Quem poderia imaginar que um dia estaria este jornalista praticamente no mesmo passo e compasso do professor Ricardo Alvarez, psolista que teve o vislumbre de convencer Bruno Daniel a disputa a Prefeitura de Santo André? O mais correto seria dizer que o professor passou a frequentar minha sintonia social num ponto importante da economia, já que na ideologia somos água e óleo. No fundo, isso não faz grande diferença. O importante mesmo, para valer, é que a junção é providencial.
Num post em rede social, Alvarez, de quem divirjo muito porque sou um liberal com viés social e ele é um socialista empedernido, encontramos um caminho praticamente em comum, mesmo que com duas décadas de distância. Alvarez defende os pequenos negócios e não dá espaço a tergiversações, quando não a fraudes argumentativas do prefeito Paulinho Serra.
Vou reproduzir de forma intervalada o texto completo divulgado em rede social do professor da Fundação de Santo André que concorre a uma das vagas a vereador nesta temporada e alguns trechos de dezenas de matérias que produzi ao longo dos anos sobre os pequenos negócios. Mais precisamente, 194 analises em que direta ou indiretamente se encontra a expressão “pequenos negócios”. Já “empreendedores” são 950 matérias.
Vou ser mais específico. Retirarei alguns trechos da análise que publiquei para a revista LivreMercado na edição de fevereiro de 1998. Ou seja, aquele material será exposto em consonância com os enunciados do professor Ricardo Alvarez. Não é porque a distância nos separa que o alinhamento perde força. Há sempre um caminho aberto ao ajuntamento de forças em busca de maior equilíbrio social e econômico.
Troca de enunciados
Vamos então ao que escreveu Ricardo Alvarez em rede social e o que escrevi para a revista LivreMercado de dezembro de 1998:
Ricardo Alvarez
Uma das facetas da crise, que corroem a capacidade econômica de Santo André, é não saber o que fazer direito diante do processo de perda de capacidade de produção industrial. Recentemente o prefeito Paulo Tucano Rodoanel Serra apareceu em live com o Véio da Havan anunciando uma unidade na AV. Dos Estados. No final de 2019 fez a mesma coisa com uma rede de hipermercados em Utinga que, na euforia pueril, disse que era originalmente de Santo André, mas é de Guarulhos. A instalação deste equipamento cria a falsa ideia de que o problema se resolve com isso, mas ocorre exatamente o contrário. Não se trata de ser contra ou a favor destes empreendimentos, apenas observar que isso está longe de ser solução para algo que exige plano e projeto, coisa que o tucanato não tem. A jogada é de puro marketing, uma vez que cria a falsa impressão de que estas empresas de rede trazem investimentos e empregos.
LivreMercado de 1998
O império do salve-se quem puder domina os pequenos negócios do Grande ABC sem que autoridades públicas e lideranças da livre-iniciativa se movam de forma minimamente interessada. Cada novo grande empreendimento comercial ou na área de prestação de serviços que aporta na região, muitos dos quais em reformadas instalações de indústrias que debandaram, é recepcionado com entusiasmo e ufanismo só reservado aos heróis de guerra. É a indispensável modernidade que chega. As pompas variam, mas são geralmente pródigas no Poder Público, que concede facilidades de instalações de olho no bolo de receitas de impostos, muito mais concentrados e, portanto, mais fáceis de fiscalização. Ganham os consumidores, que passam a contar com conjunto cada vez mais completo de produtos e serviços, cujos preços refletem a competição pelo terceiro potencial de mercado consumidor do País. E os pequenos e tradicionais comerciantes de rua e prestadores de serviço, estimados em perto de 40 mil pontos de negócios? A cada nova inauguração de hipermercado, supermercado, grandes redes de autopeças, de móveis e de material de construção, o pequeno empreendedor amarga retração no caixa e engrossa a lista de mortalidade empresarial.
Ricardo Alvarez
As famílias tem uma capacidade de gastos delimitado por seus rendimentos, arrochados em tempos de pandemia. Um novo hipermercado faz com que ocorra apenas uma troca onde o consumidor faz suas compras. Em outras palavras, pontualmente o hipermercado venderá mais, mas haverá o abandono de antigos pontos de comércio e, na soma geral, o resultado é pior que zero. Os empregos gerados num lugar saem do outro, a circulação de mercadorias e a geração de tributos é a mesma e a média salarial destas lojas de redes é apenas um pouco acima dos salários pagos localmente. Peguemos o caso do Naguno em Utinga. Sua instalação arrebentou o mercado vizinho que funciona há 40 anos o bairro e agora vive grave crise diante da concorrência desleal. O mesmo acontece com o açougue, a padaria, o bar, a mercearia e o verdureiro.
LivreMercado de 1998
A legislação de uso e ocupação do solo é permissiva o suficiente para canibalizar os negócios não só diante da chegada de empreendimentos gigantes como também pela multiplicação desordenada, desorganizada e desesperada dos pequenos. A nordestinização dos negócios na região é realidade cada vez mais palpável. Entenda-se por nordestinização o fenômeno de abertura de pequenos empreendimentos principalmente por parte de desempregados da indústria. Garagens de veículos transformam-se em mercearias, bares, lanchonetes, pizzarias, locadoras de fitas de vídeo, açougues, cantinas. Quem conhece algumas das principais Capitais nordestinas entende a analogia, porque proliferam o comércio e a prestação de serviços de subsistência. Diadema, Município de migrantes nordestinos, é o que mais se aprofunda nesse perfil, mas os demais caminham na mesma direção. Até o aparentemente nobre São Caetano. Com a nordestinização, incham-se as estatísticas do empreendedorismo na região, porque os registros de novas pequenas empresas resplandecem. Trata-se, como se sabe, de falsa equação de desenvolvimento, interessante para discursos demagógicos, já que a locomotiva industrial, força motriz econômica, cada vez mais reduz o universo de unidades e de colaboradores.
Ricardo Alvarez
Coloque na prancheta os prós e contras e verá que o resultado dá negativo, sabe por que? Os lucros deste hipermercado serão remetidos para a sede situada fora de Santo André, ao passo que as famílias que sustentam o comércio local há décadas era reinvestido na cidade. Fotos e selfies na inauguração da loja contrastam com a dura realidade de que o capitalismo monopolista vai atropelando quem vê pela frente, inclusive outros capitalistas. A coisa piora quando o chefe de plantão da prefeitura facilita as coisas.
LivreMercado de 1998
A invasão varejista começou discretamente há uma década, quando de fato iniciou-se a descoberta comercial do Grande ABC por grandes logomarcas, com a chegada do então Shopping Mappin ABC. O empreendimento rompeu a fita de largada de uma corrida cada vez mais célere e que ultimamente, por excesso de liberalidade e escassez de planejamento, ganha a forma de estupro econômico. Nos primeiros tempos, a absorção de profissionais dispensados pela indústria fugidia abrandou o impacto do desemprego. Mas, de alguns anos para cá, o ritmo de valsa do emprego no varejo, e também no setor de serviços, foi sufocado pelo frenesi da timbalada do desemprego industrial. Só há um ano o Poder Público da região abriu espaço para Secretarias voltadas à área econômica, as quais têm-se dedicado a megatemas locais e regionais, não a especificidades do mercado comercial. As entidades de classe, às voltas com universo de prestação de serviços que possam mantê-las de pé, não reúnem forças, estratégia e nem ressonância para ações de integração de comerciantes e prestadores de serviços endemicamente individualistas, voltados para seus próprios umbigos, até porque a maioria desconhece ou negligencia instrumentos metodológicos frutíferos.
Cantilenas de sempre
O que mais lamento nesta altura do campeonato é saber pela postagem de Ricardo Alvarez que o prefeito de Santo André continua a repetir surradas cantilenas demagógicas que colocam a Economia de Santo André num patamar diferenciado do que se registra na região como um todo e cuja trajetória é longeva. Ou seja: transformar inauguração de estabelecimentos comerciais em festa de arroubos de Desenvolvimento Econômico.
Fala grandeza ao prefeito de Santo André. Sobretudo porque jamais pesou sobre ele a individualização e a exclusividade de ter colocado Santo André no acostamento desenvolvimentistas. Nestas páginas jamais me referi a Paulinho Serra como um prefeito que afundou Santo André. Até porque, o afundamento vem do passado. O que temos é a continuidade passiva. Sempre insisti nessa tecla porque, diferentemente do que se vê na chamada Grande Mídia, responsabiliza-se o presidente da República de plantão por rescaldos que veem do passado, como se não houvesse passado. Paulinho Serra não peca porque herdou o passado de passivos econômicos de Santo André. Paulinho Serra erra porque faz da herança um jogo de cena de negacionismo estúpido.
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