Guardem bem esse nome: Gabriel Maranhão. Vou repetir: Gabriel Maranhão. Ele é o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos. Isso quer dizer que ele é o mandachuva dos mandachuvas das prefeituras. Prefeito de Rio Grande da Serra, que representa 0,2% do PIB Regional, Gabriel Maranhão parece ter complexo de inferioridade, traduzido por este jornalista em forma do livro “Complexo de Gata Borralheira”, lançado em 2002.
A proposta que Gabriel Maranhão vai apresentar na semana que vem aos demais titulares dos paços municipais é um despropósito, quando não uma ofensa à inteligência regional. Entretanto, como a inteligência regional está adormecida, quando não anestesiada, quando acovardada, quando não no piloto automático, Gabriel Maranhão corre o risco de ver aprovada a bobagem anunciada.
Paulinho Serra, de Santo André, e José Auricchio Júnior, de São Caetano, já toparam. Orlando Morando, de São Bernardo, que não é bobo nem nada, já caiu fora. Não vou dizer que Gabriel Maranhão precisa de uma camisa de força. Ele requer isolamento institucional. O Clube dos Prefeitos não é o lugar adequado a quem entra em desvario. Pode ser o repositório ideal de quem quer levar a vida regional na flauta, isto sim.
Isolamento é solução
Deu o Diário do Grande ABC em manchetíssima (a manchete das manchetes da primeira página) que Maranhão pretende seguir o novo e radical esquema de rodízio anunciado para a Capital pelo prefeito Bruno Covas, extensão tucana do governador João Doria em tudo que se refere ao combate (e ao marketing) do Coronavírus.
Gabriel Maranhão ameaçou colocar a proposta em debate na assembleia desta segunda-feira do Clube dos Prefeitos. Os prefeitos de Santo André e de São Caetano têm tempo para se recomporem. Até segunda-feira eles devem cair na real de que aprovaram de pronto algo que deveria ser encaminhado à lata do lixo.
Sugiro com preocupação que a assembleia geral deveria colocar em votação uma medida para isolar o prefeito dos prefeitos. E só permitir que Gabriel Maranhão só fale em nome da instituição após os encontros do colegiado. Ou, melhor ainda, que não abra a boca.
Risco de aprovação
Supõe-se que Gabriel Maranhão não contaminará os demais prefeitos com o vírus da estupidez. E que melhore o nível dos assessores técnicos (técnicos?) do Clube dos Prefeitos. Ou os demita, porque permitir que ele, Maranhão, seja ridicularizado, é demais.
Só há algo pior que a proposta do prefeito dos prefeitos: é a insensibilidade de quem consumiu a informação sem lastro digestivo, de ruminação crítica. Sociedade servil faz isso. Os bons, e temos muitos, estão isolados. São ilhas de indignação. Poucos botam a cara a tapa.
Mesmo irritado, atrapalhado e fora do horário costumeiro com que me lanço a escrever, vou expor alguns pontos que fazem com que a proposta de Gabriel Maranhão seja excomungada. Chamem o bispo!
Só o simples fato de anunciar que vai oferecer esse cardápio indigesto aos demais pares do Clube dos Prefeitos significa um risco enorme, porque quer dizer que o nível de qualificação para comandar uma instituição regional está ao rés do chão.
Caos econômico presente
O radicalismo de rodízio de veículos em São Paulo anunciado por Bruno Covas já é tema para oposição técnica possivelmente destruidora de supostas vantagens, compactadas no conceito de isolamento social para combater o vírus assassino.
Os dias pares e os dias impares demarcarão o uso veicular na Capital. Quem usava veículo em seis dos sete dias da semana no sistema adotado há muitos anos, passará, a partir de segunda-feira, a usar a usar dia sim e dia não. Tudo para dissuadir a mobilidade urbana. Como se o caos econômico não fosse suficiente. Como já o é.
É essa tabelinha infernal de par e impar que Gabriel Maranhão quer transplantar para o Grande ABC. Fosse menos tutelado intelectualmente pelo tucanato de alta plumagem, seria mais cauteloso e, no extremo do extremo da bobagem, adotaria o sistema que ainda impera na Capital. Ou seja: uma vez a cada sete dias o motorista de veículos de passeio não poderia trafegar pelas ruas do Grande ABC.
Nem sistema atual
Quando desloco o assunto que é técnico para a menção político-partidária não o faço senão no sentido de que não este jornalista, mas o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, toma decisões baseadas em agradar os tucanos João Doria e Bruno Covas. É o Complexo de Gata Borralheira com que defini o comportamento do Grande ABC frente à Capital.
Portanto, trocar o rodizio paulistano convencional que considero desnecessário no Grande ABC pelo novo que virá, de rodízio radical, é um acinte.
A fundamentação dessa conclusão (sei que o assunto é complexo a ponto de lançar mão de muitas variáveis) é que a Capital é a Capital e o Grande ABC é a Província.
Efeito-dominó regional
Os efeitos da ação extremista e mais uma vez experimental (as demais fracassaram por inabilidade de execução) de Bruno Covas vão ser compulsoriamente transferidos às ruas da região. Por volta de 30% da população economicamente ativa da região desloca-se diariamente à Capital. Muitos, claro, a bordo de seus veículos. O efeito-dominó se estabelecerá.
Ou seja: a região reduzirá largamente o deslocamento rumo à Capital. O fluxo interno de veículos será automaticamente reduzido. Ou alguém supõe que para chegar às ruas da Capital os veículos do Grande ABC não passam pelas ruas do Grande ABC?
Se os leitores ainda não estão convencidos de que se pretende aplicar uma barbaridade de medida no Grande ABC, e sempre lembrando que há muito mais a ponderar, embora desnecessariamente, eis que aponto dois vetores letais: a frota de veículos de passeio e a dimensão econômica e cultural da Capital frente o Grande ABC.
Segundo os últimos números a que tive acesso, a frota de veículos de passeio em São Paulo é de 6,3 milhões, ante 1,2 milhão dos sete municípios da região. Ou seja: há um veículo em potencial circulação no Grande ABC para cada 5,25 na Capital. Basta essa comparação para tornar inócuo o assanhamento do prefeito de Rio Grande da Serra travestido legalmente de prefeito dos prefeitos do Grande ABC.
Muito mais que 5,5 vezes
Não vamos enveredar aqui por caminhos mais complexos, como malha viária e outras coisas mais. O lance seguinte desse xeque-mate em Gabriel Maranhão é que a dinâmica econômica da Capital é muita, mas muitas vezes superior ao que temos no Grande ABC.
O fluxo da economia da Capital, que atrai milhares de agentes de todos os cantos do País, é infinitamente maior que um Grande ABC mais de êxodo do que de atração de agentes econômicos diários.
Esses equipamentos tecnológicos que estão a fazer furor na praça ao desvendar o destino individual dos usuários de aparelhos de celular provavelmente poderiam escarafunchar o grau de mobilidade urbana da Capital e compará-los com o do Grande ABC. Os 5,5 veículos de passeio na frota originária da Capital seriam ainda multiplicadamente maiores que os detectados no Grande ABC.
O que quero dizer com isso é que a repetição de Gabriel Maranhão de forma entusiástica à radicalização de Bruno Covas deve ser relativizada como algo próprio de quem sofre os efeitos de viver num Município minúsculo e também o deslumbramento de assumir um cargo de interesse regional.
Mas, cá entre nós: os macacos velhos que chefiam duas das mais importantes cidades da região jamais poderiam apoiar iniciativa tão insensata. Ainda bem que até segunda-feira eles podem reconsiderar o tropeço. Avalizar um prefeito dos prefeitos deslumbrado faria jus ao histórico de inutilidade do Clube dos Prefeitos, mas custaria muito à imagem individual de Serra e Auricchio.
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