A melhor maneira que encontrei para me levar no bico, num processo de autoengano que vem de longe e parece que jamais se apagará, é dizer que odeio política como pessoa física, mas a torno paixão como pessoa jurídica.
Pessoa física sou eu mesmo em estado puro, exageradamente crédulo. Pessoa jurídica é o jornalista que, por obrigação social, não bastasse a determinação profissional, faz o possível e o impossível para se manter distante dos podres poderes com ceticismo à flor da pele. Sou o médico e o monstro em ação. Se troco as bolas, me ferro em preto e branco.
Tanto na revista LivreMercado, que criei em março de 1990, quanto na revista CapitalSocial, desde 2001 na praça digital, a Editoria de Política jamais foi prioridade. Mas também não a descartei como se não houvesse nada que a incluísse na vida das pessoas.
A diferença é que não trato a política no sentido específico como centro do mundo regional e muito menos estadual e federal. Diferentemente de engajamentos que capto nas redes sociais de gente que, em muitos casos, é contraditória. Há muitos valentes no virtual e covardes, quase sempre omissos, no regional. Mas isso é outra história.
Manente e Marinho
Neste restante de ano quase perdido por conta do vírus chinês é provável que os leitores vão ler mais sobre política nesta revista digital do que o usual e tradicional. A temporada está aí e até o fim de novembro o pau vai cantar nas disputas municipais. Como já começou a cantar nas mídias sociais.
Tanto está a cantar que ainda outro dia o deputado federal Alex Manente caiu numa armadilha mais que montada por suposta eleitora dele, que o cobrou da transferência de apoio ao prefeito Orlando Morando nas próximas eleições. Como se sabe, Manente sempre foi adversário do tucano. Nada que um sabonete de oportunidade que caia no piso de um banheiro de novos horizontes políticos não o fizesse jogar a toalha.
Agora, ontem mesmo, recebi um vídeo no aplicativo Whatsapp em que o ex-prefeito Luiz Marinho e seguranças se viram de saias justas quando um eleitor de São Bernardo não só recusou rispidamente a abordagem eleitoral do candidato como o lembrou das trapalhadas petistas tanto em casa quanto fora ao expressar desprezo ao voto no candidato.
É mais que provável que novos contratempos envolvendo outros candidatos vão disputar a parada de sucessos de vídeos mais requisitados nas redes sociais.
Batidas decodificadoras
Em Santo André, por exemplo, o bicho está pegando. Quanto mais batem em determinado candidato de oposição, no caso Ailton Lima, mais tenho certeza de que a eleição está se encaminhando ao segundo turno. Ninguém chuta cachorro morto.
A política me fascina, mas não me escraviza intelectualmente. Como sei como se fabricam ingredientes jornalísticos, nos quais a frustração ou a força do dinheiro impera em determinadas situações, conto com dispositivo decodificador das intenções por trás de nuances dos noticiários tanto regionais quando extra-regional.
Minhas avaliações são frutos próprios, mas também de filtro cuidadoso de informações de terceiros, de veículos de terceiros, do cruzamento dos veículos de terceiros.
A bem da verdade, nestes tempos de consórcio midiático antibolsonarista, mobilização que surgiu muito antes de o governo federal se atrapalhar e dificultar a divulgação de dados do vírus chinês, ficou mais fácil estabelecer juízo de valor dos acontecimentos.
Sincronia viciada
Quando se manifesta sincronia fina entre os grandes jornais, emissoras de televisão e também de sites coligados, fica mais fácil distinguir o que é verdade e o que é manipulação. O Datafolha, claro, faz parte do show de horrores em nome do jornalismo e da ciência. As pesquisas mensais para criar o ambiente de derrubada do presidente da República desapareceram ao sabor do Centrão mais próximo do inquilino do Palácio do Governo.
Acho que sou um observador atento do cenário político nacional e internacional. Tenho certo grau de conhecimento que necessariamente não aplico diretamente nesta revista digital, mas me auxilia tremendamente ao cortar caminhos de interpretação.
O jornalismo profissional das grandes empresas está completamente desfigurado. A paixão ideológica tomou conta de todos os pedaços. Deram uma rasteira no bom senso. Descartam-se especificidades. Colocam tudo no mesmo saco de gatos.
Mais barulho produtivo
Direita e esquerda são em muitas circunstâncias patéticas quando transpostas em forma de fanatismo pelos profissionais de comunicação. Muitos perderam o pudor. São empregados de veículos e viraram garotos e garotas de propaganda de determinados candidatos nas redes sociais. Confundem o pessoal com o corporativo. Claro que de caso pensado, para agradar aos patrões igualmente doutrinados a agredir os fatos.
Acho que sou mais eclético do que essa cambada toda. Já imaginaram os leitores se alguém da mídia de grande porte, que comporta profissionais de pequeno porte intelectual, dá espaço por exemplo a uma equação que vou revelar agora? Do que se trata?
Gostaria imensamente de ver o Grande ABC das eleições do final do ano levando às Câmaras Municipais novos legisladores. Gente que peitasse os prefeitos, que fizesse barulho produtivo, que não se entregasse docilmente à composição de novas maiorias, praxe na atividade em todos os quadrantes do País.
Nada mais lamentável nestes tempos do que ver a bancada petista no Legislativo de Santo André encenar oposição. A maioria está amarrada a cargos comissionados reservados pelo prefeito Paulinho Serra. Nos outros legislativos da região não há comportamento partidário tão diferente. São farinhas do mesmo saco de interesses e conveniências.
Por ter horror à política como pessoa física mas vibrar com a política como pessoa jurídica não tenho dúvida de que viverei até o fim do ano muitas emoções.
Preferências e restrições
É claro que tenho aqui e ali alguma simpatia por determinado candidato. Da mesma forma que tenho restrição a outros. Mas são porções tão rarefeitas que, garanto, não interrompem o circuito de cognitividade dentro de um padrão de responsabilidade social.
Aliás, esse é um ponto interessante que valeria a pena a atenção dos leitores. É corriqueiro no cotidiano profissional de quem não tem o rabo preso com qualquer político uma atitude de autocontrole organizacional do pensamento.
É natural que entre a isenção e a adesão a determinado candidato que supostamente seria uma extensão de meus desejos de ver um Grande ABC diferente do que está aí exista sempre a busca de equilíbrio.
A chave-mestra de sustentação da coerência é a preciosidade informativa que tenha a materialidade de fatos como ponto central.
Trajetória pesa mais
Vou traduzir o que parece hermético na frase anterior: o Paulinho Serra, o Orlando Morando, o José Auricchio Júnior e todos os demais prefeitos da atual safra do Grande ABC já estão formatados na minha cabeça. Não estão congelados, evidentemente, mas qualquer movimento que façam dentro da banda larga que é uma gestão pública, estará condicionado a uma reconfiguração avaliativa prudentemente comedida.
Ou seja: não será uma grande obra administrativa em final de mandato que alterará significativamente a ordem das coisas. Nem tampouco mais uma promessa que jamais se cumprirá ou se cumprirá longe da musculatura transformadora propagandeada. Como, por exemplo, o lançamento de um Polo Tecnológico que, por si só, não encaminhará futuro diferente à região. Será mais uma propaganda enganosa. Tanto quanto novos remendos que se projetam para a Avenida dos Estados.
Municipal e regional
A experiência me ensinou a distinguir no Grande ABC um prefeito municipalista e um prefeito regionalista. O que antes parecia redundância (e ainda o é para a maioria dos jornalistas) para mim é uma especificidade: prefeito municipal é uma coisa, prefeito regional é outra completamente diferente.
Não temos e jamais tivemos prefeitos regionais, exceto Celso Daniel. E isso para um regionalista como eu faz tremenda diferença avaliativa. Jamais um extraordinário prefeito municipal (que também não temos) será igualmente um extraordinário prefeito regional porque nesse caso não há compulsoriedade administrativa.
Para completar, lembro aos leitores que do total de textos do acervo desta revista digital (que inclui ainda parcialmente parte do legado da revista LivreMercado), apenas 8,85% estão diretamente vinculados à política. De 7.238 matérias, grande maioria de textos analíticos, apenas 641 estão vinculados ao mundo político de forma direta. Bem abaixo dos 22,50% de textos relativos à Economia, que são 1.628.
Abaixo, reproduzo as manchetíssimas dos textos de Política desta temporada. São 42 matérias. Todas de produção própria. De digitais próprias. De interpretação própria. Aqui não há espaço a declarações unilaterais como se faz no fastfoodiano jornalismo brasileiro.
Jornalismo autoral é isso: tem um tempero específico para impedir que a sociedade seja vítima do marketing de endeusamento e de demonização dos tomadores de decisão. Duvido que os leitores vão encontrar algo parecido na mídia regional.
Festival de interpretações
01/09/2020 - Experiência pode virar tiro no pé de Auricchio rumo ao tetra
20/08/2020 - Paulinho Serra vai passar ou não pelo teste das urnas?
12/08/2020 - Ailton, Fábio e Rafael vão mudar as eleições na região?
06/08/2020 - Triângulo das Bermudas é a grande ameaça a Auricchio
04/08/2020 - Síndrome da Zebra de Branco incomoda Paço de Santo André
30/07/2020 - PT vai ter bem mais votos que nas eleições municipais de 2016
29/07/2020 - Bolsonaro vale mais que Doria nas eleições municipais da região
24/07/2020 - Valerá a pena Ailton Lima contar com Aidan Ravin?
23/07/2020 - Pesquisas eleitorais: cuidado com os truques mais comuns
22/07/2020 - Bruno Daniel será extensão de Boulos em Santo André?
21/07/2020 - Qual o peso do vírus chinês nas próximas eleições municipais?
20/07/2020 - Paulinho Serra conta até com Esquerdão para evitar returno
10/07/2020 - Um time de prefeitos para você escolher quem se salva ou não
09/07/2020 - Do jeito que vai indo, vírus não pesaria tanto na conta eleitoral
03/07/2020 - Vamos especular sobre as eleições no Grande ABC?
25/06/2020 - Afinal de contas, Aidan Ravin está vivo ou morreu mesmo?
24/06/2020 - Morando interdita as vias eleitorais em São Bernardo
28/05/2020 - Doria salva a pele de prefeitos com ação gataborralheiresca
26/05/2020 - Morando é o único prefeito em vantagem na pandemia
04/05/2020 - Quem vai se beneficiar do triângulo móvel em 2022?
27/04/2020 - Quanto o Bolsonarismo vai perder sem o Bolsomorismo?
20/04/2020 - Datafolha esconde obstáculos para derrubada de Bolsonaro
16/04/2020 - Carreata proibida, cloroquina e outros ingredientes eleitorais
10/04/2020 - Imponderável e sinceridade colocam Morando no topo
08/04/2020 - Vírus põe fim à série de como conquistar uma Prefeitura
25/03/2020 - Como oposição aos prefeitos pode ganhar espaço eleitoral?
24/03/2020 - Quem está ganhando o jogo eleitoral com o Coronavírus?
16/03/2020 - Coronavírus é complicador para prefeitos em busca de reeleição
04/03/2020 - Bolsonarismo, Bolsoguedismo, Bolsomorismo e Bolsoguerismo
02/03/2020 - Quando Alex Manente vai dar um basta no Efeito-Tostines?
17/02/2020 - Ailton-Aidan pode ser melhor que Ailton Lima e Aidan Ravin
13/02/2020 - Ailton-Aidan botam fogo eleitoral em Santo André
04/02/2020 - Imprensa Impressa não é tão importante como antes
23/01/2020 - Quem ganha eleitoralmente com a debandada da Ford?
22/01/2020 - Quantos prefeitos o PT pode fazer este ano no Grande ABC?
20/01/2020 - Agenda Regional não tem peso suficiente para alterar destino
17/01/2020 - Agenda Local é quesito básico rumo ao comando de Prefeitura
15/01/2020 - Como ganhar uma prefeitura com 13 pontos que se misturam?
14/01/2020 - Marinho já tem até o mote da campanha em São Bernardo
08/01/2020 - Ailton Lima garante especialistas que Paulinho Serra só prometeu
07/01/2020 - Marinho não tem como deixar de contar com Lula na garupa
06/01/2020 - Morando vai esconder Doria no confronto com Marinho?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)