O Best Shopping, em São Bernardo, fechou oficialmente as portas em 2001. Em seguida, virou escombros à espera de um projeto imobiliário suspeito quanto à identidade dos proprietários. A recessão econômica maior no Grande ABC do que em outros endereços mantém o imenso terreno de oito mil metros quadrados sem utilidade alguma no coração de São Bernardo. Três anos antes da derrocada fatal, a revista LivreMercado cantava a caçapa da morte anunciada, com base numa entrevista com um especialista na atividade. Entrevista publicada em edição anterior.
Acompanhe o texto publicado na edição de julho de 1998. Este é o quadragésimo-primeiro capítulo da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País (LivreMercado-CapitalSocial).
Naquela reportagem, mostraram-se as vísceras de um empreendimento fadado ao fechamento. Era inevitável. Cão com vários donos morre de fome.
Deu a lógica! E o
Best está à venda
DA REDAÇÃO - 05/07/1998
Aconteceu o previsto. O modelo de administração baseado em lojistas proprietários fez com que o Best Shopping de São Bernardo acabasse como vítima não só da situação econômica do País, mas principalmente dos próprios erros estruturais. Sem alternativa sustentável de sobrevivência, o Best está à venda por valor inicial de R$ 10 milhões, embora a diretoria não descarte a possibilidade de aluguel do espaço por R$120 mil mensais. Os diretores falam em quatro ou cinco empresas interessadas, mas a venda deve encontrar obstáculos. Tudo porque a decisão é individual, fato que já prejudicou a administração e pode atravancar a negociação.
Em entrevista à LivreMercado há seis meses, Henrique Falzoni, presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) e diretor da Emplanta Engenharia, empresa especializada também em administração de shoppings, entre os quais o Metrópole de São Bernardo, foi enfático: a venda de espaços para lojistas elimina a figura do administrador capaz de ordenar os interesses de todos e eventuais problemas de determinados empreendedores acabam por afetar o conjunto do shopping. Lojistas proprietários não têm tanta organização nem o mesmo interesse e poder de aglutinação dos não-proprietários, segundo Falzoni. "Os shoppings de donos no Brasil são minoria e vão mal das pernas porque, de repente, vendem todas as lojas e descobrem que têm 10 joalherias. Aí, todos vão mal. Ao contrário do que acontece quando há administração profissional. Lojistas proprietários agem como se fossem lojas de rua. Se dentro da minha área de fast-food há 15 lojas e uma vai mal, não está atendendo direito, minha primeira preocupação é ir até o proprietário e procurar saber o que está acontecendo. Ou a gente melhora ou a administração vai buscar alguém que assuma o ponto dele" -- disse o especialista seis meses atrás.
Sem alternativa
Segundo o diretor administrativo do Best, José Gonçalves Teté, há cinco empresas interessadas no espaço do shopping. Teté não revela nomes, mas assume a opção única de negociação e credita a situação delicada às mesmas verdades de Henrique Falzoni. "Tentamos investir e mudar várias vezes. Sempre encontramos resistência na hora de cada lojista entrar com sua parte. O ideal sempre foi passar o comando para uma administradora profissional. Algumas pessoas não gostaram quando afirmei que não havia alternativa e o Best deveria ser negociado. A verdade é esta mesmo" -- justifica Teté, um dos maiores proprietários de lojas do empreendimento.
Hoje o Best tem dívidas de aproximadamente R$ 500 mil com encargos trabalhistas e fornecedores. A administração tem perto de R$ 2 milhões a receber, principalmente de taxas condominiais em atraso. "Precisaríamos de pelo menos R$ 3 milhões para reorganizar o shopping e voltar a crescer com novo tipo de administração, mas não há como obter verba. A maioria dos lojistas quer mesmo é o dinheiro na mão. Eles estão desmotivados, há pouco mais de 40 lojas abertas e não há como reverter a situação" -- afirma Teté.
Se não há como reverter, existe ao menos o que comentar sobre o futuro do Best. Há quem diga que está sendo vendido para a Igreja Pentecostal Deus é Amor -- Teté desmente --, que vai se tornar shopping cultural, com escolas, cursos específicos de informática e livrarias, ou mesmo uma espécie de Lar Center, especializado em móveis. O Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também teria mostrado disposição de compra, mas os diretores e o gerente administrativo do shopping, Zenílson Gurgel, não confirmam. "Fizemos todas as tentativas para reerguer o Best. Nenhuma surtiu efeito e a direção optou pela venda. Fixamos o valor inicial em R$ 10 milhões e creio que não haverá problemas com os proprietários, pois 95% concordam. Com os outros 5% haverá necessidade de mais conversa" -- diz Zenílson Gurgel.
Sobre possíveis interessados na compra, o gerente administrativo diz ter ouvido citações: "O Previ, o Grupo Casas Bahia, uma rede de material de construção e o Colégio Singular ou Objetivo já foram mencionados, mas há muita especulação imobiliária" -- afirma. Ele antecipa que as negociações estão a cargo dos diretores e não devem ser fáceis. Cada um dos 227 módulos de 25 metros quadrados teria o valor básico de R$ 35 mil, segundo Zenílson Gurgel.
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