O Fórum da Cidadania foi o maior (e também o mais decepcionante) movimento social da história do Grande ABC quando se tem como ponto central de avaliação a multiplicidade de instituições. A entidade fundada em meados dos anos 1990 sempre foi prioridade da revista de papel LivreMercado. Acompanhamos toda a trajetória do Fórum da Cidadania. E acumulamos a vantagem de não constar nem mesmo informalmente das conjecturas que o catapultaram ao cenário regional.
Chegamos, como LivreMercado, quando o pontapé inicial já houvera sido dado, em forma da campanha “Vote no Grande ABC”. Tratou-se de uma vantagem e tanto. Sem sentimento paternalista, ficou mais fácil observar o cenário com certa equidistância analítica.
Esta é a centésima-trigésima-nona edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, uma junção dos 19 anos de LivreMercado e também de 19 anos de CapitalSocial.
Cafu quer figurino
muito mais moderno
DANIEL LIMA - 05/04/2000
Não é o caso de passar uma borracha nos cinco de história do Fórum da Cidadania do Grande ABC, porque não se pode tratar como sucata uma entidade que ajudou a revolucionar as relações institucionais na região. Mas que a trajetória da instituição vai ser reprocessada, não resta dúvida. Confirmando entrevista a LivreMercado de novembro, o coordenador-geral Carlos Augusto César Cafu conseguiu aprovação da plenária para mudar a organização.
A estrutura inchada, pouco produtiva, nada sistêmica e exageradamente personalizada deverá ser desativada com a extinção dos 12 grupos temáticos. Restaram apenas cinco megagrupos. A expectativa é que o Fórum deixe de ser espécie de estatalzinha e se tome de fato corporação transformadora de uma região cada vez mais complexa.
O sindicalista Carlos Augusto César Cafu só não sabe se continuará mais um ano no cargo, já que foi eleito para período de apenas 12 meses. Cafu garante que não tomará a iniciativa de pleitear a extensão do mandato. O ambientalista Fábio Vital exercita a alternativa de sensibilizar o eleitorado. O Fórum da Cidadania conta com 108 entidades filiadas. Chegou a 110 no mandato de Silvio Tadeu Pina. Com Cafu, 15 foram desfiliadas e outras 13, agregadas. Nenhuma outra entidade é tão expressivamente forte na região.
Quantidade e qualidade
O problema do Fórum está exatamente em não saber tirar o sumo da quantidade em favor da qualidade. Virou uma Torre de Babel que durante o mandato de Cafu mais que duplicou a média de entidades representadas nas assembleias quinzenas. "Chegamos a 46 por plenária, em média" -- contabiliza Cafu.
Os cinco megagrupos do Fórum abarcarão todas as atribuições dos 12 grupos anteriores. Desenvolvimento Regional Sustentado, Gestão de Políticas Públicas, Articulação Política e Institucional, Fortalecimento e Capacitação dos Filiados e Direito e Cidadania são espécies de secretarias executivas cuja funcionalidade vai depender não só do pragmatismo que tem faltado ao Fórum, mas principalmente da sinergia.
A entidade finalmente descobriu que uma sociedade é composta de vasos comunicantes de áreas só aparentemente distintas. O próprio Cafu dá exemplo disso: "Não dá para tratar do problema da mortalidade infantil sem passar pelo saneamento básico, sem chegar a gestão pública, sem discutir o modelo de administração do setor de saúde, entre outras coisas". Elementar e inadiável.
Pecados capitais
Um dos pecados capitais do Fórum da Cidadania, que completou cinco anos de atividades em 16 de marco último, é ter substituído animação por operação. O Fórum perdeu o foco de que é uma espécie de agência mobilizadora e não executora. Seu norte deve ser a cobrança de ações práticas nas mais diversas atividades. A responsabilidade de dar respostas às demandas da sociedade, a qual representa, é do Poder Público. Para isso recolhe tantos impostos.
É possível que o reenquadramento do foco do Fórum da Cidadania finalmente se converta em fatos porque, além da repaginação estrutural dos grupos temáticos, o Conselho Consultivo terá nova configuração programática e novos integrantes. Em vez de órgão praticamente figurativo, a proposta de Cafu é tornar o Conselho Consultivo propositivo.
Aos quatro atuais integrantes, os ex-coordenadores do Fórum (Wilson Ambrósio da Silva, Fausto Cestari, Marcos Gonçalves e Silvio Tadeu Pina), vão se juntar provavelmente outros 11 membros, definidos por Cafu como de notório conhecimento da realidade regional. Reuniões a cada início de mês, estabelecendo-se diretrizes que seriam recomendadas aos grupos temáticos, dariam ao Conselho Consultivo a vida ativa que jamais teve. Cafu também quer estabelecer índice de participação dos membros do CC nas reuniões programadas, para estimular o compromisso com a entidade, e acabar com a vitaliciedade estatutária de ex-coordenadores.
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