Economia

E o PIB do Grande ABC sofre
massacre da Grande Campinas

DANIEL LIMA - 01/07/2020

O Grande ABC vem sofrendo derrota acachapante para a Grande Campinas neste século. E a projeção é de que continuará sendo impiedosamente batido. A métrica é o PIB (Produto Interno Bruto), indicador mais importante para definir o crescimento econômico de municípios, Estados e países. E melhor ainda quando definido por habitante. O que trataremos em outra situação.

Essa contagem começa exatamente no primeiro ano deste século. E também abrange, numa espécie de subgrupo de análise, os resultados pós-chegada de Lula da Silva à presidência de República, em janeiro de 2003, sucedendo ao tucano Fernando Henrique Cardoso.

Quando FHC deixou o Palácio do Planalto, o Grande ABC perdia para a Grande Campinas por placar escasso. Agora, com dados mais atualizados em 2017, a diferença é de 39,07% ou de R$ 76.055.174 bilhões, equivalente a quatro dos sete municípios da região – São Bernardo com R$ 44.680.389; Santo André com R$ 27.470.680 bilhões; Ribeirão Pires com R$ 3.046.4655 bilhões e Rio Grande da Serra com R$ 610.937 milhões.

Frustração com PT

Quando Lula assumiu a presidência o PIB conjunto do Grande ABC era levemente inferior ao PIB dos 20 municípios da Grande Campinas. Apenas 3,54% de diferença favorável ao conglomerado interiorano. Quando Lula encerrou os oito anos de duplo mandato, e também após um ano de Dilma Rousseff na presidência, em 2011, a Grande Campinas consolidou vantagem de 17,17%.  E agora, considerando-se os dados de 2017, os mais atualizados, a distância dobrou em relação a 2011.

Para quem gosta de leitura político-partidária, o desempenho do PIB do Grande ABC durante todo o período petista na presidência da República foi um grande fiasco. A expectativa de que o maior político de esquerda do País, egresso das lides sindicais de São Bernardo, significaria a redenção da economia do Grande ABC, converteu-se em grande fracasso.

Com o PT na presidência da República o Grande ABC permaneceu em decomposição econômica, iniciada justamente com o movimento sindical liderado por Lula. Outros vetores, já observados aqui, somaram-se ao estrago maior de um sindicalismo atrelado às benesses do Estado tendo as montadoras de veículos como alvos preferenciais.

Quatro municípios

Ainda sobre o período de oito anos de Lula da Silva e o primeiro ano de Dilma Rousseff na presidência, em valores monetários nominais, sem considerar a inflação, o que era vantagem da Grande Campinas de R$ 1.315.86 bilhões em 2002 (o equivalente a um terço do PIB de Diadema) em 2011 já representava o PIB inteiro de Diadema somado ao PIB também integral de Mauá.

Já na nova contabilidade, que chega a 2017, o fosso que separa a riqueza anual é ainda mais profundo: Santo André, São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra foram para o saco.

Recuando um pouco a métrica temporal, em 1999, antes de Lula da Silva desembarcar em Brasília, em valores nominais, sem inflação, o Grande ABC apresentava PIB de R$ 26.884.252 bilhões, contra R$ 27.950.787 bilhões da Grande Campinas. Ou seja, a Grande Campinas exibia vantagem de R$ 1.066.535 bilhão, o que equivalia a quase o PIB de Ribeirão Pires, que era (sempre em valores nominai de 1999) de R$ 1.335.226 bilhão.

Mais velocidade média

A velocidade média de crescimento nominal do PIB do Grande ABC, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2017, registrou 341,20%, com média anual de 18,95%. Já a Grande Campinas mostrou crescimento muito maior quando se compara ponta a ponta o período de 2000 a 2017: 596,47%, média anual de 33,13%. Resumo:  a Grande Campinas, sem considerar a inflação do período, cresceu em ritmo 42,80% superior ao Grande ABC.

A Grande Campinas é uma das regiões metropolitanas de São Paulo. E aumenta a cada temporada o cacife de investimentos do setor industrial e de serviços.  Livre da concorrência da Capital do Estado, a Grande Campinas é um mega-endereço de alta atratividade.  O entorno cresce acima da média de Campinas, capital daquele aglomerado de Municípios. 

A situação geoeconômica do Grande ABC é integralmente distinta da Grande Campinas. Aqui há encalacramento territorial, à Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo. Vive-se à sombra da Capital e cada vez mais as demais áreas da metrópole ameaçam ou ultrapassam o PIB do Grande ABC.

Perdendo na metrópole

A Grande Oeste, por exemplo, que tem Osasco e Barueri como principais endereços, já superou o Grande ABC há muito tempo. A Grande Leste, com Guarulhos, também.  O conjunto da Região Metropolitana de São Paulo avança em média muito acima do Grande ABC.

A chegada do Rodoanel no início da década de 2010 só complicou ainda mais o ambiente regional. Quem ganhou com isso foi principalmente a Grande Osasco. O trecho sul do Rodoanel, que contempla o Grande ABC, foi um tiro no peito da regionalidade. Empresas debandaram de vez. O traçado é de baixa inserção inter-regional. Diferentemente de Osasco, que interage com mais de uma dezena de entroncamentos urbanos.

O chamado Custo ABC é uma pedra no caminho do desenvolvimento regional. Tanto quanto a inapetência do setor público a estabelecer planejamento, metas e intervenções. Não há sinergia entre os sete municípios. O Clube dos Prefeitos é uma sucessão de improdutividade organizacional. Cada troca de cheia, tudo se altera. Veja o PIB do Grande ABC e da Grande Campinas em 2017:

O PIB dos 27 municípios 

 Santo André – R$ 27.470.680 bilhões.

 São Bernardo – R$ 44.680.389 bilhões.

 São Caetano – R$ 13.106.958 bilhões.

 Diadema – R$ 13.412.702 bilhões.

 Mauá – 16.286.408 bilhões.

 Ribeirão Pires – R$ 3.046.465 bilhões.

 Rio Grande da Serra – R$ 610.937 milhões.

 Sumaré – R$ 13.744.576.

 Americana – 10.382.873 bilhões.

 Campinas – R$ 59.053.563.

 Cosmópolis – R$ 1.575.661 bilhões.

 Engenheiro Coelho – R$ 596.633 milhões.

 Artur Nogueira – R$ 1.081.069.

 Indaiatuba – R$ 13.489.932 bilhões.

 Holambra – R$ 908.165 milhões.

 Jaguariúna – R$ 11.346.028 bilhões.

 Itatiba – R$ 5.566.364 bilhões.

 Paulínia – R$ 35.346.490 bilhões.

 Pedreira – R$ 1.128.334 bilhão.

 Nova Odessa – R$ 3.175.071 bilhões.

 Monte Mor – R$ 2.917.997 bilhões.

 Hortolândia – R$ 12.928.628 bilhões.

 Santa Bárbara do Oeste – R$ 5.494.890 bilhões.

 Santo Antônio da Posse – R$ 1.043.905 bilhão.

 Morungaba – R$ 424.901 milhões.

 Vinhedo – R$ 8.729.936 bilhões.

 Valinhos – R$ 5.734.500 bilhões.



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