Em fevereiro de 1999 escrevi para a revista LivreMercado um texto curto, mas importante sobre o futuro reservado para o Grande ABC com a prometida chegada do trecho sul do Rodoanel. Anteriormente a revista de papel tratara diversas vezes do assunto. E voltou a fazê-lo em seguida. Cantamos a bola: o Rodoanel se transformaria num pesadelo econômico ao acelerar a desindustrialização. É desnecessário dizer que a mídia regional e a classe política saudaram a obra como redentora. Quem ganhou mesmo foi a Grande Oeste, com Osasco e Barueri na liderança.
Esta é a septuagésima-segunda matéria da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, uma junção de LivreMercado (1990-2009) e CapitalSocial (desde 2001).
Está na hora de
mexer no Rodoanel
DANIEL LIMA - 05/02/1999
Antes de a Prefeitura de Santo André levar a público em abril as propostas de reorganização da Avenida dos Estados e dar início ao processo de interação com agentes econômicos e da comunidade a fim de materializar o projeto, o arquiteto espanhol Eduardo Leira desafia os interlocutores do Grande ABC a pensar, conceber e viabilizar o tipo de Rodoanel Metropolitano que de fato atenda aos interesses de desenvolvimento estratégico da região.
Ou seja: interferir efetivamente por meio de gestões políticas junto ao governo do Estado, evitando comprometer o futuro da região. Leira compõe uma das quatro equipes -- uma brasileira e três internacionais -- que, sob a coordenação do urbanista Jordi Borja, traçam o futuro do macroeixo do Vale do Tamanduateí.
Com conclusão prevista para 2005, as obras do Rodoanel Metropolitano tiveram início em outubro do ano passado no trecho Oeste, que liga Perus à Rodovia Régis Bittencourt nas proximidades de Osasco. Este primeiro trecho está orçado em R$ 500 milhões e a totalidade em R$ 3,2 bilhões.
O Rodoanel foi concebido como anel viário de 162 quilômetros de extensão para circundar São Paulo e interligar todas as rodovias que convergem para a Capital como meio de aliviar o trânsito das marginais. O projeto prevê uma via fechada de alta velocidade (100 km/h) com acessos localizados apenas nas interseções com as rodovias.
É exatamente aí que Eduardo Leira deposita preocupações. Responsável pelos estudos de acessibilidade -- facilidade/dificuldade de acesso -- do projeto da Avenida dos Estados, o arquiteto defende maior interação do Rodoanel com os municípios da região. Em vez de passar à margem da cidade, com mínimos acessos, o projeto deveria concentrar traçado mais próximo do tecido urbano, configurando diagonal ABC--Guarulhos pela Estrada do Pêssego. Seria uma via metropolitana.
A região será atingida pelo Rodoanel pelos segmentos Sul e Leste com apenas dois acessos, que certamente limitarão a interação das cidades com o projeto. O formato original vai de encontro à tendência da região para o setor de serviços, que exige mais mobilidade.
Para o urbanista, o Grande ABC deve reforçar a condição de polo de atividades que envolvem logísticas de produção e montagem. As propostas não param por aí. Junto ao Rodoanel caberia plataforma intermodal de logística, experiência semelhante à do Consórcio Eadi (Estação Aduaneira de Despachos do Interior) Santo André.
Leira propõe ainda a requalificação do transporte sobre trilhos incluindo a adoção de novas formas de trens com características dos nostálgicos bondes. Isso significa derivar o trajeto da ferrovia para dentro da malha viária urbana. "O objetivo é oferecer meio de transporte com imagem moderna e confortável, que atraia o interesse dos usuários de automóvel particular" -- afirma Maurício Faria, coordenador do Programa Cidade Futuro.
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