Imprensa

Entenda por que o Datafolha
é uma usina de fake news (1)

DANIEL LIMA - 01/06/2020

O Datafolha é muito mais que um instituto de pesquisa. É uma ferramenta político-estatística a serviço de uma empreitada controversa nestes tempos: contribuir para a derrubada do governo de Jair Bolsonaro. Vamos mostrar isso numa breve série de textos. O primeiro capitulo é este.

O Datafolha integra a rede da Grande Mídia liderada pelo conglomerado Globo com participação também da Folha de S. Paulo, Estadão e veículos agregados no campo digital.

O Datafolha é uma usina de fake news que alimenta a fornalha de convencimento da Grande Mídia.

Vou dividir em alguns capítulos as explicações que fazem do Datafolha peça fundamental no jogo de interesses que vão além, muito além, do que se convencionou chamar de democracia. Quem desdenha do poderio de plantio e colheita do Datafolha subestima uma ordem unida que tem como pressuposto enquadrar a opinião pública ou parte da opinião pública numa determinada direção sustentada pela Grande Mídia.

Redes sociais atrapalham

As redes sociais vieram para atrapalhar esse jogo de cartas marcadas. Por isso são tão odiadas pela Grande Mídia. É verdade que as redes sociais comportam porção de milicianos à direita e à esquerda. Mas são os milicianos à direita os mais combatidos, porque mais numerosos.

Aos incautos sugere-se que a guerra de guerrilhas das fake news é um jogo de um time apenas. E que também as redes sociais inauguram o placar de manipulação informativa. Como se o jornalismo tradicional fosse um mar de honestidade intelectual.

Sabe-se que não. E uma prova provada e emblemática destes tempos sombrios é que a tropa de choque de torcedores organizados que se deslocaram à Avenida Paulista é tratada como defensora da democracia. Não duvide que o Datafolha produza sondagem que encaminhe a essa conclusão mistificada e adulterada do significado de democracia.

Fonte de manipulação

O Datafolha é uma fonte inesgotável de manipulação de dados e interpretações nas fases operacionais e também nas etapas seguintes à coleta de dados. Já o fora durante a campanha eleitoral de 2018. Mas agora seus poderes são mais abrangentes e densos. Está mais associado a uma conjugação de esforços para a retomada do poder da oposição derrotada em 2018.

Há duas maneiras de observar o que se segue. Fica a critério dos leitores. Um bloco provavelmente vai vincular o texto à partidarização e a ideologização nestes tempos de extremismos. Outro bloco verá apenas jornalismo, nada mais que jornalismo.

Não estou preocupado com o tamanho de uma banda ou de outra. O Datafolha é um freguês relativamente assíduo nestas páginas. São 78 textos que tratam do instituto, de forma direta ou indireta. Na campanha presidencial do ano passado cansei de denunciar distorções encobertas pela chancela da ciência. Nunca esteve tão em voga como nestes dias de pandemia avocar a ciência para tudo. Como se os cientistas não fossem, também, um bando de loucos por teses próprias. Basta ver quanto controvérsia existe, por exemplo, no uso de medicamentos, de vegetais e de tantos outras matérias-primas da discórdia.

Desta vez será diferente das anteriores. Vou fundamentar a ação do Datafolha de maneira mais aprofundada e abrangente. Por isso dividirei essa inspeção crítica em alguns capítulos. A primeira, hoje, será um voo panorâmico.

Sete pecados capitais

Vou mostrar os pontos sobre os quais se movem os tentáculos de poder do Instituto ligado à Folha de S. Paulo. Quem cometer o equívoco de separar Datafolha de Folha de S. Paulo perderá oportunidade de ouro de decifrar mecanismos que os colocam na mesma diagramação estratégica. São irmãos siameses nas conjecturas e decisões específicas de minar o terreno do governo federal.

Não espere que alguém do reino predominante da mídia comprometida com a caça a Jair Bolsonaro faça qualquer tipo de análise crítica ao Datafolha e à Folha de S. Paulo na arquitetura de hostilidades que, com arte, expressam com ares de humanismo, civilidade e comprometimento com a democracia. Será perda de tempo. A Grande Mídia se protege e também se articula mutuamente. Há um pacto em torno da derrubada do presidente. E isso comporta todo tipo de deslizes éticos, inclusive o deslize ético maior de se autoproclamarem defensores da democracia.

São sete os vetores principais da parceria entre o Datafolha e a Folha de S. Paulo, com ressonância automática nos demais veículos de comunicação da Grande Mídia. Vejam os mecanismos estruturantes do Instituto Datafolha em nome da ciência estatística que não resiste a uma abordagem mais meticulosa. 

 Baixa transparência metodológica.

 Contextualização fragmentada.

 Margem de erro inconsistente.

 Neutralidade obscura.

 Especificidades regionais parciais.

 Editorialização seletiva.

 Enunciados enviesados.

 Dados agregados distintos. 

Premissas e exemplos 

Esse conjunto de quesitos refere-se em larga escala a atuação do Datafolha nos últimos tempos, mas é sobre os resultados da pesquisa anunciada em três dias diferentes da semana passada nas páginas da Folha de S. Paulo e nas emissoras de televisão da Grande Mídia que pretendo destrinchar ponto por ponto.

Primeiro o faço do ponto de vista conceitual. Nas próximas edições trato de exemplificações que servirão como xeque-mate. Ou seja: vou associar o conceitual ao prático para que os leitores possam compreender mais didaticamente a situação. Na sequência, uma brevíssima avaliação de cada um dos quesitos.

 Baixa Transparência Metodológica

O Datafolha oferece dificuldade enorme ao destacamento de informações que viram estatísticas. Questionários aplicados não têm a transparência recomendável de acessibilidade ao público. Quem acha que isso é pouco importante não tem a ideia do quanto uma pergunta feita na abertura do questionário e outra pergunta deixada para mais adiante fazem a diferença. Para contaminar uma pesquisa de cabo a rabo basta manipular a ordem cronológica das questões apresentadas aos entrevistados. Uma coisa leva à outra. Ou seja: é fácil induzir o encaminhamento de respostas conforme a rota das questões enunciadas.

 Contextualização fragmentada

Quando se pretende estabelecer comparações entre dois ou mais objetivos e se promove um corte no arrazoado que é fonte de informações e de resultados, o desenlace só poderá mesmo se traduzir em distorção explícita. A maneira mais nebulosamente ética de promover esse tipo de delito é utilizar dois pesos e duas medidas. O que vale para um não vale para o outro. A distância entre excesso de enunciados de um lado a escassez de enunciados do outro cria falsa igualdade pouco perceptível a olhos e mentes menos treinados. O que se esmiúça de um lado se omite de outro. O resultado final só pode mesmo comprometer a análise mais apurada e independente.

 Margem de erro insustentável

Quando a margem de erro vira arma defensiva no sentido de preservar os efeitos de perspectivas fraudadas, cria-se a falsa narrativa de margem de acerto. Quanto mais elástica a margem de erro, mais inquietantes os resultados se tornam. Afinal, podem dar lastro a maquinações que provavelmente não caberiam num invólucro com o lacre de seriedade. Não bastasse a margem de erro convencional, que é uma banda estreita a desafiar o potencial de manipulação dos dados, também existe a margem de erro secundária, que é tomar o todo pela parte. O que invariavelmente é uma margem de erro de três pontos percentuais (significa até nove pontos percentuais de diferença, vejam só quanta elasticidade!) pode alcançar intervalo muito maior quando subprodutos de enunciados principais são utilizados como se não houvesse barreira matemática a opor-se à generalização. Margem de erro convencional e margem de manobra dos resultados têm o mesmo significado. Já margem de erro posterior ou estendida é ação desclassificatória dos resultados apresentados. Um puxadinho que não suporta contraditório.

 Neutralidade obscura

Entre duas respostas assertivas em campos antagônicos a existência de um meio-termo em forma de “regular” é espaço que abre a porteira ao frango da especulação. A aprovação e a reprovação a um governo são posições definidas dos entrevistados, mas o campo “regular”, sem qualificação, é deficiência que os institutos de pesquisa em geral mantêm provavelmente porque se sentem mais seguros em trabalhar os resultados futuros, evitando, portanto, supetões que despertariam desconfiança. Tudo estaria resolvido ou minimizado à compreensão das respostas definidas se o conceito de “regular” se desdobrasse para regular-positivo, regular-regular e regular-negativo. De qualquer maneira, e agora como especulação, alguns resultados entrecruzados e, portanto, desgarrados do conceito monolítico de “regular” das pesquisas, podem fornecer indícios do volume de desdobramentos dessa avaliação.

 Especificidades regionais parciais

Essa é uma outra categoria de inconformidade do Instituto Datafolha, cuja capacidade de desinformação é extrair o máximo de dados do governo Jair Bolsonaro e poupar governadores de Estados durante a pandemia do vírus chinês. A parcialidade avoca uma montanha de desinformação ao criar obstáculo a avaliação completa dos resultados de políticas públicas no Estado brasileiro. E tem agravante que recrudesce o equívoco metodológico: os resultados apresentados não são individualizados por governador, mas compactados no bloco de comandantes estaduais. O que, em suma, gera distorções complementares.

 Questionamentos enviesados

A neutralidade de um questionado é o requisito básico a respostas sem influência externa dos entrevistados. Quando o enunciado introduz algum tipo de viés, por menos supostamente perceptível, tem-se uma mancha deformadora do resultado individual e coletivo. Uma pesquisa estará completamente invalidada como base a estudos quando se confere ao formulador do questionário o poder discricionário de arbitrar condicionamentos às respostas. Basta um pequeno deslize semântico para que tudo vá por água abaixo. Quando existe, por outro lado, a ação deliberada de furar o bloqueio do equilíbrio, então nada que decorra das respostas terá valor.

 Editorialização seletiva

A modulação dos resultados de uma pesquisa é o ponto de chegada que configurará o compromisso com os dados registrados. Quando se pretende chegar a uma determinada configuração dos trabalhos de campo e não se alcança o pretendido, entra em campo a substituição de valores a ocupar a linha de frente de informações jornalísticas. Sim, informações jornalísticas, porque é isso que ampara as pesquisas que tomam o pulso do governo federal junto à sociedade nestes tempos de crise econômica, sanitária e política. Um determinado objetivo que parecia generosamente escancarado a se transformar em grande notícia da próxima edição nem sempre sai da maquinaria popular entrevistada, mesmo que para tanto muito se fizesse ao encaminhamento das respostas ao roteiro pré-estabelecido. Constatada a impossibilidade, a ordem é dar uma guinada e buscar algum outro ponto dos resultados a explorar de forma mais espetaculosa.



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