, rebaixando a média geral. Quantidade sem qualidade é igual a empobrecimento.   

Fazendo as contas

Para que o Grande ABC desta temporada não acusasse nova rodada de perda líquida do PIB de Consumo teria de repetir os números do ano passado acrescidos da inflação de 4,31% do IPCA. Os R$ 79.717.718 bilhões virariam, quando atualizados, R$ 83.153.551 bilhões como meta mínima a ser atingida. Mas o resultado real do conjunto de sete municípios para este ano é de R$ 75.349.106 bilhões. Uma queda real de 9,38%. Ou de R$ 7.804.451 bilhões. Mais que uma São Caetano e meia.

O Grande ABC conta com 956.277 famílias distribuídas nas classes rica, média-média, média-baixa e de pobres e miseráveis. Nas próximas edições vamos destrinchar algumas peculiaridades que acentuam o continuado viés de baixa expresso na queda de riqueza das famílias e que corrobora o enfraquecimento do PIB tradicional.

Esses e outros resultados de novas rodadas da medição e avaliação do chamado potencial de consumo do Grande ABC fazem parte da tradição de 30ANOS do melhor jornalismo regional do País. Desde 1990, quando foi lançada a revista LivreMercado, e seguindo a toada a cada temporada, exploramos ao máximo a riqueza estatística colocada à disposição pela Consultoria IPC, do pesquisador Marcos Pazzini, antes denominada Target. Os dados são um coquetel metabolizado pela Consultoria IPC com base em informações de diversas fontes oficiais. Não há no mercado brasileiro nada parecido.

Acúmulo de perdas

O desastre do PIB de Consumo do Grande ABC será mais uma vez virado de ponta cabeça nos próximos dias, na medida em que a pauta não seja atropelada pelo Coronavírus e a crise política e institucional no País.

O tamanho do prejuízo do Grande ABC na temporada passada, com reflexos nos dados projetados para este ano, não é nada surpreendente. Mais que isso: segue a lógica de que a economia está na raiz da qualidade de vida em forma de remunerações salariais e acumulo de riqueza em forma de poupança e investimentos.

O Grande ABC não estanca a crise econômica que independe de Coronavírus. De vez em quando, em respiros cíclicos cada vez mais breves, reage na esteira da indústria automotiva. Mas a festa dura pouco. Como o foi durante algumas temporadas no governo petista de incentivo ao consumo com o dinheiro farto da exportação de commodities.

Comportamento individual

Vejam o comportamento do PIB de Consumo dos municípios do Grande ABC no ano passado, nesta temporada e neste século:  

 Santo André contava no ano passado com R$ 22.467.351 bilhões de potencial de consumo, ante R$ 20.499.223 bilhões desta temporada. Queda real, descontando-se a inflação, de 12,53%. No acumulado do século a queda relativa no País é de 31,01% -- era 0,47941 e passou para 0,45072.

 São Bernardo contava no ano passado com R$ 24.956.247 bilhões de potencial de consumo, ante R$ 22.005.060 bilhões desta temporada. Queda real, descontando-se a inflação, de 11,82%. No acumulado do século a queda relativa no País é de 40,71% -- era 0,81613 e passou para 0,48383.

 São Caetano contava no ano passado com R$ 6.001.736 bilhões de potencial de consumo ante R$ 5.147.754 bilhões desta temporada. Queda real, descontando-se a inflação, de 17,72%. No acumulado do século a queda relativa no País é de 33,54% -- era 0,17030 e passou para 0,11318.

 Diadema contava no ano passado com R$ 9.998.965 bilhões ante R$ 11.400.162 bilhões desta temporada. Aumento real, descontando-se a inflação, de 9,30%. No acumulado do século a queda relativa foi quase imperceptível, de 0,003% -- era a0,25073% e passou para 0,25066%.

 Mauá contava no ano passado com 11.999.910 bilhões de potencial de consumo ante R$ 11.886.794 bilhões. Queda real, descontando-se a inflação do período, de 5,02%. No acumulado do século, queda relativa de 7,62% -- era 0,28294 e passou para 026136.

 Ribeirão Pires contava no ano passado com R$ 3.038.747 bilhões de consumo ante R$ 3.313.915 bilhões desta temporada. Aumento real de 4,74%. No acumulado do século, queda de 17,28% -- era 0,08808 e passou para 0,07286.

 Rio Grande da Serra contava no ano passado com R$ 1.254.759 bilhão de consumo ante R$ 1.096.195 bilhão desta temporada. Queda de 12,63%. No acumulado do século, crescimento de 6,26% -- era 0,02268 e passou para 0,02410.



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