A desindustrialização estrutural do Grande ABC ainda (incrivelmente) negada nestes dias por acadêmicos comprometidos ideologicamente com uma esquerda burra e corporativa sempre foi objeto de análises da revista LivreMercado e, por extensão, de CapitalSocial.
Em março de 1999 assinei breve nota que remetia a uma pendenga com um executivo público do governo do Estado.
Leia a septuagésima-terceira matéria da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, junção dos 19 anos da revista de papel LivreMercado e da revista digital CapitalSocial, desde 2001 em circulação.
Martoni dá razão à
LM um ano depois
DANIEL LIMA - 10/03/1999
Demorou exatamente um ano para LivreMercado provar mais uma vez que, quando se trata de analisar a economia do Grande ABC, é o instrumento mais confiável. E que agentes políticos e econômicos podem, por conveniências circunstanciais ou simples desconhecimento da realidade, equivocar-se grandemente.
Há um ano a matéria sob o título “Que Mentira Que Lorota Boa” denunciou um tropeço de Luiz Henrique Proença Soares, diretor-adjunto de Produção de Dados da respeitada Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises de Dados), divisão do governo de São Paulo. A base da crítica foi a afirmação do executivo público ao Diário do Grande ABC, de que a evasão industrial da região era mito e que o consequente esvaziamento econômico não existia.
Na edição seguinte de LM, de abril, Proença ainda tentou encontrar argumentos para o deslize, num artigo publicado na íntegra em duas páginas. Foi rechaçado ponto a ponto na página seguinte. Agora, um ano depois, o próprio diretor executivo da entidade, Pedro Paulo Martoni Branco, dá razão à LivreMercado. Disse textualmente ao mesmo Diário do Grande ABC, edição de 26 de fevereiro último, para justificar o índice de desemprego em janeiro na região, que atingiu assustadores 20,4% da PEA (População Economicamente Ativa): "A reestruturação que vem ocorrendo envolve a evasão de indústrias e também o acréscimo de valor agregado nas fábricas que se mantêm no Grande ABC, o que também significa aumento do desemprego" -- explicou Martoni Branco. Tradução da declaração: cada vez mais indústrias deixam o Grande ABC e as que permanecem recorrem cada vez mais também a investimentos tecnológicos e a novos padrões de gestão e processos para reduzir o peso da mão-de-obra na planilha de custos.
É por essas e outras que o índice de desemprego que atinge a região, e que equivale a 232 mil pessoas excluídas de rendimentos, não surpreende. A situação é bem mais crítica do que a registrada na Grande São Paulo, também segundo estudos do Seade, pois em janeiro o índice metropolitano atingiu 17,8%.
Os dados sobre a região fazem parte do convênio entre a Fundação Seade e o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, que encomendou à instituição um corte específico para o Grande ABC tanto da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) quanto da Paep (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista).
A primeira versão do CD-ROM da Paep está prometida para fins deste mês. Agora se terá pelo menos quadro mais preciso dos rombos provocados pela abertura econômica numa região que até então, como todo o País, vivia da ineficiência da reserva de mercado. O tempo médio de procura por emprego na região, de 17 meses, mostra que a desgraça nunca vem só. Na Grande São Paulo são 16 meses.
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