Economia

PIB da Baixada supera fácil
Grande ABC pós-Rodoanel

DANIEL LIMA - 14/09/2020

Quem ainda acha (ou finge achar ou insiste em achar porque é conveniente) que a construção dos trechos oeste e sul do Rodoanel Mário Covas não foi um presente de grego para o Grande ABC precisa prestar atenção a novos dados exclusivos: desde que o trecho sul foi inaugurado, em março de 2010, o PIB da Baixada Santista deu um salto de crescimento frente ao registrado pelo Grande ABC.  

A velocidade média anual de crescimento do PIB da Baixada Santista é muito superior ao Grande ABC. A produção de riqueza no Grande ABC foi abaixo da inflação do período. A Baixada subiu levemente.  

Já mostramos em várias análises o quando a Grande Osasco, a Oeste da Capital, massacrou a região também por ter sido beneficiada pelo traçado do Rodoanel. A competitividade econômica do Grande ABC entrou fragilizada neste novo século, por conta da desindustrialização a partir do começo dos anos 1980. E se acentuou ainda mais nas primeiras duas décadas.  

Baixa interatividade  

Não há perspectiva alguma de que o roteiro sofrerá mudanças. O estado de piora permanecerá porque a região não conta com institucionalidades que a retirem do brejo de representatividade política, econômica e social. 

O trecho sul do Rodoanel que corta o Grande ABC é pouco interativo com a economia do Grande ABC. Há salvaguardas ambientais que transformaram aquela rodovia expressa em empecilho ao Desenvolvimento Econômico dos sete municípios frente à Grande Osasco e à Baixada Santista, praticamente livres de amarras.  

O Rodoanel passa apenas tangencialmente por alguns municípios da região. No caso de São Caetano, nem isso. Sem a Avenida dos Estados em condições razoáveis e acesso dificultado à Rodovia Anchieta, que virou avenida, São Caetano é quem mais paga o pato logístico. A Grande Osasco e a Baixada Santista usufruem de aparato comandado pelo Rodoanel.  

Diminuindo a diferença  

O PIB do Grande ABC continua sendo maior que o PIB dos nove municípios da Baixada Santista. Há uma diferença populacional que ajuda a explicar o resultado, além do passado de glórias da região, cujos efeitos se esgarçam no tempo de forma gradual.  

Em 2010, quando foi inaugurado o trecho sul do Rodoanel, o PIB da Baixada Santista era de R$ 37.148.687 bilhões. Menos da metade dos R$ 84.651.291 bilhões do PIB do Grande ABC. Em 2017, último dado referencial anunciado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) dentro do PIB dos Municípios Brasileiros, a Baixada Santista registrava R$ 61.347.076 bilhões, ante R$ 118.614.542 do Grande ABC.  

Em sete anos (2011 a 2017) o PIB da Baixada Santista subiu de 43,88% para 51,71% no confronto com o PIB do Grande ABC. Uma diferença de 17,84%. A velocidade média de crescimento anual do PIB da Baixada Santista, sem considerar a inflação, chegou a 9,30 (65,14% divididos por sete anos) enquanto o Grande ABC registrou média anual de 5,48% (40,12% divididos por sete anos). O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do período foi de 62,21%. Ou seja: o PIB do Grande ABC nos sete anos pós-trecho sul do Rodoanel ficou 35,50% abaixo da inflação.  

Nove municípios compõem a Região Metropolitana da Baixada Santista. Santos é a capital daquele espaço que também conta com Praia Grande, Guarujá, São Vicente, Cubatão, Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá e Bertioga. A população é estimada em 2.048.654 habitantes. Praticamente 800 mil (ou uma São Bernardo) menos que o Grande ABC. A densidade demográfica de 846,50 habitantes por quilômetro quadrado e três vezes inferior à registrada no Grande ABC. Os 2.419.930 quilômetros quadrados de território são três vezes os 840 quilômetros quadrados do Grande ABC.  

Reviravolta da Grande Osasco  

Já mostramos várias vezes que o jogo está irremediavelmente perdido para o Grande ABC ante a Grande Osasco. O PIB dos sete municípios do Grande ABC corria a 100 quilômetros por hora em 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso e data da inauguração do trecho oeste do Rodoanel. Já o PIB da Grande Osasco, que tem Osasco e Barueri como principais endereços, corria em velocidade inferior, a 72,37 quilômetros por hora. A vantagem do carro do Grande ABC era, portanto, de 27,63%.  

Entre a base de 2002 e 2017, data do mais atualizado PIB dos Municípios, deu-se reviravolta nesse confronto. O PIB do Grande ABC avançou no período, em termos nominais, 202,23%. Já o PIB Geral da Região Oeste ou Grande Osasco (Barueri, Osasco, Itapevi, Jandira, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba e Carapicuíba) avançou 447,72%.  Isso mesmo: o dobro no confronto com o Grande ABC de sete municípios.  

Resultado? O veículo do Grande ABC que trafegava a 100 quilômetros por hora ante 72,37 quilômetros por hora dos concorrentes à Oeste da Capital, foi ultrapassado há várias temporadas: o carro da Região Oeste trafegava em 2017 a 100 quilômetros por hora, enquanto o veículo do Grande ABC não passava de 76,25. Ou seja: o que era uma vantagem de 27,63% passou, passou a ser desvantagem de 23,75%.  

Há desdobramentos sobre essas mudanças nos próximos dias.



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