Ouvimos na edição de dezembro de 1998 da revista LivreMercado mais de uma centena de leitores da publicação. Leitores especiais, porque tomadores de decisões e formadores de opinião. Formulamos quatro questões de interesse regional. Cada uma com cenários semelhantes: verde para o otimismo, amarelo para os preocupados e vermelho para os desiludidos. Os resultados estão no texto que se segue, o quinquagésimo-oitavo da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, junção de LivreMercado e de CapitalSocial, publicações sob a mesma direção editorial. Leiam:
Leitores sinalizam
amarelo de atenção
DANIEL LIMA - 05/12/1998
O Grande ABC está em estado de atenção, com tendência de chegar a situação de perigo, sobre quatro temas dos mais importantes que preocupam a comunidade. A conclusão é baseada em nova pesquisa de LivreMercado, desta vez com um grupo de leitores vip. A constituição da Agência de Desenvolvimento Econômico, a integração regional e os custos trabalhistas do Grande ABC receberam avaliação cautelosa da maior parte dos pesquisados. Já os resultados eleitorais de outubro foram um desastre para a região. Traduzindo a conclusão do trabalho para linguagem de trânsito: os leitores optaram majoritariamente pelo amarelo de atenção, mas também tiveram queda preferencial pelo vermelho de perigo. A escolha do verde de satisfação dominou pequena parte dos leitores.
Cada uma das quatro perguntas da pesquisa desmembrava-se em três respostas alternativas, com cenários diferentes. As alternativas A formam o sinal verde de um semáforo de tranquilidade dos leitores. As alternativas B são o sinal amarelo e as alternativas C o vermelho. Um total de 103 leitores, dos 200 aos quais foi encaminhada a pesquisa, remeteu as respostas por meio de fax. O resultado preferido às quatro questões foi o seguinte:
Sobre a constituição da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, prevaleceu para 71,5% a opção amarela: "Trata-se de mecanismo institucional importante, de que há muito tempo estamos necessitados, mas por si só não vai resolver nossos problemas. Imaginar que a ADE vai superar todas as nossas dificuldades é acreditar em Papai Noel".
Sobre os resultados eleitorais em outubro, a escolha da maioria dos leitores (47,3%) recaiu sobre a alternativa de perigo, a C: "Não dá para disfarçar: perdemos feio para outras regiões. Temos deputados eleitos que nada significam em termos regionais, porque tiveram a maioria dos votos fora daqui. Ainda estamos muito distantes da representação desejada".
Sobre a integração regional, de novo deu a alternativa B, de atenção. Um total de 43,3% optou pela seguinte avaliação: "Nossa integração regional ainda precisa de reparos, porque não se admitem as constantes ausências dos prefeitos Luiz Tortorello e Gilson Menezes. Sem contar que o empresariado do setor automotivo também está afastado das decisões. Temos muito que avançar ainda".
Sobre os custos trabalhistas no Grande ABC, de novo a alternativa B de atenção dominou as respostas, com 58,3% de incidência. Trata-se da resposta: "Os sindicatos precisam perceber que está na hora de rever suas chamadas conquistas trabalhistas, que encarecem os preços dos produtos feitos na região e provocam o inchaço da exclusão social, por conta de demissões contínuas dos trabalhadores. É preciso perder os anéis para salvar os dedos".
Amarelo prevalece
Se for considerada a soma dos posicionamentos escolhidos pelos leitores, independente do resultado final da pesquisa, o que se tem é o prevalecimento do amarelo de atenção, já que 53% das respostas fixaram-se na alternativa B. A tendência de inquietação, expressa nas alternativas identificadas pela letra C, totalizou 29,2% das respostas. Já o A de confiança, de sinal verde, dominou apenas 17,7% dos leitores.
O índice de 50% de respostas dos questionários enviados está muito acima da média internacional desse tipo de trabalho, mas a direção de LivreMercado está insatisfeita. Numa próxima consulta, pretende atingir pelo menos 70% de devolução preenchida do questionário. Participaram da pesquisa representantes dos mais diversos setores com atuação na região. Além de empresários e executivos da livre-iniciativa, também responderam ao questionário secretários municipais, professores, dentistas, contabilistas, educadores, vereadores, publicitários, lideranças empresariais e consultores econômicos, entre outros.
Uma pequena parte dos leitores consultados optou pela prerrogativa de não tornar públicas suas respostas. Isto quer dizer que as opções que fizeram acabaram contabilizadas, mas não são identificadas.
Apenas 10 dos 103 leitores que responderam à pesquisa escolheram um conjunto de alternativas que acabaram confirmadas pela média de preferência. Os demais leitores escolheram alternativas diversas, numa sopa de letras que representou outras 36 variáveis. Constam da lista dos leitores cujas respostas estão absolutamente sintonizadas com o conjunto das respostas dos demais pesquisados o consultor de LM e diretor da Prefeitura de Santo André, Cláudio Rubens Pereira; o membro do Conselho Superior da Associação Comercial e Industrial de Diadema, Filipe dos Anjos Marques; a empresária Jane Calvitti; o professor universitário João Bosco dos Santos; o empreendedor imobiliário Juares de Marcos Jardim; o comerciante de shopping Lourival Vitor Cardoso; o empresário do setor de concessionárias de veículos Mário Cordeiro de Menezes Filho; o empresário do setor imobiliário Milton Bigucci; o publicitário Paulo César Ferrari e o empresário do setor de saúde Sebastião Marques Zanforlin. A lista se completa com um dos leitores que preferiu não ter respostas divulgadas.
A flexibilização das respostas que registrou 36 combinações diferentes apresentou alguns blocos de semelhantes. Um grupo de sete leitores optou por todas as alternativas B das quatro questões, casos de Antônio Carlos Cattai, Antonio José Vital, Jaime Koiffman, Luiz Antônio Lépori, Pedro Silvério de Oliveira e Vera Lúcia de Gusmão, além de um dos leitores que solicitou a não divulgação do nome. Se o grupo de inflexíveis moderados tem sete leitores, o de essencialmente otimistas, que se configuraria com a escolha de todas as alternativas contidas nas respostas com a letra A, não conseguiu formar um só soldado. Já o empreendedor imobiliário Daniel Montanhini formou o bloco do eu sozinho que radicalizou nos sinais de alerta, optando por todas as respostas expressas pela letra C.
Apenas nove entre todos os pesquisados perfilaram ao lado do sindicalismo regional e optaram pela alternativa A da pergunta número 4, relativa aos custos trabalhistas. Há um traço em comum entre quase todos eles. O vereador Antônio Leite, os secretários municipais de Santo André, Irineu Bagnariolli Júnior, Klinger Luiz de Oliveira e Miriam Belchior; o diretor da Craisa, José Lourenço Pechtoll; o secretário municipal de Ribeirão Pires, Jorge Hereda; e o executivo da Prefeitura de São Bernardo, Luiz Carlos Berbel, são ligados historicamente ao Partido dos Trabalhadores. A exceção da lista é o advogado trabalhista de São Bernardo, Fernando Guimarães de Souza. Além deles, um dos leitores que não autorizaram a revelação de suas respostas também se posicionou contra o corte das chamadas conquistas trabalhistas.
Conselho Consultivo
O Conselho Consultivo de LivreMercado, cuja atuação não se esgota no suporte técnico-operacional do Prêmio Desempenho Empresarial, integrou o grupo de leitores que respondeu ao questionário. Dos 18 membros, apenas Sílvio Minciotti não pôde participar do trabalho. Dos demais, só Eduardo Giorgi, executivo do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa) solicitou a manutenção de sigilo sobre as respostas que enviou por meio de fax. Comparativamente ao conjunto de leitores, a posição do Conselho Consultivo foi semelhante. Somente na questão relativa à integração regional opôs-se ao resultado, já que prevaleceu a alternativa A. Nas outras três indagações, os conselheiros caminharam em sintonia com os demais leitores.
Entretanto, os percentuais entre os dois blocos apresentaram profundas diferenças. Na pergunta relativa à Agência de Desenvolvimento Econômico, 88% das respostas foram direcionadas à alternativa B, contra 71,5% do conjunto de leitores. Na pergunta sobre o processo eleitoral, disparou a posição do Conselho Consultivo sobre as perdas regionais (82,3%), enquanto o conjunto de leitores foi menos enfático (47,3%). Já quanto à integração regional, a pergunta de número três, uma surpresa: o Conselho optou preferencialmente (41,1%) pela resposta A, enquanto o conjunto de leitores preferiu a B (43,3%). Na última questão, sobre os custos trabalhistas, o Conselho Consultivo foi fragorosamente contrário à situação atual, já que 64,7% se posicionaram pela alternativa B e o restante (35,2%) pela C.
1º) A constituição da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC tem o seguinte significado:
a) É o instrumento de marketing de que precisamos para superar velho déficit institucional. Com esse instrumento, teremos condições de sobra para recuperar a imagem regional e atrair muitos investimentos. 21%
b) Trata-se de mecanismo institucional importante, de que há muito tempo estamos necessitados, mas por si só não vai resolver nossos problemas. Imaginar que a ADE vai superar todas as nossas dificuldades é acreditar em Papai Noel. 71,5%
c) Não acredito nos poderes milagrosos da ADE. Temos problemas demais para resolver puramente com marketing. Vender o Grande ABC é tarefa dificílima, porque a imagem que temos é de rebeldia, de anticapital. Nada é pior para os empreendedores. 7,5%
2º) Os resultados eleitorais em outubro mostraram o seguinte quadro do Grande ABC:
a) Mostramos nossa força político-eleitoral elegendo nove deputados e isso é o que importa. Estamos cada vez mais fortes, com a propagação dos ideais do voto regional. 13,6%
b) Perdemos 40% de representação nominal, mas ganhamos em qualidade. Temos melhores deputados estaduais e federais, no conjunto, que antes. Mas precisamos de novas campanhas para melhorar nosso índice de representação. 39%
c) Não dá para disfarçar: perdemos feio para outras regiões. Temos deputados eleitos que nada significam em termos regionais, porque tiveram a maioria dos votos fora daqui. Ainda estamos muito distantes da representação desejada. 47,4%
3º) Sobre a integração regional:
a) Estamos mostrando para o Brasil inteiro, com a Câmara Regional e com o Consórcio Intermunicipal, além do Fórum da Cidadania, que somos mesmo líderes em construir novas configurações político-administrativas. Unir instituições políticas, empresários, sociedade civil e sindicatos é algo que só o Grande ABC é capaz. 26,8%
b) Nossa integração regional ainda precisa de reparos, porque não se admitem as constantes ausências dos prefeitos Luiz Tortorello e Gilson Menezes. Sem contar que o empresariado do setor automotivo também está afastado das decisões. Temos muito que avançar ainda. 43,3%
c) Essa história de integração regional é um belo marketing, mas não está funcionando. Temos prefeitos que não aparecem nas reuniões, temos muitos secretários de Estado que não dão a mínima para a região, temos setores industriais que nem querem saber de nossos problemas e sindicatos que só enxergam o próprio umbigo. 29,8%
4º) Sobre os custos trabalhistas no Grande ABC:
a) Os sindicatos estão certos mesmo ao brigar pela manutenção das conquistas trabalhistas alcançadas durante 20 anos. Salários elevados significam poder de consumo, e quando perdemos isso seremos uma região qualquer, congestionada de problemas sociais. 9,3%
b) Os sindicados precisam perceber que está na hora de rever suas chamadas conquistas trabalhistas, que encarecem os preços dos produtos feitos na região e provocam o inchaço da exclusão social, por conta de demissões contínuas dos trabalhadores. É preciso perder os anéis para salvar os dedos. 58,3%
c) Os sindicatos continuam fazendo um jogo ideológico em que o combate ao capital é disfarçado na forma de manutenção de privilégios trabalhistas que não cabem mais no figurino da abertura econômica e da alta competitividade. Só com o fim das conquistas em tempos de mercado fechado poderemos atrair mais investimentos na região. 32,3%
Veja quem respondeu:
Adriano Calhau (b, b, b ,c); Agnaldo Arsuffi (b, c, a, b); Alberto Simões Gaspar (b, b, c, b); Aleksandar Jovanovic (a, a, a, b); Ana Maria Bicalho (b, c, a, c); Angela Athayde (b, c, c, b); Angela Tasca (a, b, c, c); Angelo Gaiarsa Neto (nd); Antonio Bueno da Silva (b ,b, c, c); Antonio Carlos Cattai (b, b, b, b); Antonio Joaquim Andrietta (b, c, a, b); Antonio José Monte (nd); Antonio José Vital (b, b, b, b); Antonio Leite (a, b, b, a); Armando Laganá (a, b, a, b); Ary Silveira Bueno (nd); Carlinhos Lira (a, b, a, b); Carlos Alberto Yamamoto (nd); Carlos Cavalheiro (c, c, b, b); Claudio Lopes (b, b, c, b); Cláudio Rubens Pereira (b, c, b, b); Daniel Montanhini (c, c, c, c); Dionísio Pavan (b, a, b, b); Dorival Pereira de Souza (b, c, b, c); Edison Parra (b, c, c, b); Edson Eden dos Santos (nd); Edson Lopes dos Santos (b, b, c, c); Eduardo Aparecido de Almeida (nd); Eduardo Giorfi (nd); Eugenício Severino da Silva (a, b, b, c); Felix Savério Majorana (b, a, c, c); Fernando Guimarães de Souza (b, c, c, a); Fernando Silveira de Paula (a, b, b, b); Fernando Tadeu Perez (nd); Filipe dos Anjos Marques (b, c, b, b); Giorgio Guardalben (nd); Humberto Batella (b, c, a, c); Irineu Bagnariolli Júnior (b, a, a, a); Jacob Leibovicius (nd); Jaime Koiffman (b, b, b, b); Jane Calvitti (b, c, b, b); Jerson Ouríves (b, c, a, b); João Bosco dos Santos (b, c, b, b); João Chimelo (nd); João Sidney de Almeida (b, c, c, c); Jorge Hereda (b, a, a, a); José Carlos Louzada (nd); José Lourenço Pechtoll (b, c, b, a); José Luiz Heierling (b, a, b, c); José Miguel Fagundes (a, a, b, b); José Osmar Cardoso (b, c, a, c); José Paulo dos Santos Ferreira (a, c, c, c); José Villar (b, a, a, b); Juares de Marcos Jardim (b, c, b, b); Jurailton Calixto da Silva (nd); Klinger Luiz de Oliveira (a, b, a, a); Lauro Gilmar Teixeira (b, b, b, b); Leonel Tinoco (b, c, a, b); Lourival Vitor Cardoso (b, c, b, b); Luadir Lino Grechi (nd); Luiz Antonio Cotrim de Barros (b, c, c, b); Luiz Antonio Lepori (b, b, b, b); Luiz Carlos Berbel (b, b, b, a); Luiz Carlos de Campos (b, b, c, b); Luiz Celso Colombo (b, c, a, c); Luiz Moan (nd); Manoel Martins (nd); Marco Arlindo De Bellis (b, c, c, c); Maria de Lourdes Zampol (b, b, c, b); Maria do Carmo Romeiro (b, c, a, b); Maria do Rosário de Lima (b, c, a, b); Maria Miriam de Lima Ferrari (nd); Mario Cordeiro de Menezes Junior (b, c, b, b); Milton Bigucci (b, c, b, b); Miriam Belchior (a, b, a, a); Nádia Somekh (a, a, a, na); Nelson Pinheiro da Cruz (nd); Nestor Pereira (b, b, a, b); Nívio Roque (a, a, b, b); Octávio Leite Vallejo (c, c, a, c); Paolo Gambogi (nd); Patrick Pavan (b, b, c, c); Paulo Cesar Ferrari (b, c, b, b); Paulo Hoffman (b, c, a, b); Pedro Cesar da Silva (b, c, b, c); Pedro Silvério de Oliveira (b, b, b, b); Reinaldo Malandrin (nd); Renê Naves (b, b, c, b); Roberto Folgueral Rodriques (b, c, c, b); Roberto Herrera (c, c, b, c); Romulado Magro Júnior (a, b, b, b); Sebastião Marques Zanforlin (b, c, b, b); Sebastião Simões (nd); Sérgio Luiz Munhoz (a, b, b, b); Silvio Tadeu Pina (b, a, a, b); Terezinha Pasqualini Miquilin (b, c, c, c); Vair Antonio Viveiros (c, c, c, b); Valdison Moreira (a, a, a, c); Valter Moura (nd); Vera Lucia de Gusmão (b, b, b, b); William Pesinato (nd); Wilson Afonso Rosa (b, c, c, c); Wilson Roberto Bonfim (a, b, a, b).
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