O Grande ABC não conheceu o inferno do gradual e aparentemente irrecuperável empobrecimento neste século, em processo que começou no final dos anos 1980, por falta de projetos. Na edição de abril de 2000 a revista LivreMercado publicava mais uma iniciativa de agentes públicos. Ainda se respirava com entusiasmo o melhor momento da regionalidade no Grande ABC, com Celso Daniel liderando os movimentos.
Esta é a centésima-trigésima sétima edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País – os 19 anos da revista de papel LivreMercado e os 19 anos de CapitalSocial em plataforma digital.
Começa revisão
da economia
DA REDAÇÃO - 05/04/2000
A concretização dos planos da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC tem início neste mês com a contratação de pesquisas que vão servir de base para elaborar o Projeto de Estratégia de Reconversão Econômica do Grande ABC. Para entender a abrangência das intervenções pretendidas, é preciso desconsiderar tudo o que já foi feito em termos de planejamento estratégico da Câmara Regional, que resultou, recentemente, na aprovação de uma terceira série de acordos regionais.
O ponto de partida é a colaboração conjunta do PGU (Programa de Gestão Urbana) e da Agência Habitat, órgãos da ONU (Organização das Nações Unidas), recursos de US$ 159 mil do Bird (Banco Mundial) e empenho da Agência Regional. Este programa é piloto e único na América Latina e o grande interesse das organizações internacionais é poder repassar a experiência a outras regiões que demandam assistência no setor econômico.
Por meio de metodologia intitulada Consulta Urbana, essa união de esforços vai coordenar pesquisas, diagnósticos e recomendações sobre as estratégias de reconversão econômica. "Uma das primeiras atividades da Consulta Urbana será aprimorar o conjunto de levantamentos já existentes sobre o tecido econômico da região" -- ressaltou o coordenador do PGU, Ives Cabannes, durante visita ao Grande ABC no final de fevereiro. Isso significa ampliar os estudos sobre os setores informal e de serviços.
O novo material irá complementar dados existentes como a Paep (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista), os estudos encomendados pelo Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa) à Unicamp (Universidade de Campinas) sobre as cadeias química, petroquímica e automobilística, além de pesquisa do Sebrae sobre microempresas.
Outro subsídio de informações ainda em andamento é a pesquisa regional sobre a perspectiva de empregabilidade, equidade, gênero e raça. Embora a intimidade com o Grande ABC ainda esbarre na pouca convivência, o olho clínico de Ives Cabannes permite arriscar o reconhecimento de pelo menos dois pontos frágeis da estrutura econômica da região: a relação fragmentada entre os atores econômicos e a preponderância de estratégias baseadas na competição predatória, em vez de enfoque ancorado na construção de redes de cooperação entre os agentes que compõem a economia regional.
"Outro ponto nevrálgico é a articulação entre os setores modernos e os setores tradicionais da produção de serviços, bem como a articulação entre os setores formal e informal" -- adianta o coordenador.
A identificação dos pontos fracos e fortes tem nove meses para ser concluída. Os dados coletados serão traduzidos em escala de investimentos a partir das prioridades. "A expectativa é de que este planejamento traga investimentos e mudanças de impacto de longo prazo, além do período de nossa cooperação" -- diz Cabbanes.
Rever modelo
A revisão do modelo de desenvolvimento regional é o ponto central da estratégia de reconversão. Isso significa introduzir ações mais cooperativas e menos predatórias nas relações econômicas. Entre as ideias apresentadas, a que mais seduziu a coordenação do PGU é a vontade expressa da Agência Regional de buscar reconversão com alto valor agregado e não simplesmente como tecido produtivo de baixo custo e baixo valor associado. "A aposta central está na conservação da vantagem que São Paulo e o Grande ABC tiveram historicamente no desenvolvimento do Brasil e da América Latina" -- defende Cabbanes.
A performance da multiparceria terá o Instituto de Governo e Cidadania do ABC como órgão observatório local, ao qual caberá sistematizar a experiência do projeto e elaborar indicadores e metodologias que possam servir para facilitar a aplicação desse modelo de planejamento regional participativo para outras regiões do Brasil e da América Latina. À Agência Regional cabe o papel de interlocutor e articulador central do processo. Às prefeituras está reservada a participação direta e intensa, bem como o envolvimento de empresas e sindicatos.
Apesar de mostrar-se otimista, Ives Cabbanes não descarta a conjuntura problemática da região como fator de interferência no projeto. "A região verifica perdas acentuadas de postos de trabalho em setores chaves da economia. No contrapeso, há uma mobilização fantástica das lideranças que reflete consciência clara a respeito dos problemas e da pertinência de mudanças no padrão de desenvolvimento regional" -- afirma.
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