Diferentemente da maioria dos acadêmicos, pretensos conhecedores do Grande ABC, mas que não passam de escravos de conceitos fundidos demais à ideologia e ao romantismo, vou direto ao que interessa antes que as urnas sejam objetos de adoração e de ódio em novembro próximo.
Vou fazer breve lista de 10 megatarefas que deveriam ser prioridade de quem venha a ser eleito ou reeleito nos sete municípios locais. Pesa sobre os atuais prefeitos a realidade de não fizeram nenhuma lição das sugeridas. E na história do Grande ABC, apenas Celso Daniel soma pontos em vários quesitos apresentados logo abaixo.
O pressuposto desses 10 mandamentos sagrados para o futuro do Grande ABC é a competitividade econômica, raiz de todos os problemas e soluções a partir deste começo de terceira década do novo século.
Meio século de perdas
Uma terceira década que, se repetir as duas anteriores, será ainda mais devastadora à região. Perdemos 20 anos neste século, depois de ratear durante as duas últimas décadas do século passado. Caminhamos, portanto, para meio século de transfigurações econômica e sociais. Não é possível que essa derrocada continue a prevalecer. Temos individualidades sociais que se perdem no emaranhado de interesses grupais provocadores de estrondos coletivos.
Deem uma olhadela na lista de 10 megaproblemas que se apresentam ao Grande ABC neste final de 2020 e que, claro, emergiram no passado mais remoto e avançaram no passado mais recente.
Sem enfrentar as questões colocadas abaixo, as próximas gerações terão um Grande ABC mais parecido com a média brasileira, quando, lá atrás, até os anos 1970, éramos um território privilegiado em qualquer tipo de comparação e, principalmente, em projeção do futuro que chegou e nos colheu desorganizados, divididos e metidos a besta.
Quesitos desafiadores
Agora, reparem na lista de problemas complexos que se segue como bússola e desafio aos agentes privados, públicos e à sociedade em geral que se preparam às eleições do mês que vem:
Parafernália tributária.
Ambientalismo improdutivo.
Logística estrangulada.
Mobilidade urbana caótica.
Mobilidade social reversa.
Identidade roubada.
Privilégios corporativos.
Centralidade automotiva.
Institucionalidade conflitiva.
Reestruturação produtiva.
Nos últimos 30 anos de LivreMercado e de CapitalSocial (e mais que isso se forem contabilizados os anos de Agência Estado, que abastecia o Jornal da Tarde e o Estado de São Paulo), escrevi muito sobre tudo isso que está aí logo acima.
Mas há sempre uma inovação a tornar o material menos repetitivo ou mais inclinado ao ineditismo. A dinâmica econômica e social regional, que sofre profundas interferências externas, nacional e internacional, exige atenção permanente. A bola roubada de uma Ford que vai embora proporciona um contragolpe no movimento das pedras automotivas nem sempre detectado de imediato.
Sem hierarquia
Por essas e por outras garanto que nos próximos tempos, ao me debruçar brevemente sobre cada um desses alicerces de transformações, procurarei aprofundamentos contextualizados ao momento que vivemos.
Não me peçam para estabelecer hierarquia das 10 megatarefas que se apresentam porque seria um desafio enorme que teria como desenlace prováveis incoerências. Até porque, a ordem dos fatores não vai alterar o produto final.
O conjunto de 10 questões integra o mesmo organismo, vivem o mesmo ambiente, estão, portanto, no mesmo patamar de prioridade. O desbalanço poderia gerar novas complicações.
Exemplos práticos
Querem um exemplo: como definir que mobilidade social é mais importante que mobilidade urbana se em algum ponto do futuro haveria infiltrações mútuas?
Quanto mais famílias de classe pobre e de miseráveis houver no Grande ABC (e este tem sido um século de avanço sistemático da exclusão social), mais a demanda por transporte público de massa estará em conexão e potencialidade com o rebaixamento da estrutura de famílias ricas e de classe média tradicional, como tem ocorrido na região, as quais demandarão mais serviços de transporte público.
Outro exemplo de que a lista de 10 grandes problemas a serem superados para que o Grande ABC ganhe competitividade interna e relativamente a outros endereços está nos quesitos relativos à centralidade automotiva e à desigualdade salarial.
As duas questões são metade da mesma laranja de complicações ao equilíbrio socioeconômico regional. Longe de mim imaginar o igualitarismo burro dos socialistas de araque, porque a meritocracia deve ser sempre defendida como fator de tração econômica. Entretanto, no caso do Grande ABC o fosso é muito mais profundo do que em outros territórios nacionais por conta de privilégios adquiridos à custa de terceiros.
Capacidade em falta
As 10 megatarefas que coloco aos senhores dos votos e aos senhores formadores de opinião são, portanto, um imenso portal rumo à definição de projeto de recuperação econômica e social do Grande ABC.
Nada que se prenda a teorias de acadêmicos em larga escala pouco afeitos à dinâmica econômica que tenha o capitalismo privado como agente de mudanças.
Cabe ao Poder Público o que insistentemente escasseia no Grande ABC e no País como um todo: a capacidade de organizar o espaço territorial municipal e regional como espécie de empreendimento social negociado em bolsa de valores de qualidade de vida.
Sem essa perspectiva de ocupação do espaço regional é praticamente impossível acreditar em qualquer movimento de redução dos danos e, em seguida, encetar alguma coisa que possa ser catalogada como recuperação retroalimentadora.
Mediocridade desafiada
Minha sugestão aos leitores mais impacientes ou exigentes ou indignados com a paralisia regional é que aguardem a sequência de textos que procurarão dissecar cada um dos pontos listados. Nada aprofundado demais, além do necessário.
Há várias maneiras de dar tratamento às questões expostas. Acredito que a principal nesta altura do campeonato resulte da união de pragmatismo informativo e consistência analítica. Não é preciso, portanto, dar a volta ao mundo para identificar, qualificar, mensurar e prospectar ações que alterem o rumo regional.
Os 10 pontos cardeais dessa nova empreitada não passam de reciclagem dos 30 anos que me mantenho à frente do jornalismo no Grande ABC. Que se somam à atuação como profissional em vários veículos de comunicação e nos quais jamais assinei ou produzi qualquer matéria de conteúdo que ferisse minha consciência.
A abordagem que virá em termos cronológicos erráticos até o fim deste ano (quando o ambiente político-eleitoral prevalecerá) é resultado, portanto, de experiência vivida como repórter, redator, editor e tudo que se configura como corrente de produção jornalística.
Acho que tenho algum valor no mercado, especialmente nestes tempos em que há vieses em profusão para proteger agentes que têm muita culpa no cartório de inadimplência administrativa.
As 10 megatarefas que se destrincharão nos próximos tempos mostram bem o quanto temos de prefeitos medíocres, procrastinadores e improdutivos na praça regional.
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