O Instituto Datafolha saiu a campo nas três últimas pesquisas em que decidiu medir o tamanho da institucionalidade da presidência da República usando como ponto-chave duas perspectivas elaboradas para desgastar o governo federal: a renúncia ou o impeachment. Tudo milimetricamente calibrado para chegar a um desenlace que favoreceria o cronograma de avanço consolidado de manifestações.
Quem tem alguma dúvida sobre essa programação insiste em desconsiderar o ambiente de oposição destilado a cada dia pela chamada Grande Mídia. Trata-se de uma força-tarefa bem azeitada que parece não sossegar enquanto não trocar o chefe do Executivo nacional. Uma caçada jamais vista na história da democracia brasileira.
Folha de S. Paulo, Organizações Globo, Estadão e filhotes digitais e eletrônicos marcham lado a lado. Quem acompanha o jornalismo profissional sabe disso. Há pactuação com o objetivo pré-definido.
Endeusamento e demonização
Da estratégia consta também a demonização das redes sociais, território no qual Bolsonaro reina com poderes que de alguma forma contrabalançam os efeitos da mídia tradicional. Mídias sociais que viraram sinônimos de fake news. Até parece que a Grande Mídia, sempre mais sofisticada, não comete desde sempre derrapagens que poderiam ser sintetizadas na parcimônia com que permitiu usos e abusos de corruptos que fizeram do regime democrático uma meia-sola de arranjos distribuídos entre grupos de interesses e de pressões.
Editorializar as pesquisas do Instituto Datafolha é essencial para extrair dos dados numéricos insumos com suposta sustentação científica. O Datafolha faz de cada questionamento aos eleitores que respondem às pesquisas um concretíssimo avanço que baixa imunidade do governo federal. Como se as trapalhadas de Bolsonaro já não fossem suficientes. Mais que isso: como se a centralização de críticas da Grande Mídia, independentemente do Datafolha, não fosse garantida.
Minando o terreno
Em duas das três vezes em que o Datafolha embrenhou-se campo adentro para transformar a renúncia ou o impeachment do presidente em polo de ação junto aos entrevistados, a Folha de S. Paulo levou os dados e as interpretações à manchetíssima. Manchetíssima é a manchete das manchetes da primeira página. Um espaço nobre que doutrina a cobertura das demais mídias tradicionais entrelaçadas no projeto de impeachment ou renúncia.
Nas duas oportunidades o Datafolha encontrou barreira sólida que quebrou a força-motriz de acionar mecanismos de aquecimento de uma guerra suplementar contra o governo federal, ou seja, noticiar que os brasileiros queriam a renúncia ou o impeachment.
Não houve em nenhuma das duas primeiras pesquisas avanço nessa direção. O eleitorado de Bolsonaro manteve-se rigorosamente como obstáculo à maioria relevante contra o governo federal. Nas duas oportunidades houve equilíbrio do eleitorado ouvido pelo Datafolha. Metade a favor e metade contra. O apoio a Bolsonaro, um terço do total dos brasileiros, seguiu incólume.
Na edição de primeiro de maio a Folha de S. Paulo dedicou um texto evocativo ao afastamento de Jair Bolsonaro. Com o título “Apoio a impeachment não está no nível de Collor e Dilma”, o instituto viu nas páginas do jornal da mesma corporação societária o suprimento tático da empreitada. Leia alguns trechos da matéria:
Especulando a saída
A abertura de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro racha o eleitorado brasileiro, mas o presidente ainda está em posição mais confortável do que a de seus dois antecessores impedidos desde a redemocratização de 1985. É o que se depreende da análise de outros momentos de crise política nos quais o Datafolha perguntou à população se era conveniente o movimento por parte da Câmara dos Deputados. Relativizando essa leitura há um fato: a intenção contrária a Bolsonaro é significativa: 45% e ele tem só um ano e quatro meses no cargo. Outros 48%, um empate técnico na margem de erro de três pontos, são contra a abertura do processo. A palavra impeachment ronda conversas políticas há poucos meses, devido a erosão acelerada entre o Planalto e outros Poderes e entes federativos – escreveu a Folha de S. Paulo.
Como no segundo turno
Cabe um reparo numérico-estatístico que dissolve o tom alarmista da Folha de S. Paulo e revela o quando se pretende criar um ambiente de instabilidade ainda maior no País: aqueles 45% que se alistaram pró- derrubada do presidente não são mais que os 44% (seguindo a margem de erro) que votaram no candidato do PT, Fernando Haddad, nas eleições presidenciais em 2018. Num período como o atual em que a polarização entre direita e esquerda chega a níveis elevadíssimos, qualquer variável dentro ou mesmo levemente fora da margem de erro não passa de consequência natural. Longe, portanto, de clamor ao impeachment ou renúncia do presidente.
Na mais recente e terceira pesquisa, entre 25 e 26 de maio, matéria-prima desta série, ante a resiliência do eleitorado contrário ao impeachment e à renúncia, em novo empate técnico ou próximo a isso, a Folha de S. Paulo desistiu de elevar à manchetíssima os resultados do Datafolha. A decisão parece irrelevante, mas não é.
Uma nova edição com dados que confirmassem a dificuldade popular de remover Jair Bolsonaro da presidência, mesmo sob ataque contínuo emitiria sinais subliminares de que a Grande Mídia assinava atestado de óbito como influenciadora das massas e também dos mais letrados.
Questionamentos emblemáticos
Essas avaliações percorreriam os corredores da apelação analítica e seguiriam em frente até desabar no fosso da conspiração doentia não fossem os ingredientes já analisados no conjunto e nas especificidades da mais recente pesquisa Datafolha. Há sim e indiscutivelmente orquestração deliberada para desbasta cada vez mais o prestigio do presidente da República.
Tanto é verdade que não seria necessário nem mesmo a série de provas e argumentos desta série. Bastaria a seguinte reflexão: afinal, por que o braço estatístico da Folha de S. Paulo, inimiga declarada do presidente da República (a recíproca é verdadeira) teria partido determinadamente para incluir na pauta de pesquisas a aferição do desejo popular de retirar Bolsonaro do cargo, quer com impeachment, quer com renúncia?
Afinal, até agora não existe robustez em qualquer ação que conduza Jair Bolsonaro ao mesmo destino de Collor de Mello e Dilma Rousseff. Nem corrupção, nem gestão fiscal temerária. Há sim uma porção de especulações, como o caso do vídeo do barulho que, por mais contorcionismos que façam os reprovadores daquele encontro, não confere seguramente a ilação de que Bolsonaro infringiu os limites constitucionais de tentar interferir na Polícia Federal.
Esforço da Grande Mídia para caracterizar as frases do presidente da República durante aquele encontro em prova de delito não faltou.
Todos unidos
Para desmontar de vez o palanque de versão unilateral, basta acompanhar o inquérito instaurado e, sobretudo, a peça jurídica assinada pelo ex-ministro Sérgio Moro. Não há uma linha sequer que confirme uma denúncia de invasão do território da Policia Federal por parte de Bolsonaro. Ou seja, não há materialidade e tampouco testemunhos nesse sentido.
A lógica da estratégia da Grande Mídia pactuada para interromper o mandato de Jair Bolsonaro é investir sempre e sempre não só nos frequentes erros do titular do Palácio do Planalto como também munir-se de poderio bélico próprio, cavoucando tudo que é possível no governo federal e contando sempre com a infantaria do Datafolha.
O ajuntamento da Grande Mídia em torno do objetivo de derrubar Bolsonaro é nítido. A linha editorial dos produtos que esse consórcio midiático oferece a leitores, telespectadores, internautas e ouvintes tem a mesma nota. Há uma ordem unida sem fissuras. Apenas ganha matizes mais ou menos abrasivos ou brandos em determinadas edições.
Papel de integração
Não foram poucas as situações em que jornais como a Folha de S. Paulo e o Estadão praticamente repetiram os termos das mesmas manchetíssimas. Por isso que, ao equívoco do governo federal de lançar mão de restrições à divulgação de informações sobre os danos do vírus chinês no Brasil, a Grande Mídia se reuniu e deu uma resposta imediata, ao montar um comitê de recolhimento de dados que substituísse o Ministério da Saúde.
Há outras evidências e provas de que a Grande Mídia está disposta a tudo para enquadrar o governo Bolsonaro nos rigores do impeachment ou da renúncia. Mas, nesse caso, seria necessário nova série de análises. O que é dispensável.
O Datafolha faz um papel mais integrador nesse sentido. Com uma vantagem que não pode ser subestimada: carrega um caminhão de credibilidade entre os consumidores de dados extraídos de muitas operações distintas da sustentabilidade científica, quer pela metodologia manquitola, quer pela baixa transparência dos questionários aplicados.
O endeusamento do científico em tempos de pandemia do Coronavírus alastra-se a outros setores. O Datafolha corre numa raia de quase intocabilidade entre leigos. E mesmo sob desconfiança ou descredenciamento de especialistas que reconhecem em seus dados muito mais que pretensa consistência técnica, o Datafolha impera porque há convergência tácita na suposta elite intelectual de que o inimigo precisa ser batido de qualquer forma, mesmo com abusos metodológicos e baixíssima transparência de pesquisas estruturalmente inconsistentes.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)