Nem o prefeito de Santo André nem o prefeito de São Caetano conseguiram em três anos de mandato (e não o conseguirão neste último de pandemia destruidora) evitar mais um impulso no processo de desindustrialização contabilizada desde 1986. O emprego industrial, insumo decisivo à tomada da temperatura econômica da região, segue desmoronando. Santo André disputa pau a pau a lanterninha de menor participação de trabalhadores industriais em relação ao conjunto de assalariados com carteira assinada.
A expectativa de que dariam resposta a uma crônica situação de empobrecimento acabou frustrada. Tanto quanto, com diferenças de calibragens, nos demais municípios do Grande ABC no mesmo período, de janeiro de 2017 a dezembro do ano passado.
Esperava-se melhores resultados. Mesmo que não fossem lá essas coisas. Afinal, ao assumirem as prefeituras em janeiro de 2017, Paulinho Serra e José Auricchio Júnior foram duplamente beneficiados pelo quadro nacional.
Afinal, o Brasil vinha de dois anos da maior recessão econômica da história, gerada pela petista. Dilma Rousseff cometeu erros que se sobrepuseram à febre de gastança do antecessor Lula da Silva. O PIB de 2015 caiu 3,55% enquanto no ano seguinte a baixa foi de3,31%.
Macroeconomia ajuda
Nos três anos no comando dos dois paços, Paulinho Serra e José Auricchio contaram com situação macroeconômica melhor. O PIB do Brasil cresceu 1,06% em 2017, outros 1,12% em 2018 e 1,14% em 2019. Parece e é mesmo pouco para quem saiu de recessão duríssima, mas o suficiente para medidas administrativas mais ousadas.
Paulinho Serra e José Auricchio Júnior seguiram ritual de comodismo. A agenda econômica é miragem nos dois municípios. Não há plano algum relacionado ao futuro, mesmo que ao futuro imediato.
Por conta disso, na edição de amanhã vou sugerir algumas ações práticas que os dois prefeitos (e os demais da região) poderiam adotar para, senão dar um cavalo de pau na desindustrialização, ao menos reduzir perdas até que efeitos de longo prazo se cristalizem. Só dessa forma o Grande ABC estancará processo estrangulador.
Uma das faces
O PIB Geral do Grande ABC de 2017 registrou crescimento de praticamente zero. Mais precisamente de 0,99%. Os dados municipais de 2018 e 2019 sofrem defasagem de dois anos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai anunciar o PIB Geral dos Municípios de 2018 somente em dezembro próximo. E o de 2019 em dezembro do ano que vem.
O emprego industrial é uma das faces da desindustrialização. Isoladamente nem sempre retira a cortina de dúvidas. Sobremodo porque pode ser uma peça-chave do processo de modernização tecnológica. Não é o caso nem de Santo André nem de São Caetano. Ou de qualquer Município do Grande ABC. Emprego industrial e desindustrialização são sinônimos na região.
Então, por que afinal decidi escolher os dois prefeitos tucanos, Paulinho Serra e José Auricchio Júnior, para dar destaque a uma situação negativa praticamente generalizada no Grande ABC?
Porque, insisto, o prefeito de Santo André prometeu reação antes mesmo de assumir o mandato em janeiro de 2017. O que se vê é o aprofundamento da quebra da dinâmica econômica em Santo André. E José Auricchio Júnior acompanhou sem reação a uma derrocada ainda maior de São Caetano. Não só maior como silenciosa.
USCS omissa
Tão silenciosa (embora CapitalSocial não dê folga ao comportamento individual e coletivo do Grande ABC), que ainda outro dia, como se fosse um endereço a ser canonizado como desbravador de soluções econômicas, sugeriu-se que a USCS preparasse algo como o Planejamento Estratégico do Grande ABC no âmbito do Clube dos Prefeitos. USCS é a Universidade Municipal de São Caetano que, desfaçatez da desfaçatez, não tem ideia sobre o que se passa no próprio território municipal. Fosse diferente, São Caetano não teria números catastróficos ao longo do tempo e, principalmente, desde que José Auricchio Júnior assumiu o terceiro mandato neste século.
Tanto é verdade que a USCS não é referencial de qualquer ação prática. Embora conte com centro de estudos da economia regional, jamais realizou uma medida sequer para iluminar os estragos locais alertados e consolidados por CapitalSocial ao longo dos anos.
A nota vexatória que pode ser atribuída a Paulinho Serra e a José Auricchio Júnior está exposta no estoque de emprego industrial com carteira assinada nos 36 meses que compõem os atuais mandatos.
Enquanto Paulinho Serra assistiu a inacreditável embora não escandalosa nova queda da participação dos trabalhadores industriais no conjunto de empregos formais do Município, José Auricchio observou a degringolada sem precedentes no mesmo quesito.
Com as 1.467 demissões líquidas em 36 meses (o saldo entre admissões e demissões), Santo André passou a ter apenas 12,03% empregados industriais a cada 100 com carteira assinada. O pior índice entre os municípios da região. E São Caetano disputa a mesma lanterninha: nos 36 meses perdeu 4.752 postos de trabalho formais industriais e passou a contar com 14,33% do total de empregados em todos os setores.
Queda brutal em São Caetano
Os números absolutos não expressam a realidade dos fatos desde que Paulinho e Auricchio iniciaram o mandato em janeiro de 2017. A queda do estoque do emprego industrial em Santo André chegou ao acumulado de 4,15% nos 36 meses, enquanto São Caetano deu salto espetacularmente triste, de 23,63%.
Repetindo em outros termos: enquanto a cada 100 empregos industriais Santo André perdeu 4,15, São Caetano ultrapassou o limite do razoável e chegou a 23,63%. Não há registro semelhante entre os maiores municípios do Estado de São Paulo, que integram o G-22 criado por CapitalSocial.
Os números absolutos e relativos de Santo André não são os piores do Grande ABC no período, mas requerem atenção redobrada porque há muito chegou ao fundo do poço, do qual parece sempre e sempre aprofundar-se.
Os 4,15% de empregos industriais perdidos por Santo André em três anos são praticamente a metade da queda média do Grande ABC de sete municípios, que alcançou 8,02%. Mas, insistindo no alerta, é um indicador inquietante porque sobrepõe perdas em acúmulos do passado e não se esgotam.
O caso de São Caetano é praticamente o mesmo: o esfacelamento do emprego industrial também vem de longe, mas, como agravante, ganhou cores dramáticas durante os três anos de José Auricchio Júnior.
Santo André dramático
Santo André é o caso mais dramático de desindustrialização ao se observar o indicador de emprego formal quando o vínculo de análise é histórico. Entre 1986 e 2019, Santo André perdeu 40.694 postos de trabalho industrial – eram 64.491 e passou para 23.797. O resultado é uma quebra de 63,10%. Ou seja: de cada 10 trabalhadores industriais de Santo André e há 34 anos, sobraram menos de quatro.
São Caetano ocupa a vice-lanterninha histórica já que contava com 37.128 trabalhadores industriais em 1986 e passou a contar com 15.354 no ano passado. Uma queda de 58,64%. Um pouco acima da queda de 52,20% de São Bernardo, que contava com 147.781 postos de trabalho industrial e agora, dezembro do ano passado, registrava 70.634.
O que difere São Bernardo de Santo André e de São Caetano é que, apesar de tudo, a matriz industrial representa 28,57% de empregos formais na Capital Econômica do Grande ABC. Pouco mais que o dobro da participação relativa do setor em São Caetano e um pouco mais que isso no confronto com Santo André. Ou seja: apesar dos pesares e os pesares são muitos, São Bernardo conta com tônus mais resistente à desindustrialização.
Mauá é a única exceção entre os municípios do Grande ABC a revelar números positivos de empregos formais industriais quando se tem a linha de tempo como demarcador. Em 1986 contava com 16.287 trabalhadores e em 2019 registrava 19.499, com crescimento do estoque de 19,72%. Diadema perdeu 23.204 trabalhadores ((37,71%) já que contava com 61.531 postos de trabalho na origem estatística e em 2019 contabilizava 38.327.
Ribeirão Pires registrava em 1986 o total de 9.130 trabalhadores industriais formais, ante 6.737 em 2019. Uma queda acumulada de 26,21% ou 2.393 postos de trabalho. Rio Grande da Serra contava com 1.286 trabalhadores na indústria de transformação e caiu para 1.094 (menos 14,93% ou 192 no efetivo).
Quando se comparam os números do emprego industrial do Grande ABC como um todo entre 1986 e 2019, os dados refletem cruelmente a sistemática quebra da mobilidade social. Ou seja: é cada vez mais difícil a possibilidade de pobres e miseráveis virarem proletariado, de proletariado virar classe média-baixa, de classe média-baixa virar classe média-média, de classe média-média virar classe média-alta e, sobretudo, de classe média-alta virar rico. Nos dois estratos mais reluzentes da hierarquia social, de ricos e classe média-alta, o Grande ABC só tem acumulado derrotas.
Em 1986 o Grande ABC contava com 337.634 trabalhadores industriais com carteira assinada. No ano passado eram 175.442. Uma diferença de 162.192 trabalhadores. Ou nada menos que 51,96%.
Problema recorrente
A desindustrialização do Grande ABC vem de longe e se agravou neste século. Os dados do PIB Geral dos Municípios relativos a 2018 só vão ser conhecidos em dezembro, mas os números disponíveis até 2017 são elucidativos. São Caetano está solidamente na liderança do infortúnio.
Entre 2002, último ano de Fernando Henrique Cardoso como presidente do País, e 2017, depois de 13 anos de PT no Planalto, até o impeachment de Dilma Rousseff, o Grande ABC perdeu 11,10% na indústria de transformação.
Santo André, São Caetano, São Bernardo e Diadema são os casos gravíssimos de perda da musculatura industrial naqueles últimos 15 anos em valores atualizados.
No caso de São Caetano, a situação é particularmente mais complicada: ante inflação (IPCA) de 141,03% entre janeiro de 2003 e dezembro de 2017, o Município avançou em termos nominais apenas 38,45%. Ou seja: muito abaixo da correção monetária. Uma desindustrialização inexorável que se reflete na perda de emprego no setor. Quando se atualizam os valores, São Caetano sofre perda real de 42,55% no PIB Industrial.
Santo André de derrotas anteriores também não escapou da perda do PIB Industrial nos 15 anos, mesmo contando com o reforço de caixa do Polo Petroquímico. A queda real de 6,40% no período reflete resistência também representada por poucas e grandes indústrias que praticamente dominam a produção no Município. São Bernardo perdeu 25,11% no período.
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