Uma palavrinha de conforto para São Caetano, que, dentro de cinco anos, deverá ser superada por Diadema no PIB do Consumo per capita, conforme analisei detalhadamente esta semana: São Bernardo já perdeu a corrida para a vizinha sempre vista como patinho feito.
Esse resultado é gravíssimo, considerando-se que São Bernardo é a Capital Econômica do Grande ABC, dona que é do maior PIB Geral, medida que não leva em conta a limitação individual na soma de riqueza e tampouco a absorção interna.
Diferentemente, portanto, do PIB do Consumo, que conta o que cada morador dos municípios da região tem para gastar, independentemente de onde trabalha.
Na última década, que corresponde ao período de 2011 a 2020, tendo 2010 como base de dados, Diadema saiu de desvantagem de 33,07% frente a São Bernardo e registra vantagem de 2,46%.
É inapropriado festejar a virada de Diadema como resultado de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. A ultrapassagem só acentua indicadores que desfilamos ao longo dos anos de alerta à depauperação do tecido social.
Desindustrialização pesa
A desindustrialização em São Bernardo segue inexorável. Não há reposição de indústrias que deserdam ou desaparecem. Uma Ford que morre, por exemplo, vai dar espaço a uma provável operadora de logística. Caso da Construtora São José, que arrematou o terreno por R$ 550 milhões.
Há conformistas que preferem ocupações econômicas menos produtivas e geradoras de valor agregado mais modesto do que a degradação de terrenos e galpões desocupados. Essa é uma maneira de enxergar o Grande ABC com lentes de procrastinação. Não existe plano econômico municipal ou regional que reverta o processo de desindustrialização ou mesmo que encontre alternativas compensatórias.
O que fundamentalmente diferencia Diadema de São Bernardo para justificar e explicar a virada do jogo do placar de riqueza acumulada por habitante são alguns pontos relevantes.
Primeiro, a indústria de Diadema, variedade de setores e segmentos majoritariamente de pequeno porte, resiste mais a intempéries macroeconômicas do que o prevalecente setor automotivo em São Bernardo.
Segundo, Diadema tem despertado a atenção no mercado imobiliário de classe média-baixa, também chamado de proletariado. São Bernardo segue cada vez mais favelizada.
A virada explicada
Na década de 2011-2020, o PIB do Consumo por habitante de Diadema apresentou crescimento real, acima da inflação do período, de 17,64%. Diadema registrava consumo individual de R$ 13.357,56 em valores nominais na temporada de 2010. Com deflacionamento medido pelo IPCA do IBGE (Índice de Preços ao Consumidor Amplo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 66,84%, deveria ter alcançado R$ 22.285,75 neste ano para que não acusasse queda per capita. Mas superou a meta: chegou a R$ 26.228,19.
O comportamento de São Bernardo foi bem mais modesto: nos mesmos 10 anos, o PIB do Consumo por habitante caiu 30,15%: os valores nominais de 2010, de R$ 19.957,19, seriam R$ 33.296,58 com a correção inflacionária. Entretanto, só alcançou R$ 25.581,86 mil por habitante.
Como se observa, houve inversão de desempenho do PIB do Consumo por habitante. Natural que Diadema apontasse melhores resultados. Tanto é verdade que agora, nesta temporada, o que era desvantagem de mais de 30% passou a ser superioridade de pouco mais de 2%. Parece pouco, mas é consequência de escalada progressiva que deverá elevar a diferença nos próximos anos.
O comportamento dos dois municípios durante esses 10 anos pode ser mais interessante ainda quando se colocam os quatro estratos sociais numa planilha de avaliações.
Caindo e subindo
Em 2010, São Bernardo registrava 13,4% das famílias de classe rica. Eram 19.126 domicílios de um total de 231.934 da cidade. Diadema registrava 3,9% de famílias ricas (4.439 de um total geral de 113.957 moradias). Já neste 2020, São Bernardo soma 3,4% de famílias ricas (9.844) de um total de 286.031 moradias, enquanto Diadema soma 1,7% (2.401 famílias) de um total de 142.399 moradias. Balanço geral: São Bernardo perdeu 10 pontos percentuais de participação relativa da classe rica (9.282) enquanto Diadema sofreu queda de 2,2 pontos percentuais, ou 2.038 famílias.
Nas famílias de classe média-alta e classe média-média, São Bernardo contava com participação de 38,5% em 2010 (89.321 famílias), enquanto Diadema registrava 25,0% (39.851 famílias). Neste 2020, São Bernardo registra 27,5% de famílias desses estratos sociais (78.626) enquanto Diadema soma 21,6% (30.686). Resultado geral: São Bernardo perdeu 10,0 pontos percentuais de famílias de classe média-alta e de classe média-média na década ((10.695 famílias), enquanto Diadema registrou queda de 3,4 pontos percentuais (9.165 famílias).
Proletariado e excluídos
Na Classe C, ou proletariado, São Bernardo contava com 41,4 % das famílias em 2010 (96.055), enquanto Diadema contabilizava 44,2% (53.373 famílias). Neste 2020, São Bernardo conta com 48,8% de proletariados no conjunto da população (139.653 famílias), enquanto Diadema registra 42,6% (25.656 famílias). Balanço geral: enquanto São Bernardo aumentou em 7,4 pontos percentuais o número de famílias proletárias (43.598 famílias), Diadema aponta redução em 1,6 pontos percentuais (menos 9.775 famílias).
No estrato social reservado às famílias pobres e miseráveis, em 2010 São Bernardo contava com 11,8% da população (27.432 famílias) enquanto Diadema somava 14,0% (16.294 famílias). Já neste 2020, São Bernardo conta com 20,2% da população (57.908) e Diadema 21,6% (30.726). Balanço geral: São Bernardo elevou em 8,4 pontos percentuais o número de famílias de excluídos sociais (30.476), Diadema registra elevação de 7,6 pontos percentuais (14.432).
PIB Geral reflui muito
Em texto que preparei para uma das edições de julho do ano passado mostrei o comportamento do PIB per capita do Grande ABC no G-22, o Clube dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra completam o grupo selecionado pelo porte econômico unicamente porque integram a região. São Paulo não pertence ao grupamento porque desequilibraria os indicadores. Sozinha, a capital do Estado tem o mesmo porte econômico do G-22.
Naquela medição do PIB Geral per capita restringi o período de análise entre janeiro de 2014 e dezembro de 2016. Afinal, tratava-se do pior período da economia brasileira neste século. Até a chegada do Coronavírus.
Com o setor automotivo fortemente abatido pela crise do governo Dilma Rousseff, a classificação dos municípios da região no PIB Geral foi pífia. Quem melhor se comportou (por força do setor químico-petroquímico) foi Mauá, terceira colocada no G-22. O PIB per capita avançou em termos reais 2,36%. Os demais municípios da região só conheceram derrota. Ribeirão Pires perdeu 8,15% e se classificou em oitavo lugar. Rio Grande da Serra, em 11º lugar, teve o PIB per capita reduzido em 16,67%. Bem menos que os 27,96% de Diadema, em 19º lugar. E muito menos que os 31,33% de Santo André (20ª posição), São Bernardo com queda de 48,65% (21ª colocação) e a lanterninha São Caetano, com rebaixamento do PIB Geral per capita de 51,96%.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?