Imprensa

30ANOS: sindicalismo dá
sinais de enfraquecimento

DANIEL LIMA - 02/10/2020

Na edição de maio de 2000 a revista LivreMercado mostrou o que se passou na festa universal dos trabalhadores. E os sintomas eram evidentes: o sindicalismo arrefecia. Perdia o fôlego. O esgotamento colocava as lideranças de classe em confronto com a realidade.  

Esta é a centésima-quadragésima-quinta edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País, uma junção de LivreMercado de papel de CapitalSocial digital. Uma combinação perfeita que afugentava qualquer possibilidade de narrativas oficiais em forma de jornalismo.   

Mobilização?

Só com sorteio 

 DA REDAÇÃO - 05/05/2000 

Coitado do sindicalismo brasileiro... virou Show do Milhão. Acossado pelo desemprego, que só no Grande ABC atinge 238 mil pessoas, o movimento que mudou a cena política do País nas décadas de 70 e 80 comportou-se como doente em fase terminal nas comemorações de 1º de Maio de 2000. Símbolo de uma era em que líderes como Lula e Vicentinho mobilizavam milhares de trabalhadores e paravam fábricas com simples estalar de dedos, o Estádio Primeiro de Maio, na Vila Euclides, ficou praticamente às moscas na festa promovida pela CUT em São Bernardo.  

Estiveram presentes apenas 15 mil pessoas, ou menos de um terço do que previa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho. Pior: ao invés de trabalhadores mobilizados para esbravejar contra o desemprego e reivindicar salário-mínimo digno, o estádio foi ocupado principalmente por adolescentes mais interessados em balançar o corpo ao som de artistas como Lobão, Jorge Benjor e Thaíde & DJ HUN. 

Sucesso de frequência, mas nada edificante sob o ponto de vista da chamada luta sindical, foi a festança promovida na Zona Norte de São Paulo pela Força Sindical. Quase um milhão de pessoas se apinharam na Praça Campo de Bagatelle. Mobilização? Quem dera... Para seduzir toda essa gente a Força Sindical valeu-se de expediente questionável: sorteou cinco apartamentos, 10 carros zero-quilômetro e eletrodomésticos. Além disso, juntou-se a uma rádio FM de alcance popular e promoveu shows de bandas de pagode com participação de atores de novelas globais. Palavras-de-ordem foram substituídas por gritos histéricos de fãs. 

Movimento esvaziado 

Quem acompanha as transformações do movimento sindical brasileiro na era da globalização, do pós-indústria e do desemprego recorde sabe que não há novidade no que aconteceu em 1º de Maio. Sem o Show do Milhão, a Força Sindical se veria numa Praça Campo de Bagatelle tão deserta quanto o mitológico Estádio de Vila Euclides. O movimento esvaziou. Trabalhador empregado faz silêncio para se preservar. Desempregado tem pouca esperança de voltar para a fábrica e, acuado, busca espaço na economia informal. O livro Destino do Sindicalismo (Editora Edusp), de Leôncio Martins Rodrigues, do Departamento de Ciências Políticas da Unicamp, já alertava: "as características gerais da sociedade pós-industrial abrem pouco espaço para a atividade sindical". 

O desemprego mantém-se em proporções planetárias no Grande ABC e números levantados em pesquisas exigem interpretação criteriosa. É o caso da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), que indica queda de 2,8% na taxa de desemprego em março de 2000 em comparação com o mesmo mês em 1999. A baixa contrasta com crescimento de 2,5% na taxa de desemprego entre fevereiro e março deste ano porque nove mil pessoas foram incorporadas à chamada PEA (População Economicamente Ativa). Como só foram criados dois mil postos de trabalho no período, há mais sete mil pessoas procurando trabalho. O desemprego soma 20,5% da PEA no Grande ABC, depois de ter se aproximado dos assustadores 23% da Espanha. O país ibérico conseguiu reduzir a taxa drasticamente, para 12%, com a criação de leis que flexibilizam o trabalho.



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