Tenho sérias dúvidas sobre o modelo que será apresentado, mas não custa ter expectativa razoavelmente positiva. Como será o Conselho Consultivo do Diário do Grande ABC que o diretor-superintendente Marco Bassi pretende anunciar e botar para funcionar? Entre as muitas dúvidas que tenho é saber se o Conselho Consultivo será do Diário ou da Sociedade. Se for do Diário, é melhor não ter. Pelo menos em se tratando de envolvimento no produto editorial.
Relutei em escrever hoje sobre esse assunto. Estava com o vírus chinês na alça de mira em abordagem interessante. Preferi deixar para outro dia -- até porque não perde a vez. O resumo do texto sobre o Coronavírus seria a condescendência generalizada com casos letais. Não seria o primeiro texto a respeito. Mas a repetição com novos ingredientes sempre deve ser levada em conta numa situação de preocupação generalizada.
Mas, voltemos ao Conselho Consultivo do Diário do Grande ABC. Se ficar a cargo de Marco Bassi, apenas a cargo de Marco Bassi, como ficou sob minha decisão o Conselho Editorial que deixei pronto e já atuante no Diário do Grande ABC em 2005, o resultado será ruim.
Dois modelos em jogo
Marco Bassi não é um profissional de comunicação. Não tem a menor ideia do que seja jornalismo diário. Precisa, portanto, ter a humildade de ouvir quem está no front da Redação do Diário do Grande ABC. E eventualmente outros agentes da área. Não é o meu caso, porque não preciso ser ouvido. Basta, se quiser, ler o que escrevo. E o que já escrevi.
A diferença entre um Conselho Consultivo do Diário e um Conselho Consultivo da Sociedade é que o primeiro enxergaria um quarto escuro pelo buraco da fechadura de exclusivismos e corporativismos, quando não outros ismos. O Conselho Consultivo da Sociedade escancararia um portal de informações e vivências que contribuiriam imensamente a mudanças na linha editorial e no ambiente regional.
Resta saber, nesse primeiro ponto, se a definição por um Conselho Consultivo da Sociedade será peça de carpintaria da cidadania para valer ou um jogo de cartas marcadas, para dar aparência de democracia controlada a algo que não passaria de embuste de marketing.
Compromisso social
Traço a diferença entre uma coisa e outra. O que chamo de “democracia controlada” não é outra coisa senão o Conselho Consultivo formado por especialistas em diversas áreas e setores (como o Conselho Editorial que deixei para o Diário e os conselhos consultivos e editoriais que criei na revista LivreMercado a partir de 1994).
Mas não é somente isso. A “controlada” designativo de “democracia” significa que o comandante da tropa precisa ter um olhar para o conjunto da obra editorial do jornal que, por sua vez, estaria amarrado a um planejamento estratégico. Foi o que ancorou todos os conselhos consultivos e editoriais que criei. Sem isso, teremos um Exército de Brancaleone institucional.
O que chamo de “embuste de marketing” é o fingimento programado de um jogo de faz-de-contas em que conselheiros consultivos seriam frutos de um plano que desconsideraria vetores essenciais e se fixaria em articulações institucionais que, como se sabe, tratarão tudo com o sentido implícito de parecer reformista, mas de fato se cristalizaria como mais um curral de decisões viciadas.
O novo executivo do Diário do Grande ABC precisa me convencer como jornalista (mesmo que essa missão não lhe diga absolutamente nada, porque sou um regionalista idiota) de que está no mercado de informações para valer, com compromisso social -- ou seria mais uma peça de uma engrenagem depauperadora que já dura décadas de um ambiente de falsificações institucionais.
Fábrica de cultura
Traduzindo tudo isso, o que quero dizer, e agora de forma transparente, pouco refinada, mas com o mesmo sentido de compromisso social que o jornalismo impõe, é o seguinte: Marcos Bassi será apenas um vértice de um jogo de cena de mudanças que não mudariam nada ou vai entrar para valer na tempestade de empobrecimento do Grande ABC (em todos os sentidos do termo) ao longo de décadas?
Fosse o Diário do Grande ABC uma fábrica de panetone, de linguiça, de laticínios ou de macarrão, não dedicaria uma linha sequer ao anúncio de que pretenderia compor um conselho de consumidores. Como o Diário do Grande ABC e todos os veículos de comunicação têm o quinhão de imbricamento social inerente à atividade, a formação de um grupamento de consumidores de informação é assunto que transcende as entranhas internas da empresa.
Espero que esse preceito que vem do passado e se fortalece numa sociedade cada vez mais participativa em retórica, embora desorganizada e polarizada, seja levado a campo de jogo. Sofreria um grande baque se houvesse um rebaixamento nas expectativas que já precifiquei. E olhem que as expectativas que já precifiquei são de um valor mais que comedido, porque gato escaldado de conteúdos glorificados tem medo de água fria de anúncios reformistas.
Questão de especialidade
Não acho, sinceramente, que Marcos Bassi tenha sintonia fina com os preceitos do jornalismo. Seria um fenômeno profissional se, acadêmico voltado à academia (com perdão da redundância) e também para a politica-partidária, contabilizasse entre requisitos reverenciados uma porção expressiva de intimidade com a prática da comunicação social. Da mesma forma (até para não dizerem que estou cometendo crime de presunção), certamente estaria inabilitado, este jornalista, a assumir uma reitoria universitária. São mundos diferentes. Mais diferentes do que imaginam os pobres mortais.
Os leitores não têm ideia do quanto já escrevi ao longo da vida profissional sobre conselhos editoriais e conselhos consultivos que, no fundo, são a mesma coisa. Quando determinado noticiário parece ser uma novidade aos leitores, abasteço o tambor de minha pistola editorial para lembrar que, por força do ofício que abracei a longa data, não há como não ter metido a colher de chá no temário aparentemente inédito. Só de Conselho Editorial, de forma substantiva ou acessória, há nesta revista digital nada menos que 177 textos. Já “Conselho Consultivo” conta com 159 registros.
Alma distante
Agora, respondendo mais diretamente ao enunciado da manchetíssima acima, sobre a possibilidade de o Conselho Consultivo do Diário do Grande ABC tornar-se ponto de inflexão (de regionalismo), o que posso antecipar é que se fizer tudo certinho, obedecendo aos rigores de uma democracia controlada, sem maiores equívocos na composição do quadro, Marco Bassi terá dado um passo em direção não à confirmação de que o jornal é a alma do Grande ABC, como anunciou na semana passada.
O professor poderia, sim, contribuir imensamente para começar a colocar as peças de uma regionalidade nos devidos lugares. Mais que isso: ajudaria também no descarte de elementos estranhos aos conceitos de integração regional. Gente de quinta categoria que ocupa cargos supostamente importantes no Poder Público, na livre-iniciativa e em entidades sociais.
Essa gente, professor, precisa ser retirada do tabuleiro de estorvos que bloqueiam todas as tentativas de dinamitar o provincianismo que nos estiola.
A missão do professor é formar um Conselho Consultivo que além de seletivo nas escolhas, seja dinamitador nas não-escolhas.
Reproduzo, na sequência, duas matérias publicadas pelo Diário do Grande ABC, em novembro e em dezembro de 2004, sobre o Conselho Editorial que deixei de herança e que foi dissolvido com minha saída. Coisas do futebol. Do futebol metafórico, claro!
Diário do Grande ABC
prepara Conselho Editorial
Do Diário do Grande ABC -- 21/11/2004 | 11:31
O Diário do Grande ABC começa a selecionar a partir desta semana os membros do Conselho Editorial. A instância integra o Planejamento Estratégico Editorial aplicado desde julho último e cuja primeira fase se estenderá até o cinquentenário do jornal, em 2008. Para o diretor de redação, Daniel Lima, a formação de um grupo de colaboradores, especialistas em diferentes áreas de atividades no Grande ABC, permitirá ao jornal elevar o grau de qualificação de informações e consolidará ainda mais o conceito de regionalidade no bojo da metropolização da qual fazem parte os sete municípios da região.
O Conselho Editorial do Diário vai diferir de modelos conhecidos porque não será análogo à reserva exclusiva de postos aos próprios executivos e acionistas da empresa nem tampouco a representantes da comunidade definidos por critérios que reproduzam o perfil socioeconômico dos leitores.
A novidade do Diário é que o Conselho Editorial será a multiplicação de conhecimentos de especialistas em diferentes atividades. Uma das condições para integrar o organismo é que os membros tenham efetivo enraizamento regional.
A previsão é de cada conselheiro ter mandato de 12 meses a partir da posse, com possibilidade de renovação por período subsequente de tantos 12 meses quantos forem necessários.
Um dos pontos que determinarão a renovação do mandato dos conselheiros é o grau de efetividade, entendido como a associação de assiduidade participativa e adensamento de conteúdo.
A projeção é de que o Conselho Editorial vai se reunir a cada 30 dias. Um núcleo de pelo menos 10 temários que envolvam a regionalidade do Grande ABC em diferentes dimensões será priorizado numa primeira etapa de encontros com os conselheiros. “Nossa expectativa é de que poderemos transpor regularmente para as páginas do jornal, em última instância para abastecer a fome de informação dos leitores, uma variedade de artigos e informações de membros do Conselho Editorial. Além disso, os encontros mensais permitirão a socialização de questões essenciais para o desenvolvimento econômico e social do Grande ABC”, afirma Daniel Lima.
Os membros do Conselho Editorial do Diário constarão oficialmente do expediente do jornal. Haverá espaço também para convidados cuja participação permitirá maior produtividade nos encontros mensais.
Um exemplo é a possibilidade de um temário como o trecho sul do Rodoanel, potencialmente favorável à reestruturação industrial do Grande ABC, contar com especialista para debater com os membros do Conselho Editorial.
A perspectiva traçada pelo Planejamento Estratégico Editorial do Diário incentivará a realização dos encontros mensais do Conselho Editorial como ampla janela para a inserção dos problemas metropolitanos que atingem diretamente os municípios da região. “A diversidade dos integrantes do Conselho Editorial será peça chave de um mosaico de integração regional e contribuirá grandemente para fazer emergir o senso de regionalidade que nos falta”, afirma o diretor de redação do Diário, autor de dois livros sobre o assunto, ‘Complexo de Gata Borralheira’ e ‘República Republiqueta’.
A direção de redação do Diário acredita que o formato do Conselho Editorial revolucionará as relações do jornal com a comunidade, na medida em que tornará mais constante e profícuo o relacionamento do próprio quadro de jornalistas da publicação com os especialistas convidados e estes, por sua vez, finalmente encontrarão com regularidade um canal de expressão de conhecimentos.
Preparado em março deste ano, e aplicado desde julho, o Planejamento Estratégico Editorial é um projeto inicialmente voltado para o cinquentenário, que o Diário comemorará em 2008. O processo está centralmente relacionado à prioridade de a publicação envolver-se fortemente com a comunidade tecnicamente mais expressiva em suas respectivas especialidades para disseminar conceitos de cooperativismo, regionalismo e metropolização.
Pelo menos três dezenas de especialidades contarão com pelo menos um profissional nos quadros do Conselho Editorial. Atividades como ambientalismo, urbanismo, química, petroquímica, plástico, cosmético, judiciário, saúde, educação, esporte, legislativo, administração pública, carga tributária, entre outras, contarão com representantes.
O Diário vai convidar para o Conselho Editorial vários membros do Conselho do Leitor, experiência de extroversão editorial que se encerrou em outubro último.
Agora já são 27 os especialistas
do Conselho Editorial do ‘Diário’
Do Diário do Grande ABC -- 12/12/2004 | 12:03
Mais sete membros do Conselho Editorial do Diário estão sendo anunciados neste domingo. Agora são 27 especialistas em diferentes atividades que integram a relação dessa inovadora instância de relacionamento deste veículo com a comunidade do Grande ABC. Nas duas rodadas anteriores foram anunciados 20 profissionais. A perspectiva é que até 20 de fevereiro pelo menos meia centena esteja oficialmente relacionada. A posse dos conselheiros está programada para a noite de 22 de fevereiro, no Teatro Municipal de Santo André, em festa que reunirá 450 convidados.
O Conselho Editorial é um dos pontos mais importantes do Planejamento Estratégico Editorial que o Diário está aplicando com vistas às comemorações de seu cinquentenário de fundação, programadas para 2008. Outras iniciativas de cunho corporativo-redacional já estão sendo executadas.
A expectativa do Diário com a composição do Conselho Editorial envolve pelo menos dois desdobramentos: os leitores terão a possibilidade de capitalizar os conhecimentos específicos de profissionais das áreas mais relevantes de atividades humanas e os conselheiros terão a oportunidade de integrar-se em temários exclusivos que colocarão a regionalidade do Grande ABC como prioridade absoluta.
Uma terceira vertente marcará o relacionamento mais estreito e sistemático entre os conselheiros e a redação do Diário em abordagens que exijam fontes especialmente confiáveis e densas de informação.
A característica em comum entre os conselheiros convidados, além das especificidades em suas respectivas atividades profissionais, é que todos têm atuação prevalecente no Grande ABC. A estrutura conceitual do Conselho Editorial está centrada na relevância da experiência de cada um dos titulares em questões que possam responder às demandas de qualificação da informação regional.
Os novos conselheiros são os seguintes:
Uriel Carlos Aleixo, mestrando no Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é coordenador geral dos exames da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Grande ABC. É advogado militante desde 1990 e sócio-diretor do escritório Ochesenhofer Aleixo Advogados do Brasil. Também é professor contratado pela Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo), campus ABC, na disciplina de Direito Processual Penal.
M Milton Bigucci é membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, autor de vários livros, membro titular do Conselho Municipal de Emprego de São Bernardo, vice-presidente do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis do Estado de São Paulo), membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo. É advogado formado pela USP (Faculdade de Direito de São Paulo). Também é diretor da Construtora M. Bigucci.
Valmor Bolan é professor universitário, sociólogo, radialista. Graduado em Filosofia no Brasil, em Mariologia e Teologia em Roma. Doutorado em Sociologia, avaliador do MEC desde a década de 80. É articulista semanal e autor de centenas de artigos científicos e de divulgação em jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Desde 1973 ocupa cargos de gestor universitário, vice-diretor de faculdade, diretor de faculdade, diretor de curso, superintendente de campus e vice-reitor e reitor. Também atuou como orientador e membro de inúmeras bancas de mestrado e doutorado em instituições públicas e privadas de ensino superior.
Marcos Antonio Baradel é empresário e coordenador do Grupo de Ferramentaria do Arranjo Produtivo do Grande ABC, projeto da Agência de Desenvolvimento Econômico que conta com apoio técnico e financeiro do Sebrae-São Paulo. É sócio-diretor de três empresas (Ecus ABC, Ecus Usinagem e Ferramentaria e Ecus Injeção) que atuam nas áreas de ferramentaria, autopeças e transformação de plásticos. Aos 15 anos deu início a sua formação técnica no Centro de Formação Profissional da Volkswagen, coordenado pelo Senai. Formou-se técnico em ferramentaria e desempenhou a função por 14 anos na Volkswagen. Em 1987 passou de operário a empresário ao criar a Ecus com mais dois sócios. Como coordenador do Grupo de Ferramentaria da APL do Grande ABC, sua função é trabalhar para o desenvolvimento industrial da região, especialmente nas pequenas e médias empresas.
Sonia Lima é geógrafa, formada pela USP em 1976. Especializou-se em planejamento urbano e em saneamento ambiental. Funcionária licenciada da Emplasa (Agência Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo), é membro do Instituto de Cidadania e Desenvolvimento Humano Dignitas, presidente do Centro de Estudos de Saneamento Ambiental Água e Vida e diretora de Meio Ambiente da Prefeitura de São Bernardo.
João Carolino Ramos é empresário da construção civil há 15 anos. Proprietário da JCK Construtora e Incorporadora e João Carolino Projetos e Construções, é formado em Engenharia Civil e Matemática, com curso de especialização em estruturas de aço pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e curso d’Architecture e Urbanismo pela Université de Paris, Sorbonne. Professor da rede estadual de ensino, Senai e universitário por 12 anos, foi diretor da Associação da Criança Cidadã do Futuro e fundador do Rotary Clube Campestre. É diretor da Associação dos Amigos da Polícia Militar do Grande ABC. Também é maratonista.
Angelo Gaiarsa Neto é presidente da Gaiarsa & Associados, consultoria empresarial com mais de 100 clientes no Brasil e na Argentina, atuando nos últimos 15 anos como consultor em Tecnologia da Informação. Conferencista e articulista, tem colaborado na imprensa especializada. Contabilista e administrador de empresas, possui vários cursos de especialização no Brasil e no exterior. Vivenciou todas as fases da informática no Brasil, desde os anos 1970. Foi pioneiro na implantação de novas tecnologias nas empresas onde prestou serviços. Rotariano há 14 anos, tem prestado serviços como dirigente de diversas entidades ligadas ao Rotary Clube de Santo André, instituição que preside no biênio 2004-2005.
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