O que a revista LivreMercado publicou na edição de janeiro de 2000, a primeira do novo século, poderia também definir o estágio de atraso em Diadema.
Desde 1982 sob o controle de prefeitos que seguiam cartilha socialista, quando Gilson Menezes foi eleito o primeiro prefeito do PT no País, o Desenvolvimento Econômico jamais foi prioridade. O que a jornalista Malu Marcoccia mostra no texto abaixo é o que poderia ser chamado de libertação.
Diadema, finalmente, acordava para a vida econômica. O capital deixava de ser visto como animal perigoso, indomável e avassalador. O Muro de Berlim caíra mais de uma década antes. E Celso Daniel, inspirador da mudança em Diadema, colocava há muito tempo a Economia como essencial em Santo André.
Esta é a centésima-décima-sétima edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, conjunto formado por 19 anos de circulação da revista de papel LivreMercado e os também (até agora) 19 anos digitais de CapitalSocial.
Desenvolvimento
agora em 1º lugar
MALU MARCOCCIA - 05/01/2000
Diadema decidiu sair da sombra de um estigma -- a de Município mais violento do País -- e guindar o desenvolvimento econômico à condição de prioridade. O prefeito Gilson Menezes e a vice Maria Regina Gonçalves, também secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo, resolveram fazer barulho para desafiar a crise econômica e de imagem que abala a cidade e criar força-tarefa que dinamize os negócios, além da arrecadação.
Até mesmo a criação da TV Diadema faz parte dos planos. Mais do que isso, já aparecem no organograma público despesas sob a rubrica Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico, que consumiram 0,10% do orçamento de 1999, e Desenvolvimento Regional, com 0,01%. Um avanço em relação ao 0,00% de anos atrás.
Depois de mostrar a cara na Internet a partir do site www.diadematem.com.br, por meio do qual pode-se localizar as empresas do Município pelo nome ou por ramo de atividade, a Prefeitura produziu em conjunto com a iniciativa privada vídeo institucional que sublinha pontos positivos potencialmente atraentes para investimentos.
Consultoria e TV
Também lançou o programa Diadema 2000, com ações que serão colocadas na ordem do dia deste primeiro semestre. Entre os projetos destacam-se o cartão de compras Diadema Comercial, a criação de um centro permanente de negócios das empresas locais e convênio com a Fundação Getúlio Vargas para dar consultoria aos novos empreendedores. A TV Diadema, segundo o projeto, será vocacionada para negócios e serviços à comunidade.
Paralelamente, a máquina pública se reestrutura para agilizar a burocracia municipal diante das demandas de empreendedores, como a aprovação em 24 horas de novas empresas. A Lei de Uso e Ocupação do Solo também é objeto de estudo para facilitar a instalação de empreendimentos com eliminação de restrições legais de localização e edificação. "Além disso, discutimos no âmbito da Câmara Regional a Lei de Incentivos Fiscais para cada cidade atrair investimentos que fortaleçam suas vocações ou criem novas" -- expõe Maria Regina.
Pontos positivos
O vídeo institucional foi apresentado a seleto grupo de empresários em meados de dezembro e ressalta o que a Prefeitura considera pontos positivos do Município: localização à margem da Rodovia dos Imigrantes a meio caminho do Porto de Santos e vizinha à Capital, polo industrial com farta mão-de-obra, áreas para implantação de fábricas, rede de fornecedores próximos e inserção no maior mercado consumidor do País, a Região Metropolitana de São Paulo. Será levado a fóruns de debates e feiras, inclusive internacionais. O vídeo já foi apresentado no final do ano passado em Genebra, Suíça, no encontro das Mercocidades, de grandes cidades do Mercosul.
A secretária de Desenvolvimento Econômico entende que há um diagnóstico enviesado sobre Diadema e que é mais do que hora de Poder Público e entidades empresariais unirem esforços. Não se trata de varrer para debaixo do tapete a evasão industrial que castigou o Grande ABC, o desemprego que oscila entre 17% e 18% em Diadema ou o índice de criminalidade de 108 assassinatos a cada 100 mil moradores da cidade, o dobro da taxa nacional, segundo dados de 1998 apurados pela Polícia Militar. "Há variáveis que o Município não controla, como a recessão econômica que atinge o parque produtor e afeta o mercado de trabalho. Mas há coisas boas, e podemos fazer outras melhores, que devemos potencializar" -- entende a secretária, que se vem empenhando em visitas pessoais para sensibilizar as empresas.
Empresário valorizado
Foram cerca de 450 nos 10 meses de atividades da Pasta. "O próprio empresário se sente mais valorizado com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Temos de acabar com a cultura ultrapassada de o Poder Público procurar a iniciativa privada só atrás de patrocínio e de as empresas procurarem a Prefeitura atrás de favores. A mentalidade deve ser de integração" -- coloca.
Pelos números da Prefeitura, Diadema vem ganhando algumas batalhas. Parcerias com entidades empresariais para atração de investimentos e assessoria a negócios já instalados -- casos de Ciesp, Acid e Sebrae -- indicam que a cidade mais recebeu do que viu ir embora (ou fechar) estabelecimentos. Em dois anos, contabilizados de janeiro de 1997 a novembro de 1999, foram inscritas 304 indústrias e encerradas 136, abertos 1.246 estabelecimentos de serviços e fechados 468, e inaugurados 1.166 comércios, contra 493 que fecharam as portas.
Além disso, Diadema implementou experiência pioneira de condomínios industriais em antigos galpões de fábricas. Em quatro ex-grandes indústrias estão hoje 45 empresas de pequeno porte, que empregam 15 pessoas cada, em média. A maioria, segundo a secretária, vinda de São Paulo. "Foi a forma de revitalizar galpões vazios e incentivar novos empreendedores com custos competitivos, já que dividem as despesas de infraestrutura" -- relata.
Mudar o perfil
Mais do que não deixar tombar as receitas com arrecadação, o prefeito Gilson Menezes elenca como prioridade gerar emprego e renda. Ele diz que Diadema não dispõe mais de grandes áreas para formar polos de produção, mas pode incentivar pequenos e médios empreendimentos na forma de condomínios.
No ranking regional, Diadema é a cidade que menos sofre perdas no Índice de Participação dos Municípios, com base na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). De 1982 a 1999, o índice subiu de 1,2125% para 1,3156% no bolo do ICMS no Estado, uma alta de 8,26%. O Grande ABC, em conjunto, baixou sua participação em 23,5% nesse período, segundo estudos da ASPR Consultores e Auditores, de Santo André. Mesmo assim, Diadema caiu do 10º para 12º lugar no ranking de arrecadação do Estado, de 1998 para 1999.
A secretária de Desenvolvimento Econômico explica que as ações para instalação de novos empreendimentos e auxílio aos já existentes também visam a diversificar as atividades econômicas. "Queremos quebrar a dependência do setor metal-mecânico. Temos de fugir do espectro das montadoras" -- diz, referindo-se às metalúrgicas e autopeças, que hoje dão o tom dos negócios.
Levantamento atualizado junto ao Ciesp local indica que a cadeia automotiva é dominante: metal-mecânico responde por 28% das atividades, plásticos por 14% e químico por 13%. Em quarto lugar emergem os serviços, com 9%. A aposta é na revisão da Lei de Incentivos Seletivos -- a Loto Fiscal do Grande ABC acertada no âmbito da Câmara Regional e que beneficia empreendimentos com devolução de impostos ou permuta de áreas públicas conforme o volume de empregos, expansão dos negócios e respeito à lei ambiental.
Seguindo Santo André
Diadema quer fazer o mesmo que Santo André, que troca alterações na Lei de Uso e Ocupação do Solo por obras na infraestrutura pública ou ações sociais. Já tem na cabeceira de pista, para decolar, investimento de R$ 2 milhões no Central Shopping, negócio com 140 lojas em 14 mil metros quadrados na área central onde estava previsto o Shopping da Moça, cujas obras estão paradas há quatro anos. "Conseguimos sócios para o investimento e agora vamos mexer na lei de verticalização em troca de obras sociais" -- revela Maria Regina. O shopping deve vir agregado a um centro de convenções e hotel cinco estrelas, o que exige mexer com a área urbana. "Temos de criar atrativos na cidade com boa oferta de comércio, rede hoteleira e cinemas de gabarito" -- cita a secretária.
Nessa corrida, serviço de Primeiro Mundo deve desembarcar neste mês. A Policard lança o Cartão Diadema Comercial para azeitar a máquina varejista. O cartão de compras não tem taxa de adesão, oferece isenção de anuidade e linha de crédito aos consumidores. A expectativa é de arregimentar nos primeiros quatro meses entre 30 mil e 40 mil usuários, cerca de 10% da população, segundo a Policard.
Ainda este mês a Prefeitura pretende implantar premiação de incentivo às ações sociais das empresas criando distinção semelhante ao Empresa Cidadã e Amiga da Criança, em parceria com a Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos).
Para fevereiro, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico pretende iniciar debates sobre a construção do que chama de centro permanente de negócios das empresas de Diadema com o Brasil e o mundo. Pelo projeto, será criado um centro de exposições para troca de negócios e que também deve sediar um Museu da Ciência e da Indústria. Para março, a agenda Diadema 2000 está programando Fórum Internacional sobre Desenvolvimento Autossustentado entre cidades da América e Comunidade Europeia, seguido de rodada de negócios.
No balanço dos 10 meses da secretaria, Maria Regina Gonçalves destaca o credenciamento de Diadema junto ao Mercocidades, o que permite série de intercâmbios com cidades de grande porte do Mercosul, e o convênio com o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação) do Grande ABC para implantação de restaurante-escola que formou 1,8 mil trabalhadores em 1999. Também cita a readequação do posto do Sine (Sistema Nacional do Emprego), que tem cadastrados 25 mil nomes à disposição das empresas sem custo de agenciamento, e a representação da cidade na Feira de Genebra e no Fórum Mercocidades de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Friburgo, Suíça, em novembro.
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